segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

OS ÍDOLOS GRAVARAM SUCESSOS ALHEIOS POR PURO OPORTUNISMO?



Desde a chegada do rádio ao Brasil até as primeiras gravações em disco, dos anos 1930 ao século XXI, desconfio que centenas de autores originais tenham sido negligenciados e substituídos pelos próprios intérpretes das canções. A história da MPB é inegavelmente rica em produções de artistas que marcaram época. Tanto os politizados quanto os meros agentes do entretenimento deram ao país uma grande contribuição a sociedade através dos tempos. Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre o século XXI que, em termos de Brasil, as gravadoras optaram por profissionais biônicos que no lugar de incentivar o bom gosto musical passaram a incentivar ídolos de valores discutíveis (o que não significa que a arte tenha que ser uma coisa chata e elitizada - seja o seu teor sofisticado ou ideológico, afinal de contas, também existe o bom paladar de cultura de massas - e vale lembrar que tínhamos isso no passado). Seja no rock, na música sertaneja, no pop ou dance music, tudo era melhor que hoje, ou seja, havia qualidade humana nos trabalhos artísticos. Por mais comerciais que fossem (mesmo os bregas) havia um certo encanto e bom humor (basta lembrarmos de figuras como Reginaldo Rossy, dos anos 1960 em diante), super acima de figuras desprovidas de criatividade que infestam o mercado atual. Faço questão de não citar "os inomináveis hit makers do momento", que possuem tudo aquilo que vende, exceto qualidades que deveriam ser indispensáveis para a constituição de um artista, tais como o dom para a música (tanto vocal quanto instrumental) e opinião imparcial (sem apoiar partidos políticos, ideologias em geral, ingredientes que acabam denegrindo o perfil de qualquer mortal em busca de evolução). A história já provou isso, mas a vergonha ou amnésia de muita gente não permite trazer isso à público. Seria incomodo desfazer mitos e lendas, não?
  Vamos começar do princípio básico. O que seria plágio? É quando uma obra intelectual de qualquer natureza é apresentada ou assinada por um indivíduo que usou partes de outra obra sem dar os devidos créditos

AGUARDE O TÉRMINO DA EDIÇÃO DO TEXTO, EM TEMPO REAL, PARA REALIZAR A LEITURA.  .

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

CÉLIA VILELA NA BÍBLIA DO ROCK

CÉLIA VILELA, UMA DAS PIONEIRAS DO ROCK BRASILEIRO POUCO CONHECIDA DA NOVA GERAÇÃO, SERÁ RETRATADA NA SÉRIE "A BÍBLIA DO ROCK", QUE EMERSON LINKS VEM PREPARANDO A SETE CHAVES.






Se tudo correr bem, o projeto pretende surpreender a todos que imaginavam não existir uma cena musical jovem antes da jovem guarda. O tom será altamente realista e baseado em depoimentos de artistas, fãs e comunicadores vivos e, também, já falecidos (mas que deixaram uma forte contribuição para a obra, ainda em processo de finalização de pesquisa.
  "Como são seis décadas de história do rock, passei praticamente mais de uma década pesquisando e dividindo tudo por unidades. Entrevistar os pioneiros foi mais complicado porque muitos, por fatores biológicos, já estavam com saúde em risco ou morreram entregues a uma vida irregular de estrada e muito sacrifícios", afirma Emerson. E completa: "Muita gente me criticou pela demora, mas queria realizar um trabalho de Primeiro Mundo num país de Terceiro. A maioria que tentou me imitar quebrou as caras fazendo tudo às pressas só para lançar e sem detalhes fundamentais de cada personalidade biografada. Saber como cada artista se expressava, seus trejeitos, manias, era essencial para alcançar o máximo de realismo".


CÉLIA VILELA - UM RESUMO DA TRAJETÓRIA


Texto: Emerson Links.


  O nome de batismo era outro: Célia da Conceição Villela. Chegou ao mundo em 24 de novembro de 1936, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Pouco depois de aprender a andar já tinha a música como maior influência em seus ouvidos devido ao período muito rico que viveu, ou seja, os anos dourados do rádio brasileiro (não existia TV e internet (nem nos contos de ficção cientifica). Ela cresceu ouvindo os cantores clássicos da MPB que priorizavam a qualidade da voz, como a afinação e o tom melódico (algo inexistente nos dias de hoje, graças aos produtores semiletrados, incultos, que emergiram a cena musical e expandiram a mediocridades nas paradas de sucesso. No passado jamais alguém viraria empresário ou divulgador sem a chamada meritocracia. Enfim... Voltando ao passado da cantora, que em 1940, aos anos 4 anos, foi levada por sua mãe a um programa infantil das Emissoras Associadas de Belo Horizonte, quando ficou claro que ela era um talento mirim. Quer mais? Célia se tornou presença permanente no programa de rádio. Naqueles tempos, se você não tivesse voz estava fora. Se alguém se vendia para produzir alguém por dinheiro, era raro, por exemplo, algum filho de fazendeiro que quisesse ser cantor (sem talento) e que fosse pago para ficar no rádio. Havia ética, hoje basta ter grana, dormir com produtor gay ou ter amizade influente para alcançar o sucesso (o resto tudo é fabricado). Havia exceções como Cauby Peixoto, nos anos 1950, que tinha muito talento vocal, que se utilizou de tudo que conspirava a seu favor, mas fora isso, era um performer, como poucos. Hoje, o que temos é a celebração da mediocridade, da banalização dos modismos. Existiram medíocres no passado, mas, quem não tinha voz para seguir carreira, não passava no teste que era feito com o público e ponto final. Jair de Taumaturgo que o diga!... Outros Djs ainda vivos podem confirmar isso como Miguel Vaccaro Neto e Antônio Aguillar.




  Aos 13 anos, cantava profissionalmente em um momento que o baião era a bola da vez, situação que a tornou a rainha do gênero na cena mineira, a ponto de comandar um programa próprio na Radio Guarani, de Belo Horizonte, que foi batizado de "Aí Vem o Baião", ainda no início dos anos 1950. Ainda era colegial, mesmo assim, foi para o Rio de Janeiro e assinou contrato com a Radio Tupi. Foi emancipada aos 15 anos, a fim de fazer carreira cantando à noite em night clubs (nome que eram chamadas as boates) e também trabalhou para Carlos Machado (grande produtor de espetáculos, na época). O primeiro disco gravado por Célia Vilela saiu pela gravadora Todamerica, um compacto de 78 rpm, lançado em agosto de 1956 e que trazia duas canções ("O Resto Eu Faço" e "Hermengarda"). Somente depois, durante uma viagem aos Estados Unidos, quando se deparou com o rock and roll tocando muito nas rádios é que decidiu seguir carreira no gênero musical ainda engatinhando no Brasil. Célia ficou fascinada por Elvis Presley e outros nomes que despontavam. