Meu entrevistado de hoje, é um veterano do rock brasileiro, surgido pouco antes da jovem guarda, no início dos anos 1960. Integrante dos grupos The Angels e The Youngsters, quando jovem, sofreu na pele o preconceito por ter optado pela carreira de músico, em tempos que profissões verdadeiras eram apenas aquelas disponíveis em cursos técnicos institucionalizados. Romir de Andrade, era baterista, um garoto cheio de energia, que sonhava com dias melhores, mas que, infelizmente, na fase adulta, teve que se afastar da cena musical, conforme conta em seu livro "Memórias do Baterista Canhoto".
Aqui, com exclusividade, eu peço a ele para esmiuçar sua trajetória, através de perguntas não respondidas na entrevista anterior publicada no meu canal do you tube no ano passado.
Aqui, com exclusividade, eu peço a ele para esmiuçar sua trajetória, através de perguntas não respondidas na entrevista anterior publicada no meu canal do you tube no ano passado.
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O que o rock representa para você?
O que o rock representa para você?
ROMIR DE ANDRADE
É uma das formas musicais a que fui levado a partir
dos bailes de clubes (multi-ritmos e multi-estilos) dos anos 60, e que foi
marcante na minha vida de músico profissional quando participei ativamente dos
shows em boates, clubes, TV, até chegar nas gravações da Banda “The Angels” que abriram caminho em direção à “Jovem Guarda”!
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O que o rock representou
para a história da sociedade, através dos tempos?
ROMIR DE ANDRADE
O rock, assim como outras manifestações artísticas e musicais, representou ao longo do tempo, foi uma reação
da juventude ao “Status Quo” vigente, quebrando regras e mitos, numa alegre
rebeldia - vide as etapas que chegaram até aos Hippies mostradas nos filmes
“Juventude Transviada”, “Ao balanço das horas”, “Hair”!
Quando, onde e como você
ouviu rock and roll pela primeira vez?
ROMIR DE ANDRADE
Foi nos anos 50, no rádio de pilha de meu amigo
(novidade na época), num programa da Rádio Metropolitana, “A Voz da América”
que apresentava o “Hit Parade” e que anunciou um cantor jovem e desconhecido
que chegou às paradas, de repente, com as músicas “Blue Suede Shoes” e “Hound
Dog” - era o Elvis Presley !!!
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Quais foram suas
influências nacionais no que diz respeito a intérpretes e bandas?
ROMIR DE ANDRADE
Como nós, com exceção do GB (nosso guitarrista solo)
que era radicalmente “rockeiro”, fomos originários de bailes multi rítmicos,
recebemos influências do Jazz, Blues, Músicas Latinas, Pops Europeus,
Americanos, e, com não podia deixar de ser, da música brasileira -samba, bossa
nova, ritmos regionais diversos.
Quando chegamos às nossas gravações, o rock, como um ator mascarado, apresentava-se, sob várias denominações tipo “apelidos”, tais como Hully Gully, Twist, Mushed Potatoes, Surf Music - até voltar ao Rock a Billy, e ao Progressivo, ao hard rock, heavy metal, etc). Assim, nossas referências foram as bandas americanas.
No meu caso, comecei como
ritmista tocando bongô, tumbadoras, etc., com base nos músicos latinos, depois,
passando para a bateria onde meus “mentores” foram os bateristas “rebeldes”
que não se limitavam a seguir o ritmo simplesmente como se fossem “metrônomos”.
As intervenções, com as "viradas" nos tambores, baseando-me na dinâmica, na percepção dos "vazios" na trilha sonora, na preparação para entrada de solos com a pausa silenciosa e a acentuação de impacto, no “diálogo” com a voz e com o solista, tudo isso aprendi com mestres como “Gene Krupa”, Art Blakey, Billy Cobham, e os brasileiros, entre eles o Elcio Milito do Tamba Trio (percussionista e baterista) e Doum Romão.
As intervenções, com as "viradas" nos tambores, baseando-me na dinâmica, na percepção dos "vazios" na trilha sonora, na preparação para entrada de solos com a pausa silenciosa e a acentuação de impacto, no “diálogo” com a voz e com o solista, tudo isso aprendi com mestres como “Gene Krupa”, Art Blakey, Billy Cobham, e os brasileiros, entre eles o Elcio Milito do Tamba Trio (percussionista e baterista) e Doum Romão.
