terça-feira, 26 de março de 2019

MORRE EMÍLIO RUSSO, MÚSICO PIONEIRO DO GRUPO THE JET BLACK'S E OUTRAS BANDAS DE ROCK SESSENTISTA

Nascido em 30 de abril de 1945, em São Paulo, Emílio Russo era um músico com performances marcantes. Na função de guitarrista solo arrancou de seus colegas de geração admiração e respeito. Integrou o The Jet Black's. um dos grupos pioneiros do rock brasileiro dos anos 1960, mas sua primeira banda se chamava The Freedmans, pouco antes. Também tocou em vários outros grupos de rock instrumental, entre eles, Os Lions. Décadas depois, regressou a última formação do The Jet Black's, com Edison Della Monica (The Sparks), que passou a ser dono da marca (nome da banda). Na última conversa que tive com Emílio Russo, ele dizia que se sentia injustiçado pelos serviços que prestou ao rock. Realmente, injustiça é o que não falta por aí.
  A causa da morte do músico remanescente ainda não foi divulgada.


Peço aos amigos para passar seus depoimentos sobre Emílio Russo via e-mail que publicarei aqui com todo o prazer: bibliadorock@bol.com.br

AGUARDE O TÉRMINO DA MATÉRIA QUE ESTÁ SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL. 


segunda-feira, 18 de março de 2019

DICK DALE FOI UMA DAS MAIORES DIVINDADES DA SURF MUSIC E SUA MORTE EMPOBRECE AINDA MAIS A MÚSICA JOVEM

NÃO LEIA AINDA. MATÉRIA SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL. AGUARDE O TÉRMINO.


O músico norte-americano renovou a cena jovem no início dos anos 1960, num período que o rock  sofria sua primeira crise de identidade. Com o declínio da primeira geração, encabeçada por artistas como Bill Halley e seus Cometas, Chuck Berry, Little Richard, entre outros que morreram precocemente, tais como Buddy Holly, Ritchie Vallens, Eddie Cochran, e a saturação de nomes do pop branco, tipo Frankie Avalon & Cia, as bandas de guitarra assumiram o comando dos bailes e programas de TV, em tempos que o twist predominava soberano nas paradas de sucesso do mundo ocidental.  



  Eu bem avisei que não seria um ano fácil, assim como em 2017, teríamos falecimentos semanais de artistas relevantes. Não sou nenhum médium e muito menos mestre em estatística, mas, assim, como todo o ser humano que habita este planeta possuo algumas faculdades desenvolvidas que me permitem antever situações especiais e/ ou episódios isolados. Não tenho religião (exceto o rock and roll), mas me considero um sujeito que segue em busca de uma evolução espiritual. Segundo o saudoso produtor Carlos Miranda, as religiões foram feitas para seus líderes ganharem dinheiro. Eu não penso exatamente de ta forma, porém, sou obrigado a concordar parcialmente. Existem coisas interessantes no budismo, kardecismo e até mesmo  em fragmentos da igreja católica é possível detectar sinais de bondade humana. O que não admito e vejo constantemente dentro e fora do universo on line, em pleno século XXI, é a "burrice congênita em nível coletivo", de uma maioria que prefere consumir gêneros musicais de qualidade duvidosa. Esta tendência de consumir "música barata" certamente está matando a "música original" que se fazia no planeta Terra. Não apenas por uma questão de ordem biológica, como também, de desgosto existencial (depois explico) perdemos essa semana Dick Dale, não apenas um dos maiores guitarristas da história do pop rock, como também, alguém que salvou muitos seres humanos da depressão em festinhas pós-moderninhas que acompanhei em 1994, após o renascimento de sua música devido ao sucesso do filme "Pulp Fiction", do diretor cult Quentin Tarantino. Mas provavelmente a opinião que realmente será levada em conta será mesmo a de Brian May, o guitarrista da lendária banda Queen. Veja o que ele disse ao saber da morte de Dick Dale: "RIP Dick Dale - Pai da guitarra surf. Nós todos devemos a você. Rock On." 







segunda-feira, 11 de março de 2019

MORRE DEMÉTRIUS, UM DOS EXPOENTES DO INÍCIO DO ROCK BRASILEIRO E JOVEM GUARDA

Aos olhos do grande público, ele ficou marcado como ídolo da jovem guarda, mas sua carreira iniciou bem antes, entre o final dos anos 1950 e início da década 1960, segundo ele próprio em entrevista concedida a mim, durante o inverno de 1999. Embora tenha encabeçado a lista dos chamados "Elvis Presley" brasileiros, assunto divulgado em muitas revistas no desenrolar dos anos dourados, Demétrius se reconhecia mais como um cantor romântico.


Coletânea lançada duas décadas atrás que reunia as músicas marcantes da carreira do cantor.



