quinta-feira, 31 de julho de 2014

NOVOS TALENTOS


ENTREVISTA COM EMERSON DENT


Músico emergente do underground portoalegrense, que dispensa convenções entra em foco. Natural de Alegrete, cidade do interior do Rio Grande do Sul de onde sairam alguns expoentes do rock gaúcho dos anos 1980, Emerson Dent começa a se destacar na cena rock and roll com músicas altamente intimistas. Em seu primeiro álbum solo "Cenas do Próximo Capítulo", produzido pelo renomado e lendário músico e produtor outsider Egisto Dal Santo (Júpiter Maçã, Tequila Baby), Dent destaca-se pela competência e sempre evita cair no caminho comum imposto pelo mercado fonográfico, o de apelar para onda de nostalgia camuflada. Só mesmo lendo suas declarações aqui. o leitor terá uma visão mais cristalina daquilo que vem pela frente.



QUAL FOI O PRIMEIRO ROCK QUE VOCÊ OUVIU? COMO FOI SUA INTRODUÇÃO AO UNIVERSO DA MÚSICA EM GERAL?

EMERSON DENT: Elvis. Poderia contar uma história sobre isso, há um longo tempo atrás numa tarde após um churrasco de domingo na casa de meus avós lá no Alegrete, um tio me mostrou uma caixa com discos de Elvis Presley... Essa é a lembrança mais antiga que tenho de ter ouvido o “primeiro” rock. Um pouco mais tarde uma tia voltando do Rio de Janeiro trouxe na mala um namorado que trouxe consigo um violão e tocava canções de Roberto e Erasmo Carlos isso me fez querer tocar pela primeira vez; Aos 15 anos ganhei uma câmera fotográfica de presente de aniversário...fiz algumas fotos que ficaram horríveis, então, não vendo nenhuma utilidade naquilo, vendi a câmera e comprei uma guitarra e um amplificador....e depois de idas e vindas que a vida nos provoca e brinda, estou fazendo isso até hoje...


DE QUE MANEIRA VOCÊ RESOLVEU ENCARAR UMA CARREIRA SOLO?

EMERSON DENT: Já vinha pensando nisso desde o Cigarro Elétrico, quando gravei a canção e o clip de Cego, que foram feitos ao mesmo tempo a ideia era já ser um trabalho solo, lembro que a ideia de banda rolou quando estávamos saindo da van no dia da ultima gravação e se fez uma reunião meio que sem querer ali, então pensei que poderia ser uma boa ideia e poderia deixar o solo pra mais tarde e foi uma boa ideia, o Cigarro elétrico foi um barato...Solo é uma forma de definir, um padrão ou algo assim... Trabalho com uma banda, é claro, e uma ótima banda....que gosto de chamar de “ O Olho do Furacão”.



O QUE REPRESENTAM PARA VOCÊ OS TEMPOS EM QUE NÃO EXISTIA PUNK E NEM NEW WAVE? HAVIA APENAS HIPONGAS, ÓRFÃOS DE WOODDSTOCK E DO ROCK DOS ANOS 1970. ENTÃO, VAMOS LÁ. FALE UM POUCO DESSAS FASES DO ROCK QUE VOCÊ NÃO FEZ PARTE E QUAIS DELAS GOSTARIA DE TER VIVIDO.

EMERSON DENT: Talvez o punk e o new wave tenham vindo pra adotar essas “crianças”...Como disse comecei ouvindo Elvis e os rocks da jovem guarda, depois vieram o rock brasileiro, os Ramones, os Beatles, Led Zepellin, Os Stones, Bob Dylan, o Velvet Underground..., minha primeira experiência em palcos foi com uma banda Punk chamada vermes do Subúrbio...com a qual tive o prazer de fazer um show com Colarinhos caóticos num festival em Santa Maria (RS); pra mim todas as fase do rock foram importantes e são até hoje, sem preconceitos ou delírios, é preciso manter esse fogo aceso mesmo que com faíscas...eu gostaria de ter vivido todas elas e vivo a que me foi dada a oportunidade intensamente ...sou um apaixonado pelo rock and roll...e espero estar dando minha contribuição para o que já provou ser muito mais do que um simples estilo musical....

QUAL É SUA FILOSOFIA DE VIDA?

EMERSON DENT: Viver e deixar viver!!!! Tem espaço pra todos, desde que a ganância e o egoísmo não sejam colocados na frente do que é mais importante, a música!!!!

SUA FAMÍLIA ERA CONTRA SUA CARREIRA DE MÚSICO?

EMERSON DENT: Da música propriamente dita, acho que não, mas o Rock era uma coisa que assustava por tudo que o cerca e as lendas que vivem na sua história... hoje vejo muita gente botando grana pra ver o filho virar “roqueiro”, tem até concursos pra isso...na real eu nunca me preocupei com o que ou quem era contra o que eu fazia e faço....simplesmente fiz e continuo fazendo até hoje...

COMO FOI A GRAVAÇÃO DO PRIMEIRO DISCO DE SUA CARREIRA? COMO FOI A BATALHA?

EMERSON DENT: Foi uma experiência muito importante na minha vida... Final dos anos noventa, tinha uma banda chamada SUCO MAU, foi uma batalha grande entre os integrantes, uma rapaziada inexperiente... do interior...chegando em Porto Alegre pra gravar um disco, tentar conquistar seu espaço....a qualidade técnica do disco ficou bem ruim, mas uma vez me disse um amigo, a lenda Flávio Chaminé: “Dent, tem conteúdo, não para!” É um disco que penso em regravar um dia....A banda que gravou acabou se desmontando mas eu chamei outros músicos e gravamos o segundo do SUCO MAU, chamado SANGUINEA! Segue o link do youtube do álbum: https://www.youtube.com/watch?v=-nIbT-cMvzQ – essa banda era um trabalho coletivo com vários compositores e até cantores... aprendi muito durante esse tempo sobre compor e como as coisas funcionavam no meio musical.... os próximos trabalhos que fiz em todos eu era o compositor...




O QUE VOCÊ RECOMENDA PARA OS DEMAIS MÚSICOS QUE ESTÃO BUSCANDO FAMA E SUCESSO AO INVÉS DE SE PREOCUPAR COM O TRABALHO MUSICAL E OFERECER QUALIDADE?

EMERSON DENT: Exatamente isso, que se preocupem com o trabalho musical, honestidade e a necessidade de fazer algo que sintam. O sucesso é fugaz, a música não... Pelo menos pra mim é o mais importante...é fundamental saber o que quer quando se entra nesse meio, nesse mundo fascinante e cheio de armadilhas!!!

COMO FOI SUA FASE EM QUE DIVIDIU O PALCO COM MÚSICOS MAIS EXPERIENTES? COM QUAL SENTIU MAIS PRAZER DE TOCAR?

EMERSON DENT: Sempre fui muito bem recebido quando isso aconteceu, só tenho a agradecer por isso e a todos que me deram essa oportunidade. Hoje trabalho com grandes músicos, lendas vivas do rock...Na época do Cigarro elétrico tocar com Fabio Ly foi um grande barato, uma experiência única; o considero um dos grandes bateristas do rock brasileiro; Hoje toco com Egisto Dal Santo, que produziu meu disco solo e tocou vários instrumentos no álbum alem de ter duas musicas dele que gravei também, sobre o Egisto a própria história fala melhor que eu e ainda vai falar muito; E depois de tocar com um baterista como Fabio Ly, não podia contar no atual momento com ninguém menos do que o grande Claudio Calcanhoto, que alem de ser o mestre musical que é, devo dizer que traz um certo equilíbrio astral no estúdio; no disco ainda tem o  Vini Tonnelo que tocou, mixou e masterizou, a bela voz de Marietti Fialho e a guitarra do Daniel Mossmamm; ou seja  é difícil dizer qual me dá mais prazer em tocar....tenho feito algumas canções em parceria com Egisto que estarão no próximo disco...já em fase de preparação....então ele é a pessoa mais próxima e compor juntos nos aproxima bastante... 



O PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL POSSUI UMA TERRÍVEL TRADIÇÃO DE MENOSPREZAR UM TALENTO EMERGENTE NO CAMPO DAS ARTES & CULTURA E SÓ PASSA A RESPEITAR O MESMO QUANDO ESTE FAZ SUCESSO NO EIXO RIO-SP. ESSE PROVINCIANISMO OCORRE DEVIDO A FALTA DE GRAVADORAS COM UMA FILOSOFIA DE PRIMEIRO MUNDO, E PELA FALTA, TAMBÉM, DE UMA CULTURA COSMOPOLITA. SERÁ QUE OS PRODUTORES E A OPINIÃO PÚBLICA GAÚCHA ADORAM UM PSICODRAMA COLETIVO OU É COISA DE SADISMO MULTIMÍDIA? 