Você pode notar a mescla de
influências em nossos arranjos e gravações para a Jovem Guarda com o Roberto
Carlos e outros artistas notáveis contemporâneos.
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Qual foi sua primeira experiência amadora e profissional?
ROMIR DE ANDRADE
De início, foi testando a sonoridade da minha mesa de abrir da escola, que tinha, ao ser percutida, a vibração e o som parecido com um tarol, e, depois, já com um "tamborete de peteca" de couro (precursor do frescobol da praia) que ganhei de um amigo, sentado no meio fio da Rua Maria Quitéria em Ipanema, ensaiando, com o GB ao violão tocando rock.
Com o bongô, acompanhava os discos de música latina, e depois, ainda amador, dava "canjas" nos bailes, em que já tocavam os outros músicos amigos que, mais tarde, formariam comigo o "The Angels". Daí, entrei no conjunto de bailes que, ao se transformar no The Angels, passou a atuar em shows nas domingueiras de twist na Boate Show Bar, em Ipanema, e daí, para o nosso programa na TV Continental "Encontro com os Anjos", e na seqüência, em conseqüência na Tupi - programa Aerton Perlingeiro, na TV Rio - "Hoje é Dia de Rock"; na TV Excesior "A Cidade se Diverte" e, por fim, na TV Globo - "Noites de Gala", com Flávio Cavalcanti.
ROMIR DE ANDRADE
De início, foi testando a sonoridade da minha mesa de abrir da escola, que tinha, ao ser percutida, a vibração e o som parecido com um tarol, e, depois, já com um "tamborete de peteca" de couro (precursor do frescobol da praia) que ganhei de um amigo, sentado no meio fio da Rua Maria Quitéria em Ipanema, ensaiando, com o GB ao violão tocando rock.
Com o bongô, acompanhava os discos de música latina, e depois, ainda amador, dava "canjas" nos bailes, em que já tocavam os outros músicos amigos que, mais tarde, formariam comigo o "The Angels". Daí, entrei no conjunto de bailes que, ao se transformar no The Angels, passou a atuar em shows nas domingueiras de twist na Boate Show Bar, em Ipanema, e daí, para o nosso programa na TV Continental "Encontro com os Anjos", e na seqüência, em conseqüência na Tupi - programa Aerton Perlingeiro, na TV Rio - "Hoje é Dia de Rock"; na TV Excesior "A Cidade se Diverte" e, por fim, na TV Globo - "Noites de Gala", com Flávio Cavalcanti.
Nas gravações, foram:
Os 3 LPs na gravadora Copacabana:
Os 3 LPs na gravadora Copacabana:
“The Angels Hully Gully” /”The Angels
Sete Dias na TV”, “Happy Week End” - temas de
“surf music”.
Na CBS:
Com o Roberto Carlos:
4 músicas no LP “Splish Splash” (“Parei na Contramão”, “Na Lua não Há" , etc.)
e os 3 LPs seguintes “É Proibido Fumar”, “Roberto Canta para a Juventude” e por
fim “Jovem Guarda”.
Com Célia Villela, o LP "F-15 Espacial".
Com Célia Villela, o LP "F-15 Espacial".
Com Wanderlea - "Ternura", "Três Rapazes" e mais outras.
Com Jerry Adriani, algumas faixas do LP "Italianíssimo".
Com Reinaldo Rayol, um compacto.
Com Serguei, "As Alucinações de Serguei".
Com Roberto Livi, um compacto.
Com o Trio Melodia, várias faixas do LP.
Com Os Golden Boys - "Erva Venenosa", "Ai de Mim", "Michel", "Dançando o Surf" e outras.
Como The Youngsters, o LP "Os Fabulosos Youngsters", e compactos como "Walkin'", "Caravan", etc.
Com Roberto Livi, um compacto.
Com o Trio Melodia, várias faixas do LP.
Com Os Golden Boys - "Erva Venenosa", "Ai de Mim", "Michel", "Dançando o Surf" e outras.
Como The Youngsters, o LP "Os Fabulosos Youngsters", e compactos como "Walkin'", "Caravan", etc.
A sua família era
conservadora?
ROMIR DE ANDRADE
Não; meu pai era Arquiteto e adorava música, cantava
bem e me acompanhava, na percussão,
mas festas de família. Meu avô por parte de pai, foi artesão e Saxofonista da
Banda de Estância - Sergipe: “Lira Carlos Gomes”. (Tem uma foto no livro).
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Faça um relato de suas memórias da época. Fale também do contato com seu primeiro
instrumento musical (no caso de cantor, falar do seu progresso vocal, ou do seu
primeiro trabalho em programa de rádio ou gravação de disco, no caso você seja
comunicador ou produtor de discos com bandas). Conte, de forma sintética, como
tudo se desenvolveu... e cite os músicos de cada formação da banda The Angels.
ROMIR ANDRADE
Como eu falei anteriormente, o meu primeiro "instrumento" foi a minha mesa de abrir da escola, depois um "tamborete de peteca" de couro (precursor do frescobol da praia), que ganhei de um amigo, e quando pude comprar o bongô, que me introduziu na percussão (que me foi de muito valor ritmico na fase da bateria.
Por fim, foi a bateria que, por ser canhoto, tinha que tocar os tambores e pratos, ao contrário das outras baterias. Como não havia "Método de Bateria" nem escola de música para canhoto, aprendi alguns rudimentos no "Método de Gene Krupa, e desenvolvi meu próprio método de tocar "de ouvido", no sentimento, percepção e improviso.
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Quais eram suas memórias
em relação aos DJS da época, como por exemplo, Jair de Taumaturgo, Carlos
Imperial, Chacrinha, José Messias, Antônio Aguillar, entre outros?
ROMIR DE ANDRADE
Com
Jair de Taumaturgo tivemos contato intenso pois tocávamos quase toda semana no
Programa de TV Rio -“Hoje é Dia de Rock”. Tocávamos nossas músicas e, a pedido
do Jair, acompanhávamos os cantores que não tinham banda. Foi naquele programa
que conhecemos o Roberto Carlos que nos convidou para gravarmos as faixas
“Parei na Contramão, Na Lua não Há, etc, no LP “Splish Splash”,
e que continuou na parceria dos 3 LPS seguintes com ao arranjos e gravações que
marcaram e “batizaram” a “Jovem Guarda”. (foi de 1962 a 1965) na CBS.
Como registro de outros parceiros, cito o Lafayette
que eu já
conhecia dos “Blue Jeans Rockers” com quem cheguei a fazer um show acompanhando
a Célia Vilela em S. Lourenço, MG, substituindo o baterista deles que não pode
ir.
E, atuando em “off”, nos vocais, os excelentes rapazes
que eram do Golden Boys, de quem fui sempre fã e com quem gravamos!
O
José Messias, tinha um programa da Rádio Guanabara e nos concedeu o título de
sua promoção “Conjunto Favorito da Nova Geração” - está escrito na contracapa
do LP "The Angels “Hully Gully”.
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Quem você considerava seus
colegas de época? Quais suas memórias em relação a eles? Cantores, cantoras,
bandas ou produtores.
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Todos
os que eu citei e com quem gravamos. Um dos que era mais alegre e próximo, era
o Paulo Cesar,
irmão do Renato - “Renato e Seus Blue Caps” - pois, éramos da mesma gravadora
CBS. Quem eu também citei no livro,
por ter admiração, foram os técnicos de gravação
/produtores:
Nazareno
de Brito, Produtor, e Roberto Castro, técnico da Gravadora Copacabana, e,
Evandro Ribeiro, Produtor, e Jairo Pires, Eugênio, técnicos da CBS (o Jairo
Pires é hoje produtor de muitos artistas).
Eles
fizeram milagres nas gravações pois havia um só canal, “Mono”, e todos nós tocávamos
ao mesmo tempo, no estúdio. Se errássemos, voltava toda a gravação. Os efeitos
máximos que havia, era um repasse em “play back” e inserção de um som externo,
na mixagem. No meu livro “Memórias do Baterista Canhoto”, falei sobre o “making of” das
gravações e sobre as carências de instrumentos e estúdios da
época.
