domingo, 8 de novembro de 2020

VANUSA FLERTOU COM ROCK, MAS SERÁ ETERNAMENTE LEMBRADA COMO CANTORA POPULAR

Lançada como ícone juvenil surgido na segunda metade da década de 1960, Vanusa marcou presença nos últimos suspiros da jovem guarda, mas consagrou-se como estrela do pop dos anos 1970, ocupando diversos recantos das paradas de sucesso no Brasil, de norte a sul.
Não importando cor ou credo, o destino é sempre o mesmo em quase todos os casos de astros e estrelas que fizeram a história. Existe o caminho que os leva ao apogeu e, consequentemente, a queda. O que varia sempre, obviamente, é o nível emocional da personalidade de cada artista. Uns sobrevivem monetariamente e outros emocionalmente (ou ambos), porém, com o avançar do tempo, com a mudança de hábitos e costumes de cada geração, traz a triste constação de que nada culturalmente é eterno (pelo menos, no mainstream). Quis o destino (ou livre arbitrio) que Vanusa Santos Flores, nascida em 22 de setembro de 1947, na cidade de Cruzeiro, Estado de SP, fizesse parte deste grupo tão seletos de artistas populares que deixaram sua marca no século XX. Não muito diferente de outras cantoras que eu entrevistei, Vanusa curtiu o rock de seu tempo porque era uma onda e não porque abraçaria alguma causa. Ela foi criada nas cidades de Uberaba e Frutal e lá o que chegava de música jovem era o básico e vinha através de programas de rádio. Não existia internet e aparelhos avançados como os de hoje para alguém ficar por dentro de todos os lançamentos. Por vias naturais, ela conheceu o rock and roll ouvindo Bill Haley e seus Cometas, Elvis Presley e gente do pop branco Pat Boone, Frankie Avalon, Paul Anka, Neil Sedaka & Cia (como sabemos agora, depois da última revisão histórica, nomes que foram vendidos no Brasil como "rock" mas eram apenas, na verdade, artistas populares juvenis). Antes de alguém me contestar indico assistir o segundo episódio da série "Rock and Roll History", lançado pela Warner Home Video, em 1996. (...) Mas muitos estudiosos, hoje em dia, separam os ídolos pop dos verdadeiros pioneiros do rock and roll. Em solo brasileiro, a Revista do Rádio e Radiolândia vendiam Paul Anka e Neil Sedaka como grandes promessas, mas, de concreto, o único nome mais citado com frequência, Elvis Presley, é que realmente era do gênero "rock" (pelo menos, durante os anos 1950). Não havia imprensa especializada e nem crítica essencialmente cultural. Pior... Boa parte das revistas eram sobre fofocas de famosos. Em tal panorama, Vanusa viveu parte de sua infância, como uma ingênua espectadora da "grande máquina".
Na virada dos 50' para 60', Vanusa experimentou a adolescência e, como todo mundo, ficou impressionada com o som dos Beatles. No Brasil, nomes da primeira geração do rock brasileiro, tais como Celly Campello, Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, George Freedman, Ronnie Cord, entre outros, deram lugar a uma segunda lactação que trouxe o gênero que ficaria conhecido como jovem guarda (inicialmente era chamado de iê-iê), lançando incontáveis nomes em escala superior, como por exemplo, Renato e seus Blue Caps (apesar de ter iniciado em 1959), Os Golden Boys, Os Incríveis, Brazilian Bittles, The Fevers, Deny & Dino, Leno e Lillian e, obviamente, os aclamados Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Eduardo Araújo, etc. O programa jovem guarda lançado em agosto de 1965 mudou a história do rock ou da música jovem no Brasil (como queiram!), outros programas de TV vieram e tiveram êxito enquanto o público e os patrocinadores se mantiveram fiéis. Neste meio tempo, Vanusa, entao com 16 anos, vocalista do grupo Golden Lions, queria seu lugar ao sol. E conseguiu!!! Por detalhes, que ainda não posso mencionar (aguardem o livro A BÍBLIA DO ROCK), a bela loura (segundo a mídia impressa da época) foi resgatada por Sidney Carvalho, da agência de propaganda Prosperi, Magaldi & Maia, que ofereceu estrutura necessária para um principio de carreira imune às armadilhas dos cabotinos de plantão da época. Em 1966, no auge da jovem guarda, Vanusa ganhou visibilidade no programa O Bom, comandado por Eduardo Araújo, na finada TV Excelsior de São Paulo. Inevitalmente ela se tornaria um "produto", na mão de produtores que visavam alimentar o consumo das massas. Em tempos que a música jovem era moda toda a adolescente queria ser como ela. Além de virar posters em revistas, participar de fotonovelas e até álbum de figurinhas, conseguiu o que mais importava, ou seja, a gravação do primeiro disco.
Em 1967, Vanusa, contratada pela RCA Victor, gravou o compacto "Pra Nunca Mais Chorar" / "Geghege". A primeira faixa virou um sucesso romântico e a segunda foi o que mais estava próximo do rock, em tempos que o ritmo apresentado na parte instrumental nem era mais tocado fora do Brasil. Apesar disso, Vanusa fez sucesso, sim, criando sua marca pessoal, sem se importar se o twist que gravou era anacrônico ou não. Enquanto isso, Estados Unidos e Europa já estavam em outra. The Beatles, mais maduros, lançavam o revolucionário "Seargent Pepper's" e a maioria das bandas e demais intérpretes se dividiam entram o soul, o fusion, o blues, o folk e pop psicodélico. Quando o mestre guitar Jimi Hendrix entrou em cena, tudo que havia sido lançado antes ficou com cara de ultrapassado. Lembando que, os primeiros a (quase) pedirem o chapéu foram as bandas estilo Invasion British, enquanto que, no Brasil, o grupo Renato e seus Blue Caps (segundo o depoimento de Renato Barros), por pouco não perdeu o controle criativo. Para Vanusa nada importava, agora, nos últimos suspiros da jovem guarda, tratava-se da nova estrela do pop romântico, com o primeiro long-play lançado em 1968. .
Mais que grande cantora e também boa atriz (opinião expressada pelo jornalista Arthur Xexéo), Vanusa era um "personagem" que sugeria várias vias, mas sempre com ressalvas. Rapidamente convertida ao mundo dos "adultos", apesar de ter flertado com a psicodelia em "Atômico Platônico" (e o assunto desta revista eletrônica é rock), Vanusa entrou para o sistema (ou sempre esteve nele?) ao gravar o tema de abertura do Fantástico, revista semanal da TV Globo, que fez sucesso nacional. Mas, em termos de qualidade, gravou a inesquecível canção "As Manhãs de Setembro", lançada em 1974, desta vez pela gravadora Continental. Mas não era rock and roll. Se existe mais uma consideração, aqui, sobre o tema, cabe lembrar do episódio sobre o suposto caso de plágio que envolveu a Black Sabbath em 1973. Nesta época, Vanusa gravou "What To Do". Apesar da polêmica que não saiu da própria praia, a banda foi poupada de qualquer processo judicial.
Pois bem. Eu teria muito a falar sobre Vanusa, mas este espaço não é reservado para discutir questões íntimas relativas aos artistas. Isso eu deixo para as revistas de fofocas e canais do you tube sensacionalistas. Fora o já mencionado no primeiro páragrafo, posso adiantar que cheguei a participar, inclusive, de um bate-papo com Vanusa na minha linha de tempo de um dos perfis na rede social facebook, anos atrás. Fiquei abismado com a forma que ela se apresentou no fórum sem se preocupar com a exposição e a parte verbal. E como disse, não importa o que foi dito e sim a forma de ela (a artista) se apresentar ao público. Mas, neste universo on line, cada um escolhe aquilo que deseja deixar registrado para a posteridade. Eu, no lugar dela, escolheria diferente. Mas, enfim... o assunto, aqui, volto a repetir, é rock, portanto dou por concluído este artigo. Não estou a fim de abordar os escândalos protagonizados pela cantora. E tenho a certeza de que amigos e músicos entraram aqui para opinar ou acrescentar algo. (ou não). Tanto faz... Eu só queria desabafar... e lembrar de quem merece ser lembrado.
Vanusa, em sua trajetória pessoal, teve duas pessoas importantes, as quais acabou assumindo compromisso matrimonial: a primeira foi com o cantor Antônio Marcos (personalidade bastante controversa porém talentosa que esteve entre nós) e a segunda com o ator e diretor Augusto Cesar Vanucci (aliás, protagonista dos primeiros filmes de rock no Brasil, do período do Clube do Rock, non Rio de Janeiro, nos anos 1950 e 1960). Nos últimos anos, padeceu de muitos males, passando por várias internações hospitalares, sendo que, numa destas, descobriu que tinha uma síndrome demencial, muito parecida com o Mal de Alzheimer. Além de a depressão ter contribuído muito para seu declínio estético, o que resultou num arranhão de sua imagem como artista, trouxe limitações quando o assunto era performance de palco. Devorada pela própria ânsia de buscar um autocontrole, Vanusa nos deixou na madrugada de 8 de novembro de 2020. Penosamente, por livre arbítrio, Vanusa encerrou seu cliclo vital justamente na queda e no auge, como a maioria das grandes estrelas da nossa história.
Manhãs de Setembro (1974)
Visual andrógino que lembra o David Bowie nos anos 1970.
TEXTO: Emerson Links.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

KIM KEHL - OS KURANDEIROS E O LANÇAMENTO DO CLIP OFICIAL DO SEGUNDO SINGLE DO ÁLBUM DE 2020 PRODUZIDO DURANTE A PANDEMIA DA COVID 19

Músico de longa data, o guitarrista, cantor, compositor e produtor, presenteia seu público ao colocar na "roda" mais uma pérola do rock brasileiro.
ASSISTA O CLIP "Só o Terror", da banda Os Kurandeiros, no canal no you tube, de Emerson Links:

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

MINHAS ÚLTIMAS HORAS DE GRAVAÇÃO COM CARLINHOS, O "EX" DO RENATO E SEUS BLUE CAPS

Membro original da banda de maior longevidade do rock brasileiro preparava, sob minha supervisão, um livro-testamento, deixa nosso plano subitamente, amargurado e esquecido pela mídia.
Durante a pandemia, horas e horas gravando depoimentos com Carlinhos, o "ex" membro original do Renato e seus Blue Caps. O outro lado da história. PUBLICAÇÃO PREVISTA PARA BREVE.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

PRINI LOREZ É OUTRO PIONEIRO DO ROCK QUE PARTIU HOJE

Cantor afinadíssimo e sintonizado com o público de sua época, ficará marcado para sempre como o cover de Trini Lopez e não como o artista pioneiro da jovem guarda. Texto: Emerson Links.
A mídia esqueceu-o completamente. Até o horário de postagem desta matéria não vi nenhuma publicação nos grandes veículos digitais (ou não), muito menos nos blogs dito saudosistas. Fiquei sabendo da morte do cantor através de um dos meus peris da rede social facebook, lendo uma postagem-tributo do músico Mauricio Camargo Britto, que além de ser autor de um dos melhores livros sobre a carreira de Elvis Presley, acompanhou Prini Lorez em algumas apresentações musicais em eventos variados. A última vez que conversei com Prini foi em 2015, quando eu estava em SP, hospedado na residência da amiga e atriz, Silvana Farina (que trabalhou no longa "O Diário de Um Exorcista"), retomando as gravações com alguns pioneiros do início do rock and roll (pendentes). Eu, neste dia, final de tarde, estava prestes a me encontrar com Miguel Vaccaro Netto (na residência deste), exatamente às 19 hs (o comunicador era metódico e cronometrava o tempo para sempre encaixar compromissos). Mas lembro que, em tal data, numa ligação telefônica (via telefone celular) foi ele (Prini) que levantou meu astral dizendo que eu poderia falar com ele a qualquer hora, perguntando qualquer coisa, que estava realmente disposto a trazer novas informações paraa BÍBLIA DO ROCK. Eu tinha contato com ele desde 2003, quando me aliei a um estúdio de gravação para produzir um revival de rock and roll. Entre algumas regravações com pitadas de ineditismo sugeri "My Bonnie", versão gravada pelos Beatles. Prini detestou a sugestão imaginando que essa música fosse na versão infantil gravada pela cantora Regina Cordovil. Lógico que bastou ele ouvir a releitura dos Beatles para mudar de ideia (nos anos 1960 ele gravou uma clássica do quarteto, "I Want to Hold Your Hand" e a cover "Twist and Shout"). Infelizmente, entre idas e vindas, gravações de shows e depoimentos com artistas e bandas de diversas épocas distintas, o projeto com Prini Lorez foi ficando em segundo, terceiro e até quarto plano (sem previsão de retomada). Obviamente que assumo toda a culpa e sofro pela minha própria negligência. Mas fiz aquilo que estava ao meu alcance, pois, no Brasil, pouco produtores independentes possuem interesse em resgatar a nossa memória discográfica. Em tempo: Prini Lorez gravaria acompanhado da banda gaúcha Barba Ruiva e Os Corsários.Em compensação, gravamos com Ed Wilson e demais nomes do rock, mas isso é outra história. José Galiardi Jr., nasceu em 8 de maio de 1942, em São Paulo. Aos 17 anos, influenciado pela nascente cultura do rock and roll, mergulhou no gênero, até então, visto como definidor da essência juvenil. Não demorou para ele integrar os grupos The Avalons (ver ilustração abaixo) e The Rebels, que gravaram compactos pelo Selo Young (do já mencionado Miguel Vaccaro Neto), porém, sua carreira solo se desenvoveria brevemente como Gally Junior ("Baby", confira a gravação no final desta matéria) e posteriormente na pele de Prini Lorez (identificado por parte do público leigo como cover de Trini Lopez). Apesar da comparação inevitável, o rótulo parecia não incomodar o cantor e compositor que ganharia muito dinheiro na década de 1960, principalmente graças ao apogeu da jovem guarda. Décadas depois, no documentário "A História Secreta do Pop Brasileiro", de André Barcinski e sob a direção musical de Helio Costa Manso, Prini receberia elogios do próprio Trini Lopez, em depoimento gravado nos EUA (este, por sua vez, apesar de grande intérprete, foi o principal caroneiro de "La Bamba", sucesso de Ritchie Vallens em 1958).Detalhe:Trini Lopez morreu em agosto passado no dia 11, em Palms Springs, California. O fato inquietante é que a maioria das gravações de Prini Lorez eram versões de hit internacionais, mas acusavam vida própria ou, na pior da hipóteses, confundiam o grande público com o intérprete desbravador da canção lançada em determinado período. Lamenta-se que inexistam registro audiovisuais das performances de Prini em programas de TV, durante a década de 1960, onde gozava dos benefícios da juventude. Por ironia do destino, um dos seus principais caça-talentos ainda está vivo, o quase imortal Antônio Aguillar e do sobrevivente Luiz Aguiar. Entretanto, Lorez chegou a participar de algumas entrevistas no programa de Miguel Vaccaro Neto, produzido de forma independente e, consequentemente, postado no you tube, a fim de manter uma ponte com os seguidores nostálgicos. Miguel Vaccaro Neto, por infelicidade, faleceu nesta mesma semana terça-feira, dia 22 de semtembro, sem causa da morte divulgada, aos 87 anos de idade, em São Paulo. Pior faleceu sem ser noticiado pela emissora que o apoiou em início de carreira, a TV Record. Coisas de Brasil. Nos tempos atuais é caminho comum ser esquecido pela mídia, mas pior que ser pouco lembrado (apenas por alguns e poucos veículos independentes) é ser engolido por uma avalanche de notícias que se misturam umas a outras, em sua maioria, nas plataformas digitais.
Havia muito que fazer ainda, porém, ninguém seria capaz de imaginar uma tragedia em curso. Hoje mesmo, perdemos outro nome que iniciou no rock, Gérson King Combo, que imitava Little Richard, nos programas de Jair de Taumaurgo, mas que logo desenvolveu sua identidade musical tornando-se o Rei da Black Music Brasileira, a partir de 1972. Nos anos 1970, Prini Lorez reduziu seu campo de atuação, retornando em 1995 na edição comemorativa dos 30 Anos de Jovem Guarda, um empreendimento do Márcio, dos Vips, reunindo um grande elenco musical com regravações de clássicos em vários Cds. Enfim, Prini partiu desta dimensão, nesta quarta-feira, dia 23 de setembro, aos 78 anos de idade, após duas paradas cardíacas, segundo o citado Mauricio Camargo Britto. Tal acontecimento ainda carece de outras fontes e esperamos que logo tenhamos maiores informações. Enfim, vivemos um triste crepúsculo de uma geração que inaugurou o purismo juvenil e a rebeldia de natureza emocional. ... E as pedras continuarão rolando... até o último apagar a luz, certo?
Na foto acima (da esquerda para a direita): Antonio Aguillar, Prini Lorez e Nenê (Os Incríveis). PARA VOCÊ SABER MAIS, ASSISTA:

domingo, 2 de agosto de 2020

SÉRGIO MURILO, O PRIMEIRO REI DO ROCK BRASILEIRO E SEUS 28 ANOS DE AUSÊNCIA

  Seria redundante afirmar que vivemos num país sem memória porque, afinal de contas, isso é dito diariamente, sempre que um aficionado por música ou cinema se recorda de algum artista preferido – mesmo que o "tal", muitas vezes, nem tenha sido tão popular assim, conforme as exigências dos "faraós da indústria do entretenimento". Caso o foco, aqui, não fosse simplesmente o cantor que antecedeu Roberto Carlos no rock brasileiro, possivelmente o leitor, leigo em história do rock, jamais daria a menor importância às linhas seguintes. Agora... se você for admirador do aclamado "Rei" vai se surpreender, presumo. Vamos lá...
  Antes de seu surgimento, Sérgio Murilo, em termos de posicionamento "performer" estava há mil anos luz a frente de um Luan Santana (ou qualquer Michel Teló) de hoje. Mil anos porque foi um dos primeiros cantores de rock no Brasil que a juventude se identificou e abriu as portas para que todos os nomes da jovem guarda fossem protagonistas deste movimento, ou seja, sem o seu sucesso e de outros colegas da mesma geração, como Celly Campello, Carlos Gonzaga, Tony Campello, Wilson Miranda, Ronnie Cord, George Freedman, Eduardo Araújo, possivelmente as rádios e as gravadoras jamais teriam investido na então chamada “música jovem”.

  Como qualquer colecionador de discos ou historiador está careca de saber, “Betinho e seu Conjunto” foi a primeira banda de rock a gravar uma composição original, “Enrolando o Rock”, em 1957, quase que simultaneamente Cauby Peixoto gravou sua original, mas era visível que nenhum deles tinha a idade biológica necessária para chamar atenção dos adolescentes que buscavam um ídolo que pudessem se espelhar. Betinho ingressava na meia idade já acumulando 40 anos de praia, enquanto Cauby rumava aos 30. Com toda originalidade que eles tinham faltava levar aos palcos um artista que estivesse saindo ou entrando na puberdade. Acontece que nesse período ainda não existia no Brasil uma música própria para os jovens. Com o início do rock, a garotada descobriu Bill Haley e seus Cometas, Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard e assim por diante. Contudo, nenhum deles era brasileiro. Havia uma necessidade de o público juvenil assistir nos palcos alguém que compreendesse  seu comportamento. As gravadoras contratavam cantores de outros gêneros para  regravar discos de rock de sucessos que frequentavam as paradas americanas. Um deles, Carlos Gonzaga, pós graduado em boleros e guarânias, tinha uma excelente voz, mas também já era um trintão. Mesmo assim, “Diana”, versão de um sucesso de Paul Anka, vendeu um milhão de cópias em 1958. Gonzaga, nessa época, escondia a idade e passou por ídolo jovem tornando-se assim uma grande sensação do rock tupiniquim. Boa parte de seus sucessos eram versões do hit parade americano.  Nesse meio tempo, Tony Campello, nascido em São Paulo, mas que tinha vivido sua infância em Taubaté, quis tentar a vida na metrópole. Em 1958, após se experimentar como crooner de um conjunto de rock no interior, o Ritmos OK e posteriormente no Mário Genari e seu Conjunto, fechou contrato para gravar um compacto de 78 rotações pela Odeon.  Estavam previstas duas músicas uma de cada lado. Tony gravou “Forgive Me” (o lado B do disco) e sua irmã Celly, substituindo Celeste Novaes, assumiu os vocais de “Handsome Boy”  (o lado A). Duas canções originais brasileiras, mas vertidas para o inglês para chamar a atenção da juventude brasileira alienada deste período.  Tal compacto não vendeu o esperado, mas finalmente Tony e Celly Campello eram os artistas que as gravadoras sonhavam.  Eram jovens cantando para jovens. Exatamente nesse mesmo ano, no Rio de Janeiro, Sérgio Murilo, o ex-calouro de programas de auditório como “Os Curumins” e “Trem da Alegria”, ambos da Rádio Tamoio, foi descoberto pelo cinema. Ele queria muito gravar um disco de rock and roll pelo menos, mas, em 1958, passou num teste nos estúdios da Herbert Richers para interpretar um dos personagens coadjuvantes do filme “Alegria de Viver”, com John Herbert e Eliana no elenco. Reza a lenda que foi Sérgio Murilo quem ensinou Eliana a dar seus primeiros passos de dança de rock and roll. O filme tratava do tema como o pano de fundo de uma chanchada que trazia um casal central típico da época, John Herbert e Eliana. Durante o desenrolar da história, Sérgio interpretou o irmão da vilã (interpretada por Yoná Magalhães), que fazia o tipo juventude transviada. Aliás, “Alegria de Viver”, mostrou a primeira rivalidade do samba X rock. Só por isso o filme vale como documento histórico. E só depois de Sérgio Murilo figurar em outro longa-metragem, “A Grande Vedete”, com Dercy Gonçalves, obteve sua primeira oportunidade numa gravadora, a Columbia.
Sérgio muy guri e sua querida mãe, Dona Zazá, ainda nos anos 1950.
Numa sequência do filme "ALEGRIA DE VIVER" (1958)

Sérgio Murilo, então com 17 anos, e Celly Campello, a primeira rainha do rock.

Capa do álbum histórico de Sérgio Murilo, lançado em 1960.
Sérgio Murilo e Ronnie Cord, outro grande ídolo da juventude na época.

  De beleza angelical e uma voz puramente "teenager soft", Sérgio Murilo foi descoberto pelo compositor Edson Borges em 1959, no programa de Paulo Gracindo, que o fez gravar uma toada de sua autoria em parceria com Enrico Simonetti chamada “Mudou Muito”. De Borges, o cantor também gravou “Menino Triste”, um samba-canção muito down. O importante nisso tudo é que um empresário de shows logo surgiu para capitalizar todo material gravado em disco levando o garoto para os palcos dos teatros e clubes. Sérgio Murilo era tudo o que os produtores das gravadoras sonhavam, quando o assunto era faturar alto em cima da "juventude". Se Celly Campello era a grande porta-voz feminina do rock brasileiro, Sérgio logo se tornaria o mais querido entre os "brotos" (gíria usada para classificar os jovens desta época). Apesar do excelente vocal de Tony Campello, a sorte sorriu mais para Murilo, que não demorou a ver seu rosto estampado em todas as revistas de música da época. Se ele não fazia o tipo Elvis Presley rebelde de  “Jailhouse Rock”, compensava com a elasticidade melódica que embutia em cada canção que assumia o comando, sempre com o acompanhamento de Lyrio Panicalli e Orquestra. Não por acaso, ele gravaria uma versão “Only the Lonely”, de Roy Orbison, rebatizada de “Abandonado”. Antes disso, porém, Murilo entrou nas paradas de sucesso de 1959 com “Marcianita”, versão de Fernando César para um hit dos compositores Marconi e Alderete. Num futuro distante, outros nomes do rock e da MPB regravariam esse sucesso de Sérgio Murilo, como Raul Seixas, Caetano Veloso, Bobby Di Carlo e Léo Jaime.

  Outro filme que contou com a participação especial de Sérgio Murilo, onde ele canta "Rock de Morte" para o desespero dos pais, segundo os relatos da época. Uma película sob a direção de Carlos Hugo Christensen.

  Em 1960, com o sucesso estrondoso de “Broto Legal”, Sérgio Murilo era um perfeccionista, odiava errar e sempre gravava com sutileza qualquer canção já no primeiro take. Essa época não era como hoje que você pode gravar um disco em casa usando diversos canais e com chance de repetir e corrigir voz no momento adequado, cortando as partes menos apropriadas. No início dos anos 1960 isso era algo inviável. Outra coisa curiosa é que Sérgio se preocupava com um detalhe que nem mesmo a maioria dos artistas de hoje consideram um fator de extrema importância: "o cantar sem sotaque". Carioca da gema, Murilo exercitava para extrair o chiado toda vez que cantava alguma coisa no plural ou quando necessitava usar o “r”. Incrivelmente ele fazia tudo no tempo certo e com dicção impecável. Era quase um ator cantando e se continuasse no cinema receberia imensos elogios da crítica. Mesmo com o elenco completo, Carlos Augusto Hugo Christensen não hesitou escalá-lo para uma participação musical no longa-metragem “Matemática Zero Amor Dez”, onde canta “Rock de Morte”, e também no esquecido “Esse Rio que Eu Amo”. Depois de vários sucessos inesquecíveis como “Tu Serás”, “Quando Ela Sai” e “Domingo de Sol”, etc, dividiu o mesmo palco dos programas de rádio com transmissão ao vivo, como de Jair de Taumaturgo, com nomes quentes cena carioca da época como Sônia Delfino, Eduardo Araújo, Célia Vilela, Cleide Alves, Reinaldo Rayol, Ed Wislon. Erasmo Carlos, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, entre outros. Atualmente recluso e anônimo, Laerte Deves, um amigo da época, também cantor, relembra o início de carreira de Sérgio Murilo:
“Comecei em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, cantando na Rádio Farroupilha. Quando cheguei ao Rio a convite de Alcides Gerardi, conheci o Sérginho nos corredores da Rádio Nacional . Ele me viu e prontamente me levou para morar em sua casa. Ganhei o apelido de Rouxinol, por ter voz aveludada. Sérgio era mais rock. Nas apresentações do Sérgio, enquanto ele cantava, eu e dona Zazá, sua mãe, entregávamos suas fotos para a plateia. Juntamos um fã-clube jamais visto para um cantor. Sérgio foi glorificado pelos fãs”. (...).
  Depois de ter sido eleito o Rei do Rock no Brasil em 1962, numa eleição popular organizada pela Revista do Rock, Murilo fez carreira no Peru onde obteve um prêmio como “o artista estrangeiro mais popular” e o “Microfone de Praia”. Durante sua ausência, Roberto Carlos, que havia se decepcionado com sua carreira de cantor de bossa nova, ocupou a vaga deixada por Sérgio Murilo na cena jovem. Segundo o D. J. José Messias, que deu entrevista para o longa-metragem “ A Bíblia do Rock” (meu filme ainda em curso), Roberto Carlos ainda não tinha a consciência de que o rock brasileiro necessitava de um artista completo, ou seja, um ídolo que fosse capaz de cantar, tocar um instrumento próprio e compor músicas originais. Fortemente influenciado por Messias, Carlos Imperial e Chacrinha e contando com a parceria de um grande compositor conhecido como Erasmo Carlos, o brasa descobriu um tremendo atalho para o sucesso. A gravadora que contratou Roberto Carlos, a Columbia (futura CBS), queria mesmo se livrar de Sérgio Murilo, por este se tratar de um artista de "futuro incerto". Todo mundo sabia que o rapaz estava interessado em outra profissão, tanto que acabou cursando Direito na Faculdade Cândido Mendes. Ainda assim, fechou contrato com a RCA para gravar um novo álbum, “SM 1964”, que segundo ele próprio trouxe o primeiro rock pesado brasileiro, “Lúcifer”, que, na verdade, não passava de um rockabilly mais acelerado, de autoria de Baby Santiago (cantor e compositor, outro entrevistado meu). Surfando nas mesmas águas, o disco ainda trazia “Festa do Surf”, que acabou se tornando uma tentativa folclórica de alcançar a surf music dos Beach Boys. E, por assim dizer, considerando que neste momento, no Brasil, Elvis Presley começava a ser substituído pelos Beatles e outras bandas da Invasion British e destavando o fato de  praticamente ninguém conhecia a banda americana de Brian Wilson.

  Édson Wander, Sérgio Murilo e Tony Carvalho.

  Pouco antes de ter seu programa de TV, Jovem Guarda, exibido com sucesso no país inteiro em 1965, pela Record, Roberto Carlos já havia eclipsado Sérgio Murilo em todos os programas de rádio, apresentando um sucesso atrás do outro: “Splish Splash”, “Parei na Contramão” e “É Proibido Fumar”. Para completar o pacote, “Festa de Arromba”, interpretada por Erasmo Carlos, comunicava a formação de um "clube fechado de artistas e bandas da jovem guarda". E por que Clube fechado? Porque esse clube trazia Tony Campello, que mesmo pertencendo a turma do rock dos anos 50, foi citado na música, enquanto que Murilo, colega de mesma época que Campello, foi completamente ignorado. É de conhecimento público que, no auge da jovem guarda, Tony chegou a se apresentar em alguns programas de TV do Rei Roberto, e, até mesmo, George Freedman, também ídolo do final dos anos 50 e início dos 60, mas que teve sua carreira ressuscitada sem maiores obstáculos. Aliás, muita gente conseguia, exceto Sérgio Murilo que parecia constar numa espécie de "lista negra". Notem que Celly Campello, depois de regravar um compacto em 1968, reapareceu nos programas de TV sem qualquer retaliação por parte da turma da jovem guarda. Ela, tão bela (aos padrões da cartilha da época) e de voz tão marcante (elogiada, inclusive, por Tom Jobim) e que muitos fãs acreditavam ser a real autora de “Banho de Lua” e “Estúpido Cupido”, só não ficou permanentemente no estrelato porque não quis. Celly tinha abandonado a carreira de cantora em 1962 para se casar com Eduardo Chacon, um contador da Petrobrás (fato que se repetiu com a pioneira Célia Vilella). E essas são histórias que se repetiram em vários casos, uma constante no segmento emocional dos anos 1960.
  Roberto Carlos, em sua fase "cabeluda", foi uma grande pedra no sapato de Sérgio Murilo.

  Nos bastidores muitos questionam o fato de Murilo ter trocado uma vida matrimonial tranquila, seja em que esfera fosse, para se manter no estrelato. É fato que muitos ícones não assumem compromisso porque o matrimônio rouba o tempo de trabalho e o status de solteiro sempre fora mais atraente aos olhos fãs e da mídia (algo bem oposto aos tempos atuais). Entretanto, vasculhar a vida íntima de um ídolo não faz parte do meu trabalho e se fosse assim eu deveria gostar menos David Bowie. A trajetória artística e os desafios são bem mais atraentes que qualquer fofoca estilo Revista Caras. Evidentemente que atendendo a pedidos informo que Sérgio Murilo nunca se casou, mas segundo Serguei, durante um "acidente afetivo de estrada", o cantor carioca teria deixado um filho em Lima, no Peru, sem nunca ter reconhecido a paternidade do mesmo. Claro que isso em nada diminui o campo de atuação de Sergio, que passou a se dedicar somente a carreira de advogado, mas que, no desenrolar da década de 1960, nunca deixou de gravar anualmente um compacto simples ou duplo com novas canções.  Foram muitos sucessos e grande assédio do público para quem sempre representou o mais genuíno teenager. A beatlemania pode ter atrapalhado um pouco, seguida dos Rolling Stones, porém Sergio tinha seu público fiel. Na segunda metade dos anos 1960 já havia lançado discos de qualidade, à margem de toda efervescência jovemguardista: “O Dragão”, “O Pequeno Gastronauta”, “Playboy”, “A Tramontana”, entre outras. Amigo íntimo de outro cantor de rock que andava na contramão dos ídolos do iê-iê, Serguei, passou a usar trajes com cores cada vez mais berrantes, que iam de encontro com a ordem roqueira estabelecida em países de Primeiro Mundo.

  Além de ganhar a vida como advogado inclinou-se para as Artes Plásticas, viajou pelo mundo e voltou a ser o foco das atenções graças ao sucesso da trilha sonora nacional da novela “Estúpido Cupido”, lançada em um álbum pela gravadora Som Livre em 1976. Sérgio Murilo aproveitou o que pôde nesta época em que o revival estava em alta, a ponto de ir se apresentar no Programa de TV Globo de Ouro - porque “Broto Legal” havia regressado às paradas de sucesso, após 16 anos de seca, desde seu lançamento musical. Nos anos de chumbo, Sérgio Murilo estava quase vivendo como um anônimo, somente os fãs mais ardorosos de sua época eram capazes de reconhecê-lo nas ruas. Entre seus fãs mais ilustres estava ninguém menos que Raul Seixas (que odiava quando algum músico setentista criticasse a pureza do rock dos primórdios). O próprio Sérgio Murilo fez questão de retribuir a gentileza do então famoso admirador e regravou “Eu Sou a Mosca que Posou em Sua Sopa”, porém, no estilo discotheque, durante sua estada no Peru em 1978. Cada vez mais mergulhado nas artes plásticas, Sérgio Murilo passou em branco nos anos 1980. Sem nenhum disco lançado desabafou a um repórter que estava realizando uma reportagem para uma revista semanal que o Rock in Rio 1985 sequer cogitou seu nome para uma das noites de nomes do rock brasileiro.  Situação típica de um país subdesenvolvido e sem memória cultural.

  O último grande herói: Cícero Pestana, o Doutor Silvana, da emblemática banda de pop rock dos anos 1980, produziu o último disco de Sérgio Murilo.

  Quando muitos imaginavam que Sérgio teria abandonado a carreira, Dr. Silvana, um guerreiro do rock Brasil anos 80, decidiu socorrer o intérprete de “Broto Legal”, produzindo o último álbum de carreira, “Tira-Teima”, lançado em 1989. De longe, o melhor trabalho de sua fase pós-rock and roll, apresentando Sérgio Murilo a uma nova geração. Infelizmente tal geração, que se encontrava mergulhada na alienação, preferia ouvir bandas estrangeiras que jamais acrescentariam culturalmente seus currículos, derrubando assim todos os valores conquistados pelos pioneiros do Rock Brasil. Um momento não muito diferente de hoje, onde existem raros artistas e bandas de alto nível cultural que conhecem a história de seu próprio país. Talvez até por desgosto, Sérgio Murilo contraiu um câncer que, diagnosticado tardiamente, contribuiu para o seu falecimento em 19 de fevereiro de 1992. Pode até soar piegas bater nesse ponto, mas quantos políticos medíocres já alcançaram nome de ruas e avenidas e muitos escritores, atores e músicos de valor sequer constam hoje em rodapés de jornais e revistas sobre celebridades. É um autêntica inversão de valores. Para um país onde quase 90% da população mal sabe cantar o próprio hino nacional, esquecer artistas como Sérgio Murilo e outros nomes de outros segmentos, de igual ou maior valor, nada mais é irrelevante que favorecer a presença constante de uma constelação de astros e estrelas descartáveis, que algum dia sequer estudou música. Culpa, também, desta "banda podre" de produtores semianalfabetos que assumiram o poder e tornaram a música brasileira repetitiva e sem inovação.
  Além de resgates fonográficos esporádicos como as coletâneas lançadas pelo cantor Albert Pavão e pela finada Bruno Discos, ainda durante os anos 1990, uma rapaziada na faixa dos 20 aos 40 anos tem contribuído para a ampliação do circuito de vários clubes de rock paulistanos que celebram a nostalgia. Se o entretenimento desses jovens era (e ainda o é) ouvir o som do velho rock and roll isso significa que, além da resistência do bordão “saudade não tem idade”, estamos vivendo um dos piores períodos de crise de criatividade musical.
  Nem tudo está perdido. Apesar do apocalipse instaurado pela pandemia, teremos novidades em breve. Estou preparando uma grande bomba (como se dizia antigamente) que vai agradar a todos os fãs do velho rock and roll e aos fãs de Sérgio Murilo. E ficam aqui os meus agradecimentos a incansável Angelica Lerner e a todos os grandes nomes de uma geração mil anos distante da minha que colaboraram para o grande projeto em curso. Quem sobreviver verá.


Texto: Emerson Links.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

RÁDIO TÁXI, A BANDA, ENFIM, LANÇA O CLIP DO DIA 31 DE JULHO



FORMAÇÃO ATUAL DA BANDA RÁDIO TÁXI FAZ UMA RELEITURA DE UMA CANÇÃO DE ROBERTO CARLOS E ERASMO.


ASSISTA NO CANAL DO YOU TUBE DO AUTOR DA "BÍBLIA DO ROCK", EMERSON LINKS, A REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE COMO OS MÚSICOS TIVERAM A INICIATIVA DE INVESTIR EM UMA PÉROLA MUSICAL POUCO CONHECIDA PELAS MASSAS. CLIQUE NA IMAGEM ACIMA QUE VAI ABRIR UMA NOVA JANELA E ASSISTA A HISTÓRIA DA GRAVAÇÃO.


CONFIRA A MATÉRIA PUBLICADA NO DIA 26 DE JULHO NESTE BLOG: 


terça-feira, 28 de julho de 2020

MORRE RENATO BARROS, DO RENATO E SEUS BLUE CAPS



  Lamento informar, contrariando nossas expectativas que o famoso guitarrista do grupo pioneiro do rock brasileiro e da jovem guarda, Renato Barros, de 76 anos, não resistiu e veio a falecer no Hospital de Clinicas de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, após complicações (pulmonares) pós cirúrgicas, segundo informa sua esposa Lúcia Helena. Durante o desfecho da cirurgia, o músico já havia apresentado problemas e chegou a ficar por meia hora sem as funções vitais. O corpo muito debilitado e dependendo de condições de saúde melhores não encontrou tempo suficiente para novos níveis de cuidados médicos.
  É fato que tive algumas trocas de mensagens com Paulo César, irmão de Renato, e Maritza Fabiani, mas, por razões de foro íntimo, prefiro mantê-las em OFF, até segunda ordem. Uma das razões principais era dar continuidade as relações em nível de divulgação no plano artístico dentro do projeto A BÍBLIA DO ROCK. Preferi não saciar a curiosidade dos seguidores da obra em curso. Afinal de contas, este é um momento de respeitar a individualidade de cada um, tratando-se de um episódio inesperado e indesejável.
  Maiores detalhes na matéria anterior publicada no dia 18 de julho e na sequência, aqui, onde maiores detalhes serão descritos em tempo real.


Renato e seus Blue Caps no ápice da carreira, nos anos 1960.


LINK DA MATÉRIA ANTERIOR SOBRE O ESTADO DE SAÚDE DE RENATO BARROS.

https://bbliadorock.blogspot.com/2020/07/renato-barros-do-renato-e-seus-blue.html?fbclid=IwAR0CRbX2e3kpKlAyN620QW57ghFJon7tjPn0zzAWnXSUSyZu5OHYxmkLTDs

POR GENTILEZA, VOLTE MAIS TARDE PARA CONFERIR ATUALIZAÇÕES DE TEXTO.  

domingo, 26 de julho de 2020

BREVE HISTÓRIA DA BANDA RÁDIO TAXI E O CLIP DO DIA 31 DE JULHO

  Texto: EMERSON LINKS.
  Uma das bandas que antecipou a retomada comercial do rock brasileiro trazia em sua gênese músicos consagrados do rock setentista, como o baixista Lee Marcucci (Tutti Frutti, que iniciou como banda de apoio de Rita Lee), o baterista Gel Fernandes (Ex-Memphis e ex-Sobrinhos da Rainha, que tocou nos Incríveis, com Rita Lee e Roberto de Carvalho e também com uma breve passagem acompanhando o Secos e Molhados), o cantor e guitarrista Wander Taffo (ex-Memphis, que teve passagem por bandas como Made in Brazil, Secos e Molhados, Joelho de Porco, Gang 90 & Absurdettes e que também tocou com Guilherme Arantes, Rita Lee & Roberto de Carvalho, entre outros) e Willie de Oliveira, igualmente cantor, assim como Wander, além de compositor, saxofonista e violinista (ex-Tutti Frutti).
  Desde a jovem guarda não se via mais a juventude estouradaça. O rock dos anos 1970 representava uma evolução de qualidade musical, porém não tinha grandes empreendedores a disposição. Havia algumas revistas especializadas e alguns programas de TV e rádio, mas nada se comparava a primeira explosão do rock da década de 1960. Para se ter uma ideia quase todos os ídolos da juventude tinham seus programas de TV personalizados, tais como Roberto Carlos, Erasmo & Wanderlea, Eduardo Araújo (O Bom), Os Incríveis, Ronnie Von, Jerry Adriani, entre outros. Já na década seguinte isso não se repetiu. Bandas representativas da nova geração tais como Made in Brazil, O Terço, Casa das Máquinas, Tutti Frutti, A Bolha, Veludo, Bixo da Seda, etc, não tiveram o mesmo leque de opções em nível empresarial. Os festivais eram uma grande vitrine, mas atingiam apenas o público de rock, diferentemente do que acontecera com a jovem guarda. Pra piorar, a partir de 1977, com o surgimento da Discotheque, uma crise tomou conta do segmento musical. Era mais lucrativo para um gerente de clube contratar um Disc-Jóquei para colocar música mecânica em uma festa temática que chamar uma banda com vários músicos tendo que arcar com transporte, alimentação e hospedagem. Assim, sendo, levou um tempo para a onda da Discotheque ser levada pelo mar e deixar vago o espaço para uma nova geração de roqueiros. Até a própria Rita Lee teve que cair no "pop rock", que tinha uma pegada "dançante" e que, de tal forma, garantiu a sua sobrevivência. 
  Como qualquer aficcionado sabe, antes da Blitz estourar em 1982, com o hit "Você Soube Me Amar", bandas como Gang 90 & Absurdettes (esta liderada pelo poeta e multimídia Julio Barroso) já tinham pavimentado o caminho que muitos passariam a rigor. Entre os nomes, que realmente edificaram tal pavimentação, constava a Rádio Táxi, formada pelos músicos citados no primeiro paragrafo deste texto.  A banda, apesar de ser adepta do velho rock and roll, esteticamente assumiu um tom new wave (basta analisar os figurinos e os cortes de cabelo da época), letras românticas, arranjos descontraídos (na maioria das gravações) e uma postura pop urbana. E essa era a tendência do espírito juvenil de 1981, período em que a MPB perdia seu maior nome feminino (Elis Regina), período que o rock and roll continuava na sua segunda ressaca (os ícones dos anos 1970 não conseguiam se reinventar, vide Raul Seixas), enfim, um período ainda cercado censura e repressão em todos os níveis no campo cultural. As novelas de TV que eram uma forma de entretenimento escapista serviram de veículo de divulgação das músicas das bandas que surgiam, antes dos créditos finais de cada capítulo de novela da TV Globo ou da Band. Diariamente, sem nunca falhar, tocava um som em cima das cenas dos próximos capítulos. Parecia um novo formato de apresentar um hit parade. Mesmo que isso já acontecesse desde os anos 1970, finalmente, o novo pop rock conseguia ampliar seu espaço. Numa brecha e outra, a banda Rádio Táxi foi "entrando de mansinho" e, em questão de semanas, alcançou o sucesso.
  O primeiro arrasa-quarteirão foi, sem dúvida, "Garota Dourada", canção incluída no primeiro disco da banda (lançado pela gravadora CBS) e, também, na trilha sonora do filme "Menino do Rio" (1982), dirigido por Antônio Calmon, que caiu no gosto da juventude da época. No enredo do filme, o ator André de Biase encarnava um surfista zen que pegava ondas nas praias do Rio de Janeiro e que acabava se apaixonando pela namorada de seu pai (vivida pela atriz Claudia Magno) depois de fazer amizade com um músico introvertido (representado pelo cantor Ricardo Graça Mello, outro nome instantaneamente que virou astro da noite para o dia). Posteriormente, o longa-metragem ganhou uma continuação que levou o título da canção original do grupo Rádio Táxi. Vale dizer que "Garota Dourada" havia sido composta por Lee Marcucci, Wander Taffo e pelo jornalista e produtor Nelson Motta.
  Mas o canal estava mesmo na TV (sem trocadilho), que alcançava os olhos e "ouvidos" das grandes massas e que transformaram músicas como "Coisas de Casal" em um tremendo hit, via novela "Sol de Verão", exibida pela Rede Globo. Por sinal, música liberada por Rita Lee para o álbum de 1982. No ano seguinte, veio outra novela, "Pão Pão, Beijo Beijo", e consequentemente outro sucesso, "Sanduíche de Coração". Entretanto, Willie de Oliveira resolveu sair do grupo e em seu lugar entrou Maurício Gasperini. Enfim, seguindo a ordem natural das coisas, muitos shows, programas de rádio, reportagens em jornais e revistas e apresentações em programas de TV globais se tornaram  rotina, no bom sentido. Pra variar, outra novela popular da Globo, "Roda de Fogo", incluiu "Você Se Esconde" no vinil da trilha sonora nacional, lançada em 1986. Neste ano, a banda lançou o álbum "Matriz", pela gravadora CBS. No final da década, a Rádio Táxi trocou de gravadora indo parar na RGE.  Lançou seu último trabalho oitentista, que levou também o nome do grupo.



  A Rádio Táxi faz questão de destacar em seu release que "Dentro do Coração (Põe Devagar)", lançada com sucesso nos anos 1980 integrou a trilha sonora de outro filme, "Os Normais" (2003), uma produção da Globo Filmes, com Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães. Evidentemente que a banda tratou logo de capitalizar seu novo trunfo, porém, a perda de Wander Taffo, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória, em 14 de maio de 2008, deixaria marcas profundas em todos os músicos envolvidos, inclusive nos fãs.
  Os únicos músicos pioneiros que restaram, Lee Marcucci e Gel Fernandes, permaneceram na estrada, ao longo da segunda década do século XXI, porém, acharam por bem acrescentar exemplares de "sangue novo" à nova formação da Rádio Táxi. Ei-los: Fábio Nestares (segundo o último boletim, foi finalista do programa Fama, da Rede Globo e é sobrinho do primeiro tecladista da banda, tornando-se, assim, o novo vocalista); Milton Romero (guitarrista) e Flávio Fernandes (tecladista), que é sobrinho de Gel. E com isso, a nostalgia e os novos sons se alternam nos palcos de todo o país.


Formação atual da banda.

  Obviamente, alguém sempre vem com aquela pergunta previsível? A Rádio Táxi tem alguma novidade para colocar na "roda"? Sim. Recentemente divulgou seu nono trabalho, "3 Décadas", um DVD que apresenta a carreira da banda, oferecendo músicas novíssimas e inevitáveis sucessos da década de 1980, que foi, entre tantas curvas, um período dourado do pop rock brasileiro.
 Ah! Claro... Dia 31 de julho sai o novo clip do Rádio Táxi. Fique dê olho nas redes sociais, no you tube e, lógico, na divulgação que será feita, aqui, no blog.



ASSISTA O MAKIG OF DO CLIP CLICANDO NA IMAGEM ACIMA. 
            
       
   







          

sábado, 18 de julho de 2020

RENATO BARROS, DO RENATO E SEUS BLUE CAPS, É MAIS UM NOME DO ROCK A ESCAPAR DE UMA TRAGÉDIA, NESTE MÊS CAÓTICO

Tudo iniciou com uma estranha dor na face do ícone da jovem guarda, que em tempo adequado, Renato acabou sendo internado, em caráter emergencial, na última sexta-feira, para uma série de exames que revelaram a necessidade de uma cirurgia de aorta. Todos os cuidados foram tomados. Felizmente, até onde foi noticiado, o artista, de 76 anos, passa bem. A cirurgia de aorta é um procedimento que possui tipos de abordagem distintos dependendo do tipo de doença. Segundo informou Renata Barros, a filha de "Renato", nas redes sociais, o risco era bem superior do que fora apresentado nos exames e, conforme o médico, sem o procedimento cirúrgico (que durou 7 horas), não teríamos mais o velho ídolo entre nós. Já basta a grande perda que tivemos anos atrás: Ed Wilson (1945-2010), cantor e compositor, que fez sucesso na época da jovem guarda e que chegou a ser vocalista do Renato e seus Blue Caps no início de carreira. Felizmente, o outro irmão, Paulo Cesar Barros, de 73 anos, baixista e compositor, que é considerado o vocalista dos tempos clássicos do grupo está vivo e continua buscando seus próprios horizontes. Posteriormente, o vocal principal ficou a cargo de Cid Chaves, que continua até hoje no Renato e seus Blue Caps. 

RENATO: CARREIRA x SAÚDE PESSOAL  

Os fãs do grande guitarrista que me desculpem, mas tal notícia não me surpreendeu se for considerado o fato da suspeita de ele ser tabagista há décadas, segundo colegas de profissão já entrevistados. Contudo, em 2012, durante uma entrevista que gravei com Renato Barros, no Hotel Master Express, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, horas antes do mesmo realizar mais um show com sua banda num clube paroquial, na cidade de Viamão, vi uma carteira de cigarro praticamente evaporar em algumas dúzias de minutos (o tempo de gravação com o depoimento do artista durou cerca de 120 minutos). Acredito que o problema de saúde que Renato Barros esteja enfrentando seja consequência, em parte, do seu modo de vida noturno ligado aos hábitos que a própria atividade artística lhe proporciona. Alimentação irregular, sedentarismo ocasional e ausência da prática de algum esporte são fatores determinantes para futuras complicações físicas internas. É comum no show business brasileiro encontrarmos artistas remanescentes que não frequentam academias de musculação ou que não recorram a uma dieta saudável de algum nutricionista. O caminho, na maioria das vezes é sempre o oposto. Observo que o cigarro encabeça a lista de preferências das celebridades do passado. (Sic). A história da civilização moderna do século XXI já provou por A + B que a nicotina é responsável doenças cardíacas, respiratórias, AVCs, câncer de pulmão, envelhecimento precoce, entre outros malefícios. (...) O tabagismo sempre resultou em muitos óbitos e posso dizer que muitos casos que acompanhei durante as biografias para a "Bíblia do Rock" apenas confirmaram as previsões que eu fazia e que, lastimavelmente, só podiam serem compartilhadas nos bastidores ou, caso contrário, correria o risco de sofrer retalhações de fã-clubes amadores. Um deles, inclusive, não possui redator ou jornalista contratado e publica textos de terceiros.  
Renato, no apogeu da juventude.

Nem agosto chegou e já tivemos a recente baixa de Sival (Sinval Olímpio) do The Jordans, entre outros artistas de outros segmentos, como por exemplo, o cantor Carlos Alberto, também chamado de "Rei do Bolero". Como se não bastasse, ainda existe uma pandemia ceifando a vida de milhares de pessoas em todo mundo. No Brasil, a região sul é a mais afetada pela Covid 19. Dentro do cenário artístico temos muitos nomes que já ingressaram na terceira idade e entrar numa emergência de hospital neste momento para tratar de outra doença representa um risco redobrado. Vide os casos recentes como o do baterista Netinho, da banda Os Incríveis. Cuidar da saúde evitando vícios e ficar em casa ainda em isolamento é a única alternativa. Tem gente que discorda por puro negacionismo e o preço a pagar é sempre alto. A conta pode chegar atrasada, mas chega. A maioria dos artistas que tenho contato são prudentes e não se arriscam a questionar as autoridades da saúde. O problema é que antes do vírus pegar no povo já existia uma crise de consciência generalizada e evidentemente que muitos se refugiam no alcool e nas drogas. Não é o caso, aqui, exceto pelo consumo da nicotina, que provavelmente é o grande vilão da história. Não culpo as pessoas por qualquer tipo de vício, mas sempre é bom advertir. Renato, por exemplo, pertenceu a geração onde os jovens fumavam cigarro para estar na moda. Os anos 1960 foram ricos no consumo da nicotina, principalmente no consumo dos produtos sem filtro. Alguns filmes da jovem guarda apresentavam os jovens como maiorais do pedaço (coincidência ou não, alguns eram chamados de "os brasas". Uma década antes, James Dean, no cinema, lançou a rebeldia juvenil e a clássica foto de cigarro no canto da boca. É evidente que a moda não é o único motivo de alguém sentir a necessidade de enfiar fumaça nos pulmões. O motivo possui várias origens como problemas de ansiedade, escapismo ou até mesmo puro prazer. O bom mesmo é saber se cuidar, ter força de vontade para reinventar novos hábitos que sejam capazes de proporcionar longevidade. Serguei, por exemplo, conseguiu passar dos 80. O pioneiro do rock dos anos 1950, Carlos Gonzaga, já entrou na casa dos 90. Vander Loureiro, do The Beverlys (ex- Selo Young), idem. Como se vê, nunca é tarde para uma reavaliação de conceitos. Espero que os detratores compreendam, mas a minha crítica, neste caso, é construtiva. Quem não estiver de acordo que vá fumar um cigarrinho de chocolate ou, quem sabe, alguma erva recomendada  pelo Planet Hemp. Opa! Calma! Brincadeirinha!... Mas, na minha visão vou bater nesta tecla. Pois, diante da nicotina, qualquer coisa se torna melhor.
  No mais, eu desejo a completa recuperação de Renato Barros. Grande figura e um pioneiro do rock, em atividade desde 1959, com o eterno Renato e seus Blue Caps. (...) E sem esse papo de artista "antigo", pois ele é SIM um CLÁSSICO. Enfim...  Semana que vem tem mais...