ENTREVISTA COM EMERSON DENT
Músico emergente do underground portoalegrense, que dispensa convenções entra em foco. Natural de Alegrete, cidade do interior do Rio Grande do Sul de onde sairam alguns expoentes do rock gaúcho dos anos 1980, Emerson Dent começa a se destacar na cena rock and roll com músicas altamente intimistas. Em seu primeiro álbum solo "Cenas do Próximo Capítulo", produzido pelo renomado e lendário músico e produtor outsider Egisto Dal Santo (Júpiter Maçã, Tequila Baby), Dent destaca-se pela competência e sempre evita cair no caminho comum imposto pelo mercado fonográfico, o de apelar para onda de nostalgia camuflada. Só mesmo lendo suas declarações aqui. o leitor terá uma visão mais cristalina daquilo que vem pela frente.
QUAL FOI O PRIMEIRO ROCK QUE VOCÊ OUVIU? COMO FOI SUA INTRODUÇÃO AO UNIVERSO DA MÚSICA EM GERAL?
EMERSON DENT: Elvis. Poderia contar uma história sobre isso, há um longo tempo atrás numa tarde após um churrasco de domingo na casa de meus avós lá no Alegrete, um tio me mostrou uma caixa com discos de Elvis Presley... Essa é a lembrança mais antiga que tenho de ter ouvido o “primeiro” rock. Um pouco mais tarde uma tia voltando do Rio de Janeiro trouxe na mala um namorado que trouxe consigo um violão e tocava canções de Roberto e Erasmo Carlos isso me fez querer tocar pela primeira vez; Aos 15 anos ganhei uma câmera fotográfica de presente de aniversário...fiz algumas fotos que ficaram horríveis, então, não vendo nenhuma utilidade naquilo, vendi a câmera e comprei uma guitarra e um amplificador....e depois de idas e vindas que a vida nos provoca e brinda, estou fazendo isso até hoje...
EMERSON DENT: Já vinha pensando nisso desde o Cigarro Elétrico, quando gravei a canção e o clip de Cego, que foram feitos ao mesmo tempo a ideia era já ser um trabalho solo, lembro que a ideia de banda rolou quando estávamos saindo da van no dia da ultima gravação e se fez uma reunião meio que sem querer ali, então pensei que poderia ser uma boa ideia e poderia deixar o solo pra mais tarde e foi uma boa ideia, o Cigarro elétrico foi um barato...Solo é uma forma de definir, um padrão ou algo assim... Trabalho com uma banda, é claro, e uma ótima banda....que gosto de chamar de “ O Olho do Furacão”.
O QUE REPRESENTAM PARA VOCÊ OS TEMPOS
EM QUE NÃO EXISTIA PUNK E NEM NEW WAVE? HAVIA APENAS HIPONGAS, ÓRFÃOS DE
WOODDSTOCK E DO ROCK DOS ANOS 1970. ENTÃO, VAMOS LÁ. FALE UM POUCO DESSAS FASES
DO ROCK QUE VOCÊ NÃO FEZ PARTE E QUAIS DELAS GOSTARIA DE TER VIVIDO.
EMERSON DENT: Talvez o punk e o new wave tenham vindo pra adotar essas “crianças”...Como disse comecei ouvindo Elvis e os rocks da jovem guarda, depois vieram o rock brasileiro, os Ramones, os Beatles, Led Zepellin, Os Stones, Bob Dylan, o Velvet Underground..., minha primeira experiência em palcos foi com uma banda Punk chamada vermes do Subúrbio...com a qual tive o prazer de fazer um show com Colarinhos caóticos num festival em Santa Maria (RS); pra mim todas as fase do rock foram importantes e são até hoje, sem preconceitos ou delírios, é preciso manter esse fogo aceso mesmo que com faíscas...eu gostaria de ter vivido todas elas e vivo a que me foi dada a oportunidade intensamente ...sou um apaixonado pelo rock and roll...e espero estar dando minha contribuição para o que já provou ser muito mais do que um simples estilo musical....