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Quando Célia Vilela entrou em cena e conheceu
Carlos Becker? Conte um pouco, se possível, essa história marcada por
influências musicais e memórias afetivas.
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Começou
quando nós a acompanhamos, no seu programa, e chegou ao casamento. Eles tiveram
duas filhas lindas e queridas “sobrinhas” pois sou casado com a Maria
Aparecida, prima do Carlos e Sérgio.
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Célia Villela era uma profunda conhecedora de música, a ponto de ficar claro que
foi a primeira DJ de rock no Brasil com programa de rádio e coluna de discos na
revista Cinelândia. Fale um pouco desta artista que o Brasil a mídia difundiu
tão pouco (apesar da mesma se recusar a dar entrevistas). É uma história que sinto que precisa ser contada algum dia.
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
A
Célia era uma pessoa incrível, ótima cantora, e muito querida de nós..
Ela
foi muito amiga do famoso Neil Sedaka (“Oh Carol”, etc.) que a admirava como cantora.
Tinha um estilo parecido com o da Celly
Campelo.
Foi
muito prestigiada pelo José Messias, Jair de Taumaturgo, etc.
Após
casar-se com o Carlinhos, parou com a carreira.
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O grupo The Angels foi decisivo na modernização do rock via Roberto Carlos e
Célia Vilela. Cite as principais qualidades e defeitos dos artistas que ainda
não eram bem apresentados frente a sua geração.
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Analisando, hoje, como ouvinte, entendo que o diferencial de nossa banda, foi o aprendizado nos bailes da vida - que são fundamentais para a formação geral do músico!
Num
baile, a gente tem que tocar durante 4 a 5 horas, todos os estilos e ritmos,
exigidos pelo publico presente. Assim, tínhamos que navegar em todas as
correntes!
Tivemos
uma formação que passava pelo Jazz, pelo Blues, Rhythm and Blues (raízes do Rock), o Rock and Roll, ritmos
afro-latinos, samba em diversas vertentes, música regional brasileira, músicas
europeias, e a então emergente, bossa nova.
O
Roberto, no início da carreira - vide os estilos do 1º. LPp,
passeava por vários estilos. Mesmo na Jovem Guarda, notamos nas músicas, além
do Rock, influências da música latina, portuguesa, italiana, etc.
E,
nós, por termos formação eclética, poli-rítmica,
transmitimos nossa experiência nos arranjos e gravações com o máximo de atenção
possível.
Exemplos: em “História de um
Homem Mau” temos o rock rural - (vindo do
“farwest”); em “Nasci pra Chorar” o toque do “blues”; em
“Garota do Baile” o “acento” latino; “Coimbra” com reminiscência
portuguesa, etc.
Nossos
contemporâneos no Rio foram “Renato e
Seus Blue Caps”, “Golden Boys”, “Erasmo Carlos”, muito bons que até hoje estão
na estrada, Celia Vilela “Jerry Adriani”, “Wanderleia”, Reynaldo Rayol, Sergei,
Robert Livi, etc.
Lafayette
que tinha experiência de bailes. Depois, vieram
os mais jovens: Brazilian Bitles, os Pops, The Blop, etc.
Em
S. Paulo, havia
“os “The Jordans”
da mesma gravadora Copacabana, “Jet Blacks”, “The Clevers”/ “Incríveis”,
Demetrius, Celly Campelo, Ronnie Cord, Sergio Murilo, etc.
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A
Bossa Nova era um movimento antagônico ao rock and roll?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Não
acho, pois, convivi, nos bailes, com muitos
músicos da bossa nova. Apenas, a meu ver, o que ocorreu é que a formação
da bossa nova, teve origem na mescla do samba com o Jazz, usando harmonias mais
complexas que os 3 acordes básicos do Rock, e, criou-se uma ideia elitizada,
colocando o Rock como um estilo de menor valor harmônico/musical. Mas, como o
Rock nunca morreu, apenas mudou de nome, para disfarçar, e a Bossa Nova em
nada prejudicou o Rock. Era algo semelhante ao “gap” entre a música clássica e
a popular. A Arte permeia de modo equânime todas as camadas da Sociedade - cada
uma tem seu gosto, sua preferência.