EMERSON DENT: Penso isso como uma falta de respeito ao próximo, ganância e egoísmo... as pessoas se agarram numa fatia do que chamam de bolo e aquilo vira a coisa mais importante da vida....tropeçar, cair e levantar faz parte da coisa, mas é preciso ter coragem pra isso....ha uma espécie até de maldade nisso tudo...eu não tenho nada contra ninguém, mas a palavra provincianismo se encaixa muito bem em muitas situações e pessoas que vivi e “conheci”...mas isso também é do ser humano infelizmente....se adoram um psicodrama coletivo e sadismo multimídia? AMAM! E muitos nem sabem o que isso significa e a merda fedorenta que vem por trás...

MUITOS ARTISTAS TRAUMATIZADOS PELO PRECONCEITO TIVERAM QUE SUBIR PARA O EIXO RIO-SP. IMAGINE ALGUÉM COMO VOCÊ QUE QUERIA TER UMA BANDA DE ROCK. QUAIS FORAM OS RECURSOS QUE VOCÊ USOU PARA SE SOBRESSAIR? POR  QUE?  

EMERSON DENT: Não sei se me sobressaí ou sobressaio, faço minhas musicas, gravo meus discos,toco por aí onde e quando dá, é tudo tão difícil.... Talento e coragem são recursos fundamentais pra se sobreviver....pra sobressair um “pouco” de grana ajudaria bastante...mas eu não tenho pressa...enquanto puder fazer o que faço do jeito que estou fazendo eu fico feliz....”eu to na estrada há tanto tempo, que até do tempo eu esqueci”....o que tiver que ser será....se nada der certo faço um disco falando sobre isso...




DE QUE MODO VOCÊ ACHA QUE AS DROGAS EXERCEM UM PAPEL DETERMINANTE NA IMAGEM DO ARTISTA?

EMERSON DENT: Drogas são um barato perigoso... uma montanha russa que pode diminuir a velocidade e te deixar de volta no ponto de partida ou te fazer voar com as asas de Ícaro...e o chão não é tão bonito quando se bate com a cara nele...definitivamente não é uma cama quente e fofa...ou se tem uma casca dura ou é melhor ficar em casa no quarto, na cama...quanto a um papel determinante vai depender muito a relação que se tem com isso ou o efeito que isso vai causar...é uma questão de metabolismo e não é pra qualquer um...

O TERMO “SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL” AINDA SOBREVIVE OU É PURA HIPOCRISIA CRIADA PARA VENDER BONÉS, CAMISETAS, ADESIVOS, CHAVEIROS, ETC?

EMERSON DENT: Sobrevive nos bonés e camisetas... Sobrevive muito bem nos termos “sexo, drogas e pagode”, “sexo, drogas e sertanejo universitário”, “sexo, drogas e cinema”, “sexo drogas e política”, “sexo, drogas e jornalismo”...

Como disse quando me perguntou sobre filosofia de vida: “Vivo e deixo viver”!

QUAIS SÃO OS TEMAS MAIS ABORDADOS EM SEU TRABALHO? DESTAQUE ALGUMAS CANÇÕES.

EMERSON DENT: São canções contando e descontando algumas coisas, histórias... amor e desamor...fatos...na canção “Cego”, que gravei com o cigarro elétrico falo de um cara apavorado que bate com a cabeça na parede.....

 “Cenas do próximo capítulo”, a canção, foi inspirada num amigo que tinha perdido a namorada e se sentia muito infeliz....são coisas assim....algumas também são iluminações divinas....




JÁ EXISTIU ALGUM TIPO DE MÚSICA QUE VOCÊ NUNCA TEVE CORAGEM DE FAZER? POR QUE?

EMERSON DENT: Sim, a que eu não gosto, a que não quero e a que não posso, a que eu não gosto porque eu não quero, a que eu não quero por que não gosto e a que eu não posso, porque não posso....Não sou um instrumentista virtuoso, sou um cara que canta e toca violão, faço canções simples e tento fazer do jeito que sinto...deixo fluir, sair....quase nunca mecho numa canção que fiz, salvo os arranjos que isso já outra coisa...a essência é muito importante pra mim...e tenho uma grande preocupação com as letras....existe uma crise terrível de letras no rock...é todo mundo tocando como Hendrix e escrevendo como o Tiririca; Falta  poesia!