DEMÉTRIUS, UM DOS PIONEIROS DO ROCK, E AS POUCAS VERDADES NÃO DITAS

  Em respeito ao triste episódio, vou me limitar hoje ao status de jornalista "chapa branca". Os 20 anos de reconstituição de época que me dediquei. praticamente convivendo com os pioneiros do rock and roll poderiam derivar outras obras. Histórias cabeludas de bastidores, as glórias e os insucessos, através de relatos genuínos jamais realizados (ou registrados) em território nacional. Prova disso são a maioria dos projetos lançados, até o presente momento, cujas pesquisas não vão além dos dois anos de edição de tags, frente a um imediatismo e egos nutridos por seus realizadores.
Durante esses anos que resgatei a vida de nossos pioneiros e os acompanhei em vários eventos atualizando entrevistas, depoimentos exclusivos, shows e canjas particulares, nunca havia testemunhado tamanha generosidade na figura de um cantor, compositor e músico. Quando oficialmente iniciei o projeto, "A Bíblia do Rock", camuflado com o nome de "Ritmo Rebelde", a fim de proteger o promissor título de obra deste, em 1999, ano em que conheci o sobrevivente do rock, Demétrius, vivíamos um momento em que a internet não tinha a força comunicativa que tem hoje. Nesse período eu lembro (e posso provar respondendo a quem quer que seja nos comentários) não tinha nenhum escritor ou jornalista (com exceção de Albert Pavão que é músico) preocupado em resgatar o passado do rock brasileiro. Tinha dois autores começando a falar sobre jovem guarda, tais como Marcelo Fróes, Ricardo Pugialli e um pesquisador gaúcho conhecido como Senhor F (Fernando Rosa). Havia, por outro lado, aqueles que eram independentes demais para ir a um programa de TV e contar aquilo que estavam fazendo em matéria de pesquisa profunda sobre a gestação do rock. Eu não queria ficar só nas publicações, queria ir muito além disso. Aliás foi o próprio Demétrius que reconheceu isso em mim e os depoimentos gravados (primeiramente em áudio) não deixam mentir. Não querendo desmerecer os demais projetos que surgiram posteriormente, uma boa parte sempre omitindo nomes ou datas e eventos, a "Bíblia do Rock", criada por mim, não ficaria restrita ao universo literário e sim navegaria pelas águas do audiovisual. Afinal, para quem ainda não sabe e está chegando agora, sou cineasta, dramaturgo e uma peça que escrevi e dirige em 1992, "Hippies Nunca Mais", antecipava, nas semanas que esteve em cartaz, toda a atmosfera que eu queria retratar a respeito do mundo do rock. Mas o espetáculo não retrocedia no tempo. Era como o próprio título comunica sobre a segunda geração do rock, tempos da contracultura, liberação sexual, quebras de tabus morais e evolução musical. E tudo isso relatei ao cantor Demétrius que viveu não apenas a fase inicial do rock and roll dos anos 1950, como também, engrenou na carreira de cantor a partir de 1960, considerando, nesta instância, seu primeiro compacto lançado pelo selo Young e que trazia as músicas "Young and in Love" (lado A) e "Hold me So Tight" (lado B). Esta última realmente era um rock (composto por Hamilton DiGiórgio) trazia o cantor com um timbre de voz à la Elvis Presley. E Demétrius, em especial, foi acompanhado pela banda The Devils, o que só prova, também em outros documentos sonoros lançados, que existiram dúzias de bandas de rock and roll antes da jovem guarda. A começar por Betinho e seu Conjunto, em meados dos anos 1950, certo? Obviamente, surgiram tantas outras bandas em São Paulo, através do selo Young (um catálogo variado de nomes), além das futuramente consagradas The Jordans, The Jet Black's, The Clevers, etc, e também no Rio, tais como The Blue Jeans Rockers, Renato e seus Blue Caps, The Sputniks (a gênese de onde saiu Roberto Carlos, Erasmo, Tim Maia e outros menos cotados). Tudo isso antes da jovem guarda ao contrário do que a mídia oficial prega. 


Ironicamente, justamente quando venho tentando corrigir a todos numa pesquisa (que chamo de reconstituição de época, porque vai além do texto e ocasionalmente do audiovisual) surgem "os senhores da verdade", que nunca ouvi falar, tentando me corrigir e se não fossem os documentos já apresentados todos tentariam me retirar a legitimidade de estar a frente de corrigi-los. Várias reportagens de página inteira já publicadas nos principais jornais do sul do país me deram essa credibilidade, além, claro, dos próprios pioneiros entrevistados (exceto quando a falta de memória de um destes me comprometa). Vejamos um exemplo mundano. Fui criticado por uma minoria no que concerne a matéria que escrevi desconstruindo a feitura do longa-metragem "Minha Fama de Mau" e pelo teor dos raros comentários de baixo calão (um deles foi de um figurante do filme) percebi que poucas vozes que, de fato, viveram os anos 1960, discordaram das minhas palavras. Claro que não sou "o senhor da verdade", mas mereço o respeito por buscar a veracidade em todas as obras lançadas ou, caso contrário, eu não estaria honrando a "Bíblia do Rock".  E o longa "Minha Fama de Mau", infelizmente, em aspectos periféricos relevantes, decepciona por falta de pesquisa de época, erra nos figurinos e modelo de penteados sempre em descompasso para com os períodos retratados. O problema maior consiste na escolha dos atores que sequer possuem semelhança física para com as personalidades reais (não pela falta de talento e sim por falha de caracterização estética). Apesar de Chay Suede e o elenco se esforçarem dignamente na composição das cenas musicais, o filme se mostrou apenas como um rascunho daquilo que poderia ter sido. Um erro que possivelmente o longa-metragem sobre Roberto Carlos não irá cometer que outros pouco cometeram, como é o caso de "Velho Guerreiro", o filme sobre Chacrinha (onde atores, pelo menos, estão melhores caracterizados). Em caso de dúvida, leiam o artigo que escrevi mês passado no blog "A Bíblia do Cinema": https://abibliadocinema.blogspot.com/2019/02/filme-minha-fama-de-mau-sobre-erasmo.html E abaixo, uma antiga matéria reflete o meu compromisso com a informação na primeira frase do texto escrito pelo jornalista. Existem outros que poderei postar, mas escolhi este. Confiram clicando na foto abaixo para ampliar.  
    
Capa do segundo caderno do jornal Gazeta do Sul.

No jornal Correio do Povo.

Eu, capa do segundo caderno do jornal Zero Hora. 

Apesar de eu ter dito que a fonte do próprio artista é segura, ocorreram inúmeras vezes que me senti no dever de corrigir (apresentando documentos) a realizadores de outras obras que, por orgulho pessoal, preferiram publicar os episódios com as datas incorretas mesmo. Pode parecer indelicado corrigir um entrevistado que, durante seu depoimento, troque uma data por outra e assim por diante. Mas creio que quando um idealizador de projeto deixa isso passar e ainda posta tal declaração no you tube comete a pior das vaidades, ou seja, prefere mostrar aquilo que captou do artista que a própria verdade em si. Infelizmente, o próprio Demétrius, por algum tipo de amnesia momentânea, afirmou no video postado por Sérgio Baldassarini Junior, que começou a carreira cantando músicas de Elvis Presley em 1967. Macacos me mordam!!! Como alguém deixa isso ir ao ar no you tube? Todo mundo que conhece o mínimo de história sabe (e o próprio Demétrius me contou isso em 1999) que ele iniciou carreira profissional de cantor em 1960, a partir do disco gravado e mencionado no parágrafo acima. Baldassarini, videoasta que lançou "Jovem aos 50", permite que o depoimento de Demétrius permaneça como se fosse "oficial". E se alguém ainda não acredita nisso, perguntem ao próprio cantor Albert Pavão que viveu a época e lançou livro que ele confirma que Demétrius se lançou em 1960 e não em 1967. Afinal, seria impossível (para um pioneiro do rock) ter iniciado carreira em 1967, levando em consideração que o artista já havia lançado seu maior sucesso "Ritmo da Chuva" em 1964 e, também, gravado todos o rocks de autoria de Tony Chaves e Baby Santiago a partir de 1960. Então, insisto. Que história é essa dele (Demétrius) ter começado em 1967? Já chega o próprio Serguei, outra lenda viva do rock, gravar em entrevistas afirmando que Janis Joplin morreu em 1971 (vide jornal Zero Hora e outros videos de entrevistas postados no you tube). O mundo do rock está careca de saber que Janis Joplin morreu em 1970, meses depois de ter passado o carnaval no Brasil, inclusive com o próprio Serguei e outros "privilegiados". O que dizer de alguém achar normal publicar um fato com data errada? Isso se chama desonestidade jornalistica? Sinal dos tempos do jeitinho politicamente correto em seu tom de vale tudo mesmo que seja algo postado? Não creio. Creio que seja um mero desleixo do imediatismo midiático da atual geração. Certo mesmo seria o realizador de cada trabalho respeitar a verdade tal como fazem os jornalistas  e produtores de conteúdo do Primeiro Mundo. 