Como
gosto não se discute, as vertentes são variáveis e as divergências continuam.
As composições mais elaboradas, com letras e melodias mais refinadas, são
lançadas junto com a músicas minimalistas, tipo “chiclete”. E, cada “tribo”
acata os ídolos que lhe agradam.
E,
o Rock continua vivo - veja o “Rock In Rio”, o “Blues Apaloosa”!
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A
Jovem Guarda era um movimento importante para o rock nacional?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Penso que o Rock é que foi importante para a Jovem Guarda, pois, com as letras tendo a
rebeldia inserida, atraiu os jovens ansioso por novidades.:
Ex.: “...a velocidade que eu vinha não sei; arranquei a toda,
avancei o sinal e parei! Parei
na Contramão! ”.
Pura transgressão (“brake the rules”) própria do Rock.
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Fale
um pouco de sua fase no grupo The Youngsters.
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
“The Youngsters” foi um codinome usado pelo “The Angels” para gravar na CBS,
Os
músicos do The Angels, eram os mesmos da primeira formação do “The Youngsters”:
Carlos Becker - guitarra base, co-arranjador (toda a banda dava “pitacos” nos
arranjos); GB -guitarra solo; Jonas -baixo; Sergio Becker -
Sax;
e eu Romir - bateria/ bongô.
Com
a saída do Carlinhos, entrou o Paim nos teclados; com a saída do GB, entrou o
Luiz na guitarra; com a minha saída no final de 1966,
entrou o Ivan
Conti “Mamão”, na bateria.
A
banda teve que enfrentar dificuldades reais por falta de instrumentos adequados
e recurso nas gravações.
Tivemos
que improvisar muito, simular instrumentos, por exemplo: para gravarmos o LP
“Sete Dias na TV”, na faixa “Hawiaiian
Eye”, como não tínhamos uma “guitarra havaiana”, o GB usou um vidro de remédio
vazio para fazer “slide” na guitarra simulando o som havaiano.
Na
gravação do tema dos “Intocáveis” que originalmente tinha a orquestra do Nelson
Riddle
com suas “feras”, a introdução era feita com os tímpanos! Como não
tínhamos tímpanos, só tínhamos a bateria, afinei dois tambores perto de duas
notas do baixo, e tocamos a introdução em uníssono, simulando os tímpanos.
Quando
iniciamos, ainda não haviam
chegado no Brasil os baixos elétricos. Para um show que fizemos em Campos, R. Janeiro,
o Joninhas colocou cordas de violoncelo num violão acústico com captador de
contato, e fez um “baixolão” que intrigou um rapaz que estava junto ao placo,
e, perguntou ao Joninhas: “Moço, é esse vilão
que “faz vez” de baixo ???
Nota: com o
tempo o braço do violão não suportou a
pressão das cordas e empenou. O Joninhas fez um corpo de
baixo e instalou as cordas de baixo já importadas, e fez um
baixo sem trastes - “fretless”. Isso no anos 60!
A
foto do baixolão está na página 72 do livro - à direita do GB.
Vale a pena
ouvir as gravações de “História de um Homem Mau”. “É Proibido
Fumar” , “O Calhambeque”, e, em “Nasci Pra
Chorar” - os “diálogos” da batera
com a cantor e o sax num blues vigoroso, encorpado
com o vocal de base.
Por outro lado, a levada rítmica de “Quero que vá
tudo pro Inferno”, influenciou os conjuntos de
baile no Rio, que quando tocavam um tema de rock, faziam a
batida clássica e monótona - “tatatum ta tum”...
Você
participou ou não do The Youngsters na primeira gravação de Serguei? Se for
sim, você e a banda ensaiaram antes de gravar com o intérprete ou tudo foi
feito na hora? Ele se encaixava bem ou tinha dificuldades de se adaptar ao
estúdio? Quem eram os técnicos de estúdio que acompanhavam vocês? Havia direção
musical? Quais suas memórias da gravação do compacto “Eu Não Volto Mais” / “As
Alucinações de Serguei”?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Sim,
participei, só sai da banda no final de 1966.
O
Serguei nos encontrava no apartamento dos irmãos Becker, em Copacabana,
onde nós ensaiávamos.