QUAL É SUA FILOSOFIA DE VIDA?
EMERSON DENT: Viver e deixar viver!!!! Tem espaço pra todos, desde que a ganância e o egoísmo não sejam colocados na frente do que é mais importante, a música!!!!
SUA FAMÍLIA ERA CONTRA SUA CARREIRA DE MÚSICO?
EMERSON DENT: Da música propriamente dita, acho que não, mas o Rock era uma coisa que assustava por tudo que o cerca e as lendas que vivem na sua história... hoje vejo muita gente botando grana pra ver o filho virar “roqueiro”, tem até concursos pra isso...na real eu nunca me preocupei com o que ou quem era contra o que eu fazia e faço....simplesmente fiz e continuo fazendo até hoje...
COMO FOI A GRAVAÇÃO DO PRIMEIRO DISCO DE SUA CARREIRA? COMO FOI A BATALHA?
EMERSON DENT: Foi uma experiência muito importante na minha vida... Final dos anos noventa, tinha uma banda chamada SUCO MAU, foi uma batalha grande entre os integrantes, uma rapaziada inexperiente... do interior...chegando em Porto Alegre pra gravar um disco, tentar conquistar seu espaço....a qualidade técnica do disco ficou bem ruim, mas uma vez me disse um amigo, a lenda Flávio Chaminé: “Dent, tem conteúdo, não para!” É um disco que penso em regravar um dia....A banda que gravou acabou se desmontando mas eu chamei outros músicos e gravamos o segundo do SUCO MAU, chamado SANGUINEA! Segue o link do youtube do álbum: https://www.youtube.com/watch?v=-nIbT-cMvzQ – essa banda era um trabalho coletivo com vários compositores e até cantores... aprendi muito durante esse tempo sobre compor e como as coisas funcionavam no meio musical.... os próximos trabalhos que fiz em todos eu era o compositor...
O QUE VOCÊ RECOMENDA PARA OS DEMAIS
MÚSICOS QUE ESTÃO BUSCANDO FAMA E SUCESSO AO INVÉS DE SE PREOCUPAR COM O
TRABALHO MUSICAL E OFERECER QUALIDADE?
EMERSON DENT: Exatamente isso, que se preocupem com o trabalho musical, honestidade e a necessidade de fazer algo que sintam. O sucesso é fugaz, a música não... Pelo menos pra mim é o mais importante...é fundamental saber o que quer quando se entra nesse meio, nesse mundo fascinante e cheio de armadilhas!!!
COMO FOI SUA FASE EM QUE DIVIDIU O PALCO COM MÚSICOS MAIS EXPERIENTES? COM QUAL SENTIU MAIS PRAZER DE TOCAR?
EMERSON DENT: Sempre fui muito bem recebido quando isso aconteceu, só tenho a agradecer por isso e a todos que me deram essa oportunidade. Hoje trabalho com grandes músicos, lendas vivas do rock...Na época do Cigarro elétrico tocar com Fabio Ly foi um grande barato, uma experiência única; o considero um dos grandes bateristas do rock brasileiro; Hoje toco com Egisto Dal Santo, que produziu meu disco solo e tocou vários instrumentos no álbum alem de ter duas musicas dele que gravei também, sobre o Egisto a própria história fala melhor que eu e ainda vai falar muito; E depois de tocar com um baterista como Fabio Ly, não podia contar no atual momento com ninguém menos do que o grande Claudio Calcanhoto, que alem de ser o mestre musical que é, devo dizer que traz um certo equilíbrio astral no estúdio; no disco ainda tem o Vini Tonnelo que tocou, mixou e masterizou, a bela voz de Marietti Fialho e a guitarra do Daniel Mossmamm; ou seja é difícil dizer qual me dá mais prazer em tocar....tenho feito algumas canções em parceria com Egisto que estarão no próximo disco...já em fase de preparação....então ele é a pessoa mais próxima e compor juntos nos aproxima bastante...
O PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL POSSUI
UMA TERRÍVEL TRADIÇÃO DE MENOSPREZAR UM TALENTO EMERGENTE NO CAMPO DAS ARTES &
CULTURA E SÓ PASSA A RESPEITAR O MESMO QUANDO ESTE FAZ SUCESSO NO EIXO RIO-SP.
ESSE PROVINCIANISMO OCORRE DEVIDO A FALTA DE GRAVADORAS COM UMA FILOSOFIA DE
PRIMEIRO MUNDO, E PELA FALTA, TAMBÉM, DE UMA CULTURA COSMOPOLITA. SERÁ QUE OS
PRODUTORES E A OPINIÃO PÚBLICA GAÚCHA ADORAM UM PSICODRAMA COLETIVO OU É COISA
DE SADISMO MULTIMÍDIA?
EMERSON DENT: Penso isso como uma falta de respeito ao próximo, ganância e egoísmo... as pessoas se agarram numa fatia do que chamam de bolo e aquilo vira a coisa mais importante da vida....tropeçar, cair e levantar faz parte da coisa, mas é preciso ter coragem pra isso....ha uma espécie até de maldade nisso tudo...eu não tenho nada contra ninguém, mas a palavra provincianismo se encaixa muito bem em muitas situações e pessoas que vivi e “conheci”...mas isso também é do ser humano infelizmente....se adoram um psicodrama coletivo e sadismo multimídia? AMAM! E muitos nem sabem o que isso significa e a merda fedorenta que vem por trás...
MUITOS ARTISTAS TRAUMATIZADOS PELO PRECONCEITO TIVERAM QUE SUBIR PARA O EIXO RIO-SP. IMAGINE ALGUÉM COMO VOCÊ QUE QUERIA TER UMA BANDA DE ROCK. QUAIS FORAM OS RECURSOS QUE VOCÊ USOU PARA SE SOBRESSAIR? POR QUE?
EMERSON DENT: Não sei se me sobressaí ou sobressaio, faço minhas musicas, gravo meus discos,toco por aí onde e quando dá, é tudo tão difícil.... Talento e coragem são recursos fundamentais pra se sobreviver....pra sobressair um “pouco” de grana ajudaria bastante...mas eu não tenho pressa...enquanto puder fazer o que faço do jeito que estou fazendo eu fico feliz....”eu to na estrada há tanto tempo, que até do tempo eu esqueci”....o que tiver que ser será....se nada der certo faço um disco falando sobre isso...
DE QUE MODO VOCÊ ACHA QUE AS DROGAS
EXERCEM UM PAPEL DETERMINANTE NA IMAGEM DO ARTISTA?
EMERSON DENT: Drogas são um barato perigoso... uma montanha russa que pode diminuir a velocidade e te deixar de volta no ponto de partida ou te fazer voar com as asas de Ícaro...e o chão não é tão bonito quando se bate com a cara nele...definitivamente não é uma cama quente e fofa...ou se tem uma casca dura ou é melhor ficar em casa no quarto, na cama...quanto a um papel determinante vai depender muito a relação que se tem com isso ou o efeito que isso vai causar...é uma questão de metabolismo e não é pra qualquer um...
O TERMO “SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL” AINDA SOBREVIVE OU É PURA HIPOCRISIA CRIADA PARA VENDER BONÉS, CAMISETAS, ADESIVOS, CHAVEIROS, ETC?
EMERSON DENT: Sobrevive nos bonés e camisetas... Sobrevive muito bem nos termos “sexo, drogas e pagode”, “sexo, drogas e sertanejo universitário”, “sexo, drogas e cinema”, “sexo drogas e política”, “sexo, drogas e jornalismo”...
Como disse quando me perguntou sobre filosofia de vida: “Vivo e deixo viver”!
QUAIS SÃO OS TEMAS MAIS ABORDADOS EM SEU TRABALHO? DESTAQUE ALGUMAS CANÇÕES.
EMERSON DENT: São canções contando e descontando algumas coisas, histórias... amor e desamor...fatos...na canção “Cego”, que gravei com o cigarro elétrico falo de um cara apavorado que bate com a cabeça na parede.....
“Cenas do próximo capítulo”, a canção, foi inspirada num amigo que tinha perdido a namorada e se sentia muito infeliz....são coisas assim....algumas também são iluminações divinas....
JÁ EXISTIU ALGUM TIPO DE MÚSICA QUE
VOCÊ NUNCA TEVE CORAGEM DE FAZER? POR QUE?
EMERSON DENT: Sim, a que eu não gosto, a que não quero e a que não posso, a que eu não gosto porque eu não quero, a que eu não quero por que não gosto e a que eu não posso, porque não posso....Não sou um instrumentista virtuoso, sou um cara que canta e toca violão, faço canções simples e tento fazer do jeito que sinto...deixo fluir, sair....quase nunca mecho numa canção que fiz, salvo os arranjos que isso já outra coisa...a essência é muito importante pra mim...e tenho uma grande preocupação com as letras....existe uma crise terrível de letras no rock...é todo mundo tocando como Hendrix e escrevendo como o Tiririca; Falta poesia!
A CULTURA ANDA MUITO BANALIZADA, PRINCIPALMENTE NA MÚSICA, NO TEATRO, NO CINEMA E ATÉ NA LITERATURA, OU SEJA, SEM RENOVAÇÃO. VOCÊ ACHA QUE JORNALISTAS IMPOSTORES QUE FAZEM LIVROS APENAS TRANSCREVENDO ENTREVISTAS SEM DESENVOLVER UM CONTEÚDO ANALÍTICO DEVIAM SER LINCHADOS EM PRAÇA PÚBLICA, CASO EXISTISSE UM UNIVERSO ALTERNATIVO PUNITIVO? (A pergunta tem função de análise crítica da mediocridade atual e não propriamente apela para o extremismo)
EMERSON DENT: Não. Julgar, linchar e apedrejar não são coisas bacanas de se fazer, deveriam ser só ignorados. Eu sempre tentei escolher bem o que e quem leio, ouço e vejo;
VOCÊ ACREDITA NO TÃO ACLAMADO “ROCK GAÚCHO”? ACHAS QUE ESSE TERMO É NORMALMENTE USADO PARA INFLAR EGOS SUPERESTIMANDO BANDAS QUE PROPRIAMENTE A DEFINIÇÃO DE UM GÊNERO?
EMERSON DENT: Eu acredito cara, acho bem bacana existir um gênero que mesmo não tendo um diferencial assim que se baste, define um pouco o que se fazia e se faz por aqui, vejo o Rock Gaúcho mais próximo do Rock argentino do que do Rock Brasileiro só isso já me é suficiente pra acreditar e ver essa diferença e algum sentido no “rótulo”.
VOCÊ TEM OU TEVE INIMIGOS? COMO
FUNCIONA SEU PROCESSO DE FILTRAR AS PESSOAS?
EMERSON DENT: Procuro me reservar, não me sinto inimigo de ninguém, me dou o direito de gostar ou não gostar de algumas pessoas ou do que fazem, ao mesmo tempo, que dou esse direito as pessoas de gostarem ou não mim ou do que faço...
QUAIS SÃO SUAS MAIORES AMBIÇÕES COMO MÚSICO?
EMERSON DENT: Compor músicas cada vez melhores, gravar bons discos e fazer muitos shows.
DEIXE AQUI O TIPO DE PERGUNTA QUE FARIA A SI MESMO E QUE NÃO FOI FEITA PELO ENTREVISTADOR.
EMERSON DENT: Porque diabos você ainda não ganhou um Grammy?
Hahahaha Gracias hermano!
Continue fazendo esse bom trabalho que fazes pelo rock, lutando por isso e mostrando o que tem que ser mostrado. Um grande abraço à Bíblia do Rock, a meu xará Emerson links e a todos que lerem essa entrevista!
PARA CONHECER MELHOR EMERSON DENT, ASSISTA OS SEGUINTES VIDEOS NO YOU TUBE:
MATÉRIA SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL.
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