Não estou aqui hoje, apesar da temática pertinente, para contar a história da carreira de Demétrius, pois isso, como todo mundo que acompanha o blog "A Bíblia do Rock", terá em mãos quando o livro a ser lançado. Estou aqui apenas para fazer um rápido balanço sobre o artista, porém, bem mais contundente que as fugazes matérias publicadas sobre sua morte. São sempre textos / releases, uns parecidos com as outros, que nada acrescentam e confundem a maioria silenciosa. Um exemplo disso é resumir Demétrius ao sucesso de "Ritmo da Chuva", em 1964, um ano antes do surgimento do programa Jovem Guarda. Falha grotesca dos jornalistas que só querem dar uma noticia rápida e passar a próxima, sem nunca conferir a veracidade da informação. Ao cumulo de eu ver pessoas dizendo que o cantor era o criador de "Ritmo da Chuva". Que nada! A música citada era uma releitura de um sucesso da banda The Cascades, lançada em 1963, originalmente com o título "Rhythm of The Rain" (disponível no you tube para audição). A confusão é generalizada quando internautas saudosistas, que sequer estiveram entrevistando o cantor, insistem em dizer que Demétrius lançou o compacto no mesmo ano que o grupo The Cascades. E outro Zé Mané chegou a postar com a data errada de 1968. Nunca. Jamais!!! "Ritmo da Chuva", na voz de Demétrius, foi um disco lançado em 1964 (e quem quiser provar que tenha sido em outra data então apresente o vinil distribuído pela gravadora, na época). Eu sei que o forte dos leigos não é pesquisar, mas sim fuxicar. Se você desconfia que alguém (you tuber ou blogueiro) quer realmente desinformar o público evite postagens duvidosas. Simples.



E, por fim, cabe dizer que se, por obra do acaso ou destino, Demétrius não ganhou uma biografia detalhada foi por culpa dele próprio sintetizar demais os fatos nas dezenas de entrevistas que deu limitadas a TV e ao rádio. Ele nunca gostou de se prolongar nos detalhes sutis. Material de época sobre sua juventude, como por exemplo, uma cena em alguma programa de TV dos anos 1960 simplesmente não existe. O que se encontra em sites sobre o cantor são apenas reproduções de matérias publicadas pela Revista do Rádio, Revista do Rock, entre outras, hoje em dia, esquecidas e vendidas em sebos e leilões virtuais. Apesar da sua generosidade e gentileza onipresente em seu semblante, ele nunca ousou ultrapassar a fronteira, detalhar episódios básicos de sua carreira, reproduzir memórias pessoais (mas de cunho musical). No entanto, no inesquecível encontro que tive com ele em 1999 e mais recentemente em 2015, na "Festa dos 50 Anos da Jovem Guarda", onde extraí o máximo que podia de sua personalidade. O homem que eu conheci de perto e troquei vários telefonemas, apresentou um cansaço físico-existencial e uma ambiguidade comportamental. Entretanto nada que possa desaboná-lo como grande intérprete, apenas o que constatei que o ser humano sugestivamente feliz (assistam a reportagem da Record) era, na verdade, um artista insatisfeito para com as transformações que o tempo lhe impôs: perda contínua da vitalidade e beleza física, indiferença dos grandes empresários e gravadoras e a redução substancial de público parecem ter sido fatores decisivos em tal mudança de astral pessoal. Essa foi a impressão que ele me passou "in loco". Alguém pode até discordar, mas minha opinião deve ser respeitada, pois tive acesso a ele, também, em alguns novos contatos nada promissores. Foi o que as últimas ligações telefônicas deixaram claro, sem falar, enfim, na minha observação ao vê-lo pessoalmente.


Demétrius (Demétrio Zahra Neto) nasceu em 28 de março de 1942, no Rio de Janeiro. Era carioca e não paulista (como muitos já anunciaram). Segundo os jornais com textos apressados citando a persona de Claudio Fontana, o cantor teria morrido em sua residência, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, em 11 de março de 2019, em circunstâncias intransparentes. Tais informações sobre sua morte e últimos momentos de vida carecem de fontes confiáveis (pelo menos em respeito aos fãs) e por isso, fora o que possuo sobre ele (em entrevistas) sobre seu passado, renego, até que se prove o contrário o pouco que a imprensa noticiou. Sendo assim, fico no aguardo de colegas e pesquisadores de confiança em discutir novas fontes. Sem mais, o meu apreço a todos que valorizam histórias de personalidades que marcaram a existência da grande música jovem do século XX.      
                
Meu primeiro encontro e entrevista com Demétrius. E com direito a canja no violão.

Demétrius, em casa, em um apartamento próximo da Avenida Paulista, na capital, 1999. Crédito fotográfico: Euler Paixão. Acervo pessoal: Emerson Links.

PARA QUEM NÃO CONHECE DEMÉTRIUS, ASSISTA NO YOU TUBE:

COMPACTO DEMÉTRIUS CANTA PARA A MOCIDADE.


RITMO DA CHUVA (1964)

A BRUXA (1964)