Ele
chegava, agitado, com o olho muito azul, balançando a cabeça (era um cacoete) e
dizia que queria gravar conosco porque tínhamos o nome original de “The Angels”
e ele era amigo da turma do “Hell Angels”.
O
processo da preparação das gravações, era simples.
O
artista apresentava sua música, no violão ou guitarra, dizendo qual a sua
ideia sobre a música. Nós gravávamos a música numa fita, e, partir daí,
discutíamos a parte de cada um no arranjo, e eu ficava com
a definição do ritmo.
E,
no estúdio, finalizávamos os detalhes e ajustes com o artista.
Com
o Roberto, muito antes, em 1963, era também assim: ele levava as músicas que eram em
versão
do inglês, num LP importado,
com as letras e, m português; nas
músicas nacionais, ele as cantava no violão e nós gravávamos num
gravador “de rolo” “Wholensak”
(ainda não havia o K7). Marcávamos a gravação para 15 dias depois, fazíamos os
arranjos e arrematávamos no estúdio da CBS - 4 faixas por noite!
Não
fazíamos ensaios prévios com o Roberto.
Pergunta relacionada ao movimento
Tropicália (ou Tropicalismo). Você acredita que o rock modernizou a MPB,
acrescentando as guitarras elétricas nas canções, que antes era uma atitude
proibida pelos tradicionalistas?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Entendo que toda inovação provoca reações dos
tradicionalistas. Não é fácil aceitar “o novo”
que “quebra regras”! As guitarras na MPB
mudaram o “sotaque”, mas, a alma
roqueira, só foi um pouco assimilada.
A linguagem do Rock é
própria do estilo, seja Rockabilly, Progressivo, Heavy Metal, Trash Metal,
Punk, etc.
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Você acha que o
movimento hippie e a música psicodélica foram importantes para o rock
(nacional)?
ROMIR DE ANDRADE
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O movimento hippie, a meu ver influenciou a banda da
Rita Lee e os Mutantes, e, levou os Novos Baianos a adotarem a vida grupal. Até
certo ponto, o Rock Nacional trilhou um caminho um pouco semelhante: veja as
músicas de protestos políticos, e rebeldia, com como por exemplo em “Hair”!
Mas, também, a poesia adentrou o Rock, como
no “Codinome
Beija Flor”!
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Alguns
ingredientes do rock nacional ajudaram a moldar a MPB experimentalista dos
anos 70?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Acredito que sim, pois, a música é como se fosse uma
ave migratória que pousa em qualquer ponto, vindo de outra paragem e começa seu
canto em meio aos outros.
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Se você teve uma
carreira ou vivenciou os anos 70, qual era sua opinião sobre o movimentos de
bandas do rock progressivo?
ROMIR ANDRADE
Embora tenha parado profissionalmente em 1966, a música me acompanha e eu acompanho a música, pois além de ter música em meu DNA, meus filhos são roqueiros - meu filho Rodrigo Cotia, é músico, luthier, amigo de roqueiros e bandas, adepto do heavy metal. Minha filha, Daniela, gosta de rock mais tranquilo.
Mas, com relação ao Rock Progressivo, penso que foi uma evolução para o rock que ficou inconformado com as formas já vistas e testadas.
Foi semelhante aos movimentos de jazz: jazz atonal, "Thirf Stream", "Free Jazz", etc.
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Na
década de 70, surgiu uma onda onde os produtores de gravadoras desejavam
revitalizar o espaço do pop rock brasileiro comercial, fabricando intérpretes
(muitos “fantasmas”), que apareciam em discos cantando em inglês; Era os casos
de Mark Davis (Fábio Jr.), Morris Albert, Steve McLean, etc... Quais são suas lembranças
desse período, ou seja, você era contra ou favor?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Não
posso ser contra, pois essa prática já era usada
há muito tempo, com nomes de artistas em inglês, para vender discos. “Bob Fleming”, “Cauby Dijon”
e nossos próprios nomes “The Angels” , The
Youngsters” ,The Jordans”, “The Jet Blacks”, etc.
Descreva
os intérpretes e bandas que você considera mais importante na história do rock
(nacional e mundial).