A CULTURA ANDA MUITO BANALIZADA, PRINCIPALMENTE NA MÚSICA, NO TEATRO, NO CINEMA E ATÉ NA LITERATURA, OU SEJA, SEM RENOVAÇÃO. VOCÊ ACHA QUE JORNALISTAS IMPOSTORES QUE FAZEM LIVROS APENAS TRANSCREVENDO ENTREVISTAS SEM DESENVOLVER UM CONTEÚDO ANALÍTICO DEVIAM SER LINCHADOS EM PRAÇA PÚBLICA, CASO EXISTISSE UM UNIVERSO ALTERNATIVO PUNITIVO? (A pergunta tem função de análise crítica da mediocridade atual e não propriamente apela para o extremismo)

EMERSON DENT: Não. Julgar, linchar e apedrejar não são coisas bacanas de se fazer, deveriam ser só ignorados. Eu sempre tentei escolher bem o que e quem leio, ouço e vejo;

VOCÊ ACREDITA NO TÃO ACLAMADO “ROCK GAÚCHO”? ACHAS QUE ESSE TERMO É  NORMALMENTE USADO PARA INFLAR EGOS SUPERESTIMANDO BANDAS QUE PROPRIAMENTE A DEFINIÇÃO DE UM GÊNERO?

EMERSON DENT: Eu acredito cara, acho bem bacana existir um gênero que mesmo não tendo um diferencial assim que se baste, define um pouco o que se fazia e se faz por aqui, vejo o Rock Gaúcho mais próximo do Rock argentino do que do Rock Brasileiro só isso já me é suficiente pra acreditar e ver essa diferença e algum sentido no “rótulo”.




VOCÊ TEM OU TEVE INIMIGOS? COMO FUNCIONA SEU PROCESSO DE FILTRAR AS PESSOAS?

EMERSON DENT: Procuro me reservar, não me sinto inimigo de ninguém, me dou o direito de gostar ou não gostar de algumas pessoas ou do que fazem, ao mesmo tempo, que dou esse direito as pessoas de gostarem ou não mim ou do que faço...

QUAIS SÃO SUAS MAIORES AMBIÇÕES COMO MÚSICO?

EMERSON DENT: Compor músicas cada vez melhores, gravar bons discos e fazer muitos shows.

DEIXE AQUI O TIPO DE PERGUNTA QUE FARIA A SI MESMO E QUE NÃO FOI FEITA PELO ENTREVISTADOR.

EMERSON DENT:  Porque diabos você ainda não ganhou um Grammy?

Hahahaha Gracias hermano!

Continue fazendo esse bom trabalho que fazes pelo rock, lutando por isso e mostrando o que tem que ser mostrado. Um grande abraço à Bíblia do Rock, a meu xará Emerson links e a todos que lerem essa entrevista!


PARA CONHECER MELHOR EMERSON DENT, ASSISTA OS SEGUINTES VIDEOS NO YOU TUBE:



















MATÉRIA SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

ENTREVISTA COM NOVOS TALENTOS





DIMMY ADRIANO, O FUNDADOR DA BANDA READY TEDS

Egresso do underground paulistano de rockabilly, a banda foi fundada em 31 de agosto de 2002 e desde então nunca parou, realizando shows antológicos, que acima de qualquer coisa, honram a glória dos pioneiros do rock, especialmente os brasileiros. Não é à toa que a Ready Teds, liderado pelo glorioso Dimmy Adriano resiste ao tempo e todas as tendências massificantes da atualidade. Sem o rock clássico, dos primórdios, não existiria nem os Beatles. Bem isso já ouvimos de John Lennon que amava Elvis Presley e que disse que antes do rei do rock "não existia nada". Para Dimmy fazer manutenção do rock brasileiro clássico vai muito além de uma missão estilo Highlander. O repertório da Ready Teds oferece um cardápio musical seleto do melhor dos anos dourados, conforme consta em seu release: Elvis Presley, Roy Orbison, Chuck Berry, além dos nossos velhos grandes nomes, tais como Tony Campello, Carlos Gonzaga, Sérgio Murilo, a banda alcança revitalização do rockabilly mundial liderada décadas atrás pela banda Stray Cats. A paixão pelo nosso velho rock and roll, conseguiu aproximar a banda dos pioneiros Tony Campello e Baby Santiago, que seduzidos pelo exercício de nostalgia renderam-se a gravação de uma canção inedita convenientemente batizada de "Doracy" (tal gravação está disponível no you tube e vem acompanhada de um desenho animado alto astral). Mas não é só isso, não. A banda tal como se observou nesta última frase, possui músicas de autoria própria, composta em períodos diversos. Evidentemente que álbuns independentes foram gravados, sendo que um deles, em formato ao vivo, com o apoio da Kiss FM. Contudo, a Ready Teds merece muito mais e mal pode esperar por uma oportunidade no mainstream (se é que isso ainda hoje importa) ou mesmo em alguma cena indie vitaminada. Pois bem, a banda chamou atenção do autor da BÍBLIA DO ROCK, que aqui vos escreve e que pretende lançar uma coletânea em vinil relacionada ao seu projeto. Mas não vamos estragar a surpresa que vem por aí. É hora de Dimmy Adriano contar sua própria história e de sua banda através desta esclarecedora entrevista. Só para constar, a Ready Teds não fica nada a dever a um João Penca e seus Miquinhos Amestrados ou mesmo ao oitentista Magazine. A Ready Teds é rock and roll puro nos timbres certos. Espero que gostem.