ROMIR ANDRADE
Na parte mundial, destaco Elvis Presley, (seu timbre de voz, a meu ver, só foi aproximado pelo vocalista do "White Snake" - David Coverdale); Bill Haley e seus Cometas, The Shadows, The Ventures, Dick Dale, Deep Purple, Led Zeppelin, Rush, Yes, Pink Floyd, etc.
Dos nacionais: anos 1960, nossos conterrâneos no Rio foram: Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Erasmo Carlos, muito bons e que, até hoje, estão na estrada. Célia Vilela, Jerry Adriani, Wanderlea, Reinaldo Rayol, Serguei, Robert Livi, etc.
Lafayette, que tinha experiência de bailes. Depois, em nossa época, vieram os mais jovens: Brazilian Bitles, The Pop's, The Blop, etc.
Em São Paulo: The Jordans (da mesma gravadora Copacabana), The Jet Black's, The Clevers, Os Incríveis, Demétrius, Celly Campello, Ronnie Cord, Sérgio Murilo, etc.
Após os anos 1960, Cazuza, Os Mutantes, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Raul Seixas, etc.
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Qual foi o fato mais marcante de toda a história do rock nacional? (escolha as
décadas: 50, 60, 70, 80, 90 ou 2000)
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Anos
50: A chegada do filme Rock Around the Clock”, que ,
no Rio, os garotos quebraram todas as cadeiras do cinema Leblon. E, a
apresentação ao vivo do Bill Halley e seus cometas.
Anos
60: penso que a “Jovem Guarda”.
Anos
70: a Tropicália,
Anos
80: Cazuza; Raul Seixas; 1°.
Rock In Rio - em 1985 - incrível!
Anos
90 / 2000: ???
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Quem é o Rei do Rock nacional?
ROMIR DE ANDRADE
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Para
mim, o trono está vago.
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Quem
é a Rainha do Rock Nacional?
ROMIR DE ANDRADE
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Para
mim, o trono está vago.
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Qual
a contribuição da música de Raul Seixas para a história do rock nacional?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Raul
Seixas, foi de fato um músico marcante. Sua performance máxima para mim foi, em
1982 - “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”!
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Até que ponto as drogas
exerceram um influente papel no trabalho musical dos roqueiros?
ROMIR DE ANDRADE
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A
História do Rock foi marcada pelas drogas. Muitos ficaram “pelo
caminho”:
Elvis Presley, Janis Joplin, Jim Morrison, ; outros
escaparam incrivelmente como o guitarrista dos Rollin’ Stone. Pelas mortes nas
estradas e a própria morte da Joplin em cena, penso que parte dessa loucura foi
provocada pelos agentes que marcavam shows em datas próximas umas
das
outras,
levando os artistas à exaustão; e, para aguentarem “o tranco” recorriam às
drogas para seguir em frente. Em consequência, muitos encantaram-se com o
“barato” das drogas que lhes saiu “muito caro”!
A
droga, entre elas o cigarro, são uma fuga para buscar dentro de si, uma força
que já não mais se tem! Às vezes a força não vem, ...mas
vem a morte.
Perdi
um amigo músico de talento para a bebida e as outras drogas. Não cito o nome em
deferência e respeito a ele. Foi triste para seus amigos!!!
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Em termos de
mercado de trabalho (e filosoficamente falando) você considera o mainstream tão
importante quanto o circuito underground?
ROMIR DE ANDRADE
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Hoje em dia, temos que esquecer as gravações de LPs e
CDs
(tenho várias composições arquivadas - algumas penso que são boas - para ver
como fica a mercado). Assim, restam,
os shows e as apresentações em locais que ainda tem música ao vivo - raros
casos!
Nos shows, são poucos os nichos para o rock. A música
sertaneja, o funk, são a “bola da vez”. Ao músico de festa ou em locais de
música ao vivo, o mercado ficou restrito ao “one
man show” - um cantor com um teclado que elimina os demais músicos! O baterista
foi substituído, há muito tempo, pelo “robô japonês” programado no
teclado.
Quanto ao circuito underground, aqui no Rio penso que ficou
muito restrito, ou, eu estou desinformado.
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John Lennon já dizia: “O Sonhou acabou”. Com base
nisso, você acredita numa nova geração de rebeldes ou a humanidade caminha para
a robotização do prazer alheio?
ROMIR DE ANDRADE
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O
aceno com o “Robô Inteligente”, sinaliza um futuro de domínio do pensamento
crítico e de uma hibernação catatônica da sociedade.
A
única esperança é que isso seja algo como a hibernação de um urso, que ao fim
de um rigoroso inverso, volta a despertar.
E,
quem ainda não hibernou. procure agir pro
ativamente.
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O romantismo perdeu sua essência frente a uma geração que não produz mais música para dançar de rosto colado? (Questão voltada ao pop rock e não para a música folclórica ou brega). Por esse motivo não há mais espaço para o romantismo como havia no rock dos anos 50 e 60?
ROMIR DE ANDRADE
O romantismo perdeu sua essência frente a uma geração que não produz mais música para dançar de rosto colado? (Questão voltada ao pop rock e não para a música folclórica ou brega). Por esse motivo não há mais espaço para o romantismo como havia no rock dos anos 50 e 60?
ROMIR DE ANDRADE
Com
fui da geração de dançar de rosto colado, vejo com tristeza, que o afastamento
dos pares nas baladas, é um prenúncio do afastamento posterior na vida.
Uma
música da Doris Day chamava-se “Cheek to Cheek” da chamada “together
dancing”!
O
aconchego dos povos latinos, ficou obliterado, pela moda de não tocar dos
europeus e americanos, que para congratulação, batem as palmas das mãos sem se
aproximarem. E, a introdução dos telefones celulares, afastou, ainda mais, as
pessoas, até mesmo na mesma mesa de bar.
A
música romântica só tocará daqui em diante no consultório do analista
psiquiatra ou na sala de SPA.
Quo
Vadis Mundo ?
EMERSON LINKS
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Essencialmente, o
que difere o rock e o pop feito de norte a sul?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Penso que a música é expressão de um sentimento de
momento. E tanto no norte como no sul, com a comunicação de modas em tempo real,
veremos as
“tribos”
Gostaria de fazer a si
mesmo algum tipo de pergunta não realizada durante a entrevista?
ROMIR DE ANDRADE
ROMIR DE ANDRADE
Sim, duas:
1) Como ser
Resiliente num mundo tão mutante e apartado do Amor ao Próximo?
2) Como não pensei em publicar antes, minha visão sobre
história vivida por nós The Angels/Youngsters na coparticipação ativa na formatação do Som da
Jovem Guarda que pelas notícias “tinha surgido em S. Paulo, no programa Jovem Guarda em 1965“; e, nós,
sabíamos que nasceu com Parei na Contramão em 1963!
Só no aniversário de 50 anos da Jovem Guarda
foi que meu filho me incentivou a
contar a história já que eu tinha vivido com tantos
registros e discos guardados.
O interessante é que nós, “The Angels”/ “The
Youngsters”, ficamos
esquecidos, como se nunca tivéssemos existido. Nunca fomos convidados
a participar de nenhum especial de fim de
ano do Roberto Carlos, nem de nenhum
documentário sobre a Jovem Guarda!
Fiquei surpreso quando no dia
do lançamento do livro no Rio, apareceram amigos e
outros não conhecidos, para
autografar os discos feitos há tanto tempo!
Eles falavam que gostavam muito dos discos e da banda, mas não
sabiam quem éramos nós.
Mais surpreso fiquei, quando
recebi mensagem pelo Facebook do Joe Becerra
Junior de Havana falando sobre várias de nossas
gravações; do Habel Santana do Piaui , revelando que tinha se
encantado pela guitarra ao ouvir nossa gravação de “Walkin’”. E, do Joanatan
Richards de Caruarú, dizer que desde os nove anos já escutava nossas
gravações! Fiquei impressionado, o quanto
nossa música fez bem! Fomos abençoados pela “Deusa Música”! Isso foi o
bastante para mim.
P.S: como na época não havia os
“Direitos Conexos”, nós ficamos sem receber os “royalties” que seriam
cabíveis se tivéssemos gravado atualmente. Seria um valor significativo.
Mas, o importante foi escrevermos uma História Musical !
Muito interessante entrevista. Um rico arquivo. Que possa se perpetuar para se conquistar uma linda historia! Parabéns!
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