(Emerson Links, cineasta e autor da "BÍBLIA DO ROCK").

      




 1 - O que o rock representa para você?


DIMMY: À principio, agradeço pelo convite dessa entrevista
para o projeto Bíblia do Rock. Bom, o rock na minha visão de um modo geral, representa estilo de vida, comportamento, manifestação cultural e modo de expressão. Eu particularmente adotei a música como profissão através do rock e pra mim o rock vai muito mais além de um estilo musical.

2 - O que o rock representou para a história da sociedade, através dos tempos?

DIMMY : Um lance legal do rock é que ele é muito rico em informações ligadas à cultura, pra entender melhor a trajetória do rock basta traçar um parâmetro separando por décadas. Muitos desses cantores e grupos se tornaram ícones por ditar um novo tipo de comportamento, moda, por criar músicas que se tornaram “hinos” de uma geração, como por exemplo a paz e a  liberdade, ou até mesmo dizer coisas em letras que estavam muito à frente de seu tempo. Diversos acontecimentos importantes sempre tiveram uma trilha sonora que marcou algum momento histórico, como por exemplo, aqui no Brasil, a Jovem Guarda, além de ter sido um programa de TV, com o tempo acabou sendo um movimento histórico, muitas das músicas que eram sucessos das paradas naquela época viraram grandes trilhas sonoras daqueles tempos difíceis da época da Ditadura Militar. Isso é apenas um exemplo daqui. É como o meu amigo Doutor Rock sempre diz “Quem nega o Rock nega os tempos”.

3 - Quando, onde e como você ouviu rock and roll pela primeira vez?

DIMMY : Foi no começo dos anos 80, meu pai tinha em casa uma vitrola portátil Phillips vermelha e eu me lembro que ele passava sempre as tardes de sábado e domingo ouvindo um monte de discos, e um  Lp que ele ouvia bastante nessa época era o  “Um Embalo com Renato e seus Blue Caps”, esse considero um dos primeiros discos que eu ouvi na minha vida. A sonoridade daquele disco me manda de volta aos 5 anos de idade de uma maneira absurda.



4 - Quais foram suas influências nacionais no que diz respeito a intérpretes e bandas?

DIMMY: Influências nacionais tenho várias, como, Tony e Celly Campello pela interpretação deles, Sérgio Murilo tinha um bom repertório, Demétrius, Albert, Carlos Gonzaga e até mesmo a fase inicial do Roberto Carlos até 1966.  Mas no geral, uma das coisas que eu mais gosto dessa época da Pré Jovem Guarda é a qualidade dos músicos que esses artistas gravavam nas grandes gravadoras, como o Astor e Mário Gennari com aqueles acompanhamentos dos grupos vocais e dos conjuntos que gravavam com eles, como The Jordans, The Jet Blacks, The Youngsters, The Rebels, além do estilo de compor as letras que eram de forma simples.

5 - Qual foi sua primeira experiência amadora e profissional, antes de formar a Ready Teds?

DIMMY: Minha primeira experiência amadora foi em 2000 tocando em festas, e profissional foi em 2001, em uma Rádio local em São Caetano do Sul chamada Laser Fm, no programa “Disco de Ouro” tocando ao vivo no estúdio da rádio.



6 - A sua família era conservadora?  Se possível, faça um relato de suas memórias da época, ou seja, sobre o comportamento da juventude de sua geração.

DIMMY: Minha família era conservadora sim. Meu pai era caminhoneiro e viajava muito, minha mãe dona de casa cuidava de mim e dos meus irmãos na infância, eu era de casa pra escola, mas só na fase colegial que comecei a perceber que gostava de música. Ouvia muito rádio, naquela época nos anos 80 ainda existiam programas bons e me divertia muito, então, como eu nunca fui de sair muito, ficava muito em casa e não acompanhei muito a geração daquela época.

7- Você se lembra quando teve contato com seu primeiro instrumento musical? Conte, de forma sintética, como tudo se desenvolveu...

DIMMY: Quando eu tinha uns 15 pra 16 anos, comecei a ter vontade de tocar um instrumento, mas não tive coragem de pedir um para os meus pais, pois tinha medo deles acharem que seria um desperdício aquilo. Foi só quando eu completei 17 anos que eu tive meu primeiro emprego e comprei de uma guitarra de um colega, tocava ela como se fosse um baixo, até que consegui trocar ela por um contrabaixo elétrico, que era o que eu realmente queria, justamente por causa do som mais grave, eu era apaixonado pelo som do baixo que eu ouvia nos discos, então aprendi a tocar sozinho ouvindo discos, fitas, auto - didata mesmo. Passei uns 2 anos ou mais sem ter um amplificador, tocando em casa o baixo totalmente desligado, mas no final das contas isso me fez prestar muita atenção no som das notas.

8 - Como foi o início da Ready Teds e sua amizade com os músicos de outras bandas?

DIMMY: No ano de 2001 eu tocava em uma banda de rockabilly chamada Spulecats e com o fim dessa banda, eu e o baterista Chris que também tocava nessa banda, tivemos vontade de montar um novo trio rockabilly, então decidimos levar essa idéia adiante, até que em Agosto de 2002 a banda estava definitivamente formada. Quanto a minha amizade com os outros músicos, legal, não se pode criar entrigas, pois o mundo dá muitas voltas sempre. Temos que ganhar na humildade e perder de cabeça erguida, afinal, o caminho da ida é o mesmo da volta. Direto acontecem coisas que valem como aprendizado, tanto boas quanto ruins.



Da esquerda para a direita: Dimmy Adriano, Baby Santiago e Dan Rocker.


Dimmy Adriano e o pioneiro do rock Tony Campello, na primeira década do século XXI, mantendo a chama acesa do rock and roll original.

9 - Como surgiu o nome da banda? Qual foi o primeiro local de ensaio? Qual foi o melhor vocalista da banda? Quais as formações mais marcantes? Qual o primeiro show que a banda sentiu que poderia engrenar mesmo na cena musical?

DIMMY: No ano de 2001 pra 2002, época em que eu coloquei um anúncio no jornal procurando um guitarrista/vocalista, já pensava em criar um nome original para a nova banda, coisa que eu achei que seria fácil, mas não era. Até que um dia sem querer eu estava ouvindo em casa um Lp do Elvis Presley e começa a tocar a música “Ready Teddy”. À princípio o que me chamou à atenção foi a energia da música, mas na hora que eu bati o olho no título da música na capa do disco me veio a idéia de fazer um trocadilho com o nome “Teddy” para “Teds”, formando Ready Teds.
O local do primeiro ensaio foi no quarto da casa do baterista Chris, em um sábado, dia 31 de Agosto de 2002. Quanto ao vocalista, o que marcou mais foi o Nill, pelo fato de ser o da formação original, compomos bastante, gravamos, tocamos muito os 7 primeiros anos da banda juntos, etc. Agente estava tão entrosado musicalmente que é até difícil lembrar o show que engrenaria a banda, mas não demorou muito pra alguém perceber isso na época, pois arranjamos um empresário rapidinho. Cada vocalista tem o seu estilo, tanto o Nill quanto o Dan, não vejo como o melhor e o pior, até porque os dois funcionaram na visão do público.

10 - Como você e seus músicos trabalharam na gravação do primeiro disco de carreira da banda?

DIMMY: No ano de 2003, estava-mos decididos à dar inicio as nossas primeiras composições e então compomos as que são as 2 primeiras músicas da banda, que são “Going to the Party” e “Gene Vincent no Walkman”. Chegamos a tocar elas bastante nos shows sem mesmo gravá-la, como mostra no Cd “Brilhantina Show”.

11- Cite o primeiro programa de TV e também de rádio que projetou a Ready Teds para a mídia?

DIMMY: Programa de TV foi a MTV, no programa Covernation do Marcos Mion, à convite do Edson Galhardi, que faz um belo trabalho de cover de Elvis Presley. No rádio tivemos uma oportunidade de tocar ao vivo para o programa “Brilhantina Show” na rádio Kiss FM, apresentado pelo Fernando Barreto, em 2004.

12 - Há um pacote de músicas que a banda gosta de tocar mais que alguma outra escolhida por conveniência para ser divulgada como música de trabalho nas rádios e na internet?

DIMMY: Em se tratando de divulgação, sempre tem aquelas que são mais usadas como músicas de trabalho, no caso das de nossa autoria. Que foram Gene Vincent no Walkman, Going to the Party e O Velho da Estrada, que eram da primeira fase da banda. Mas é sempre bom divulgar trabalho recente.

13 - O que a jovem guarda representou para a sua banda?

DIMMY: Na verdade, pela proposta da banda, a Jovem Guarda quase nada, mas a Pré Jovem Guarda sim, bastante. A Ready Teds desde o começo teve várias músicas no repertório da fase da Pré Jovem Guarda, que de fato acabaram influenciando bastante nas composições. Mas eu particularmente sou muito fã e gosto muito da época da Jovem Guarda até 1970.

Uma das grandes influências do rock brasileiro da Ready Teds.


14 - Qual a receptividade para atual geração para uma banda de rockabilly? O som de vocês vai muito além do circuito do gênero?

DIMMY: O público tem crescido bastante e não para de aumentar o interesse por rockabilly aqui no Brasil, até porque o estilo retrô está super em alta e isso é um belo de um atrativo para despertar o interesse no rock antigo. A Ready Teds na verdade nunca fez aquele “rockabilly” autêntico, até mesmo porque não queremos se limitar. Na verdade uma banda com três músicos cada um tem em comum o gosto pelo rockabilly, mas também temos nossas diferenças musicais, mas isso não “atinge” a proposta da banda não. Gosto muito de outras coisas também como rock inglês dos anos 60 e Jazz dos anos 40/50/60, big bands. Mas quando fazemos shows grandes por aí tocamos algumas coisas de anos 60 que ficam até que dentro da nossa proposta, mas também não tocamos rock pesado para não distorcer o estilo. E o mais importante é ver o público contente, coisa que sempre acontece.

15 - O surgimento da onda infernal de pagode, funk e sertanejo atrapalha a trajetória da Ready Teds ou isso não fez diferença? Sabe-se que o que ocorreu mesmo foi o desinteresse de alguns clubes por causa dessa praga que atingiu consequentemente a cena indie. Segundo o relato de outras bandas houve diminuição no circuito e os proprietários de clube e radialistas deixaram de lado artistas e bandas da cena indie. O que realmente aconteceu?

DIMMY : Essa coisa que toca movido à jabá e que estraga os auto falantes do povo brasileiro, simplesmente pra nós da banda é como se nem existisse, bom, pelo menos pra mim. Às vezes acontece de fazer um show em uma cidade e bem no mesmo dia está tendo um show na mesma cidade com um desses cantores da atualidade. Uma coisa que é fato, muitos donos de casas de shows preferem contratar um DJ e um louco que canta por cima do playback, desses aí que lotam a casa e deixa de contratar uma banda completa. Isso eu já vi muito.




A formação mais recente: Dan Rocker (guitarra e vocal), Dimmy Adriano (baixo acústico e elétrico) e  Chris Billy (bateria).


16 - As drogas exercem algum tipo de papel para a imagem do artista ou músico?

DIMMY: Esse é um problema seríssimo . As drogas infelizmente é a praga do milênio e infelizmente muita gente associa à diversão, comemoração e até mesmo ao rock. Mas a grande realidade é que qualquer um está sujeito à ter que lidar com esse problema, mesmo que não use, sempre vai ter um próximo que vai estar envolvido, um parente, um vizinho, um conhecido, e isso e vai lhe causar uma certa preocupação. É uma pena mesmo. Eu graças à Deus não preciso disso e sou muito feliz assim.

17- Como a banda desenvolve o processo de composição e nome das músicas?

DIMMY: No começo da Ready Teds, eu e o Nill escrevemos bastante, eu escrevia em inglês e o Nill em português. Os temas sempre presentes nas músicas são festas, carros, garotas e loucos. Com o passar dos anos deixei de compor em inglês, cá entre nós, é um pé no saco pra rimar aquela encrenca lá, é uma briga. Mas agora só escrevo em português, até porque tenho muita facilidade em fazer letras assim. Já cheguei à vender composições e compor uma música inteira em menos de 20 minutos, em português é lógico. O nome das músicas eu deixo pra colocar por último.

18 - Conte como foi a gravação de uma música nova com a participação dos ídolos pioneiros do rock brasileiro, Tony Campello e Baby Santiago, tempos atrás.

DIMMY: Foi muito legal realizar um trabalho com a presença dessas feras. O Tony é uma figura incrível, como pessoa e como músico, tem umas idéias bem bacanas de produção e arranjos. Uma das faixas mais interessantes que gravamos se chama “Doraci”, uma música inédita composta por Baby Santiago, que sempre foi uma grande referência com suas composições. Foi um imenso prazer para nós gravar uma música inédita, feita naquela época e que ficou guardada à décadas, bem nos tempos em que eram o auge deles.






19 - Dos pioneiros do rock brasileiro que ainda sobrevivem, quais nomes ainda gostaria de realizar algum tipo de gravação para um CD?

DIMMY: Bom, se eu listar nomes, posso cometer alguma injustiça, mas posso dizer que eu sou muito grato à eles, em especial aos da fase da Pré Jovem Guarda, que fizeram um ótimo trabalho lá atrás e abriram o caminho do rock para muitos passarem. Tem muita gente grande que passou por esse caminho que nem lembra de homenageá-los, um bando de mal agradecidos. Mas por enquanto eu queria deixar o meu obrigado à cada um deles e parabenizá-los também, pois naquela época deveria ser bem difícil, não tinha a mordomia de hoje. E é claro que eu queria gravar com todos eles.

20 - Quem é o Rei do Rock brasileiro?

DIMMY: Essa pergunta é bem difícil, mas considerando uma das primeiras premiações do gênero, eu voto no Sergio Murillo.

21 - Quem é a Rainha do Rock brasileiro?

DIMMY: Considerando uma das primeiras premiações do gênero, eu voto na Celly Campello.

22 - Quais foram as melhores bandas da história do rock brasileiro, em sua opinião? Por que?

DIMMY: No rock brasileiro tiveram várias, uma melhor que a outra, mas posso citar algumas, como : Os Incríveis pela qualidade musical dos componentes, Renato e seus Blue Caps, por ter irmãos talentosos, Os Mutantes que são sensacionais e por aí vai, Casa das Máquinas, tem muitas.  

23 - Conte aos leitores do blog como está saindo sua nova gravação com músicos da The Sparks e The Jet Black’s?
 
DIMMY: Super legal. Eu viajo nos arranjos do Emilio Russo. Eu não sei de onde ele tira tanta idéia. O repertório por enquanto não posso listar, mas posso adiantar que a maioria das faixas tiveram uma transformação especial no arranjo e ganharam uma assinatura bem característica do Emílio Russo.

Gravando com as feras do The Sparks e The Jet Black's. Na foto, Edison Della Monica e Emilio Russo.

24 - Do seu ponto de vista, qual a diferença entre o pop rock que se faz de norte a sul, atualmente?

DIMMY: Resumidamente, ao meu ponto de vista, estamos sofrendo uma espécie de “fim do mundo” musical, ou seja, estamos passando por uma retrospectiva. Tudo que criar com um arranjozinho meio retrô, acaba virando Pop, principalmente se cair na mídia grande, como por exemplo : Skank, Cachorro Grande, Vanguart, Los Hermanos, ou seja, são influências passadas com roupagens modernas e que caem no gosto popular.

25 - Deixe sua mensagem aqui para os músicos que estão iniciando carreira hoje. Você sabia que no Rio Grande do Sul ainda existiram bandas que se inspiraram no som do rockabilly e rock dos primórdios? No melhor estilo de Celly Campello, Demétrius, Tony Campello, Ronnie Cord, Albert Pavão, Eduardo Araújo, The Jordans, The Jet Black’s, The Rebels, entre outros. Dos nomes das novas gerações surgiram ao longo das décadas, estão bandas como Os Rebeldes, Barba Ruiva e Os Corsários, Acústicos e Valvulados (rockabilly só na sua fase inicial com CD gravado pela Paradoxx em São Paulo), entre outras. Em carreira solo, ninguém chegou mais perto da jovem guarda que Frank Jorge. Entre os veteranos dos veteranos do rock and roll dos primórdios está o músico gaúcho Mutuca, com CD de clássicos, lançado pelo selo Barulhinho. Ele também abriu o show de Jerry Lee Lewis. Voltando ao ponto de partida. Deixe sua mensagem aqui para as bandas que estão começando hoje, querendo trabalhar com o rock dos primórdios, algo cada vez mais anos-luz distante. O que fazer para sobreviver num mercado tão cruel como mercado brasileiro?

DIMMY: Minha mensagem aos músicos que estão iniciando é a seguinte : Não fiquem só em covers, assim só vai encher o bolso dos donos de bares e não vai pra frente. Vamos continuar escrevendo a história do rock. Vamos compor, vamos criar, vamos gravar, fazer acontecer de verdade, cover é só pra relembrar, o que vai valer mesmo futuramente como referência são as composições próprias, é o que vai ficar. E o principal : não desistam jamais. Para sobreviver nesse mercado da música, acredito que os shows são as melhores opções, pois gravadoras não são mais um bom negócio. Tem que investir na divulgação e inovar sempre, ser original. Que legal que bandas da nova geração estão seguindo essa linha. Espero ver muito trabalho dessa turma disponível. Parabéns.




26 - Faça a si mesmo algum tipo de pergunta, que gostaria que o entrevistador, Emerson Links, autor da BÍBLIA DO ROCK, fizesse a você.

Quais os planos e metas para os próximos anos ? 


DIMMY: Só Deus sabe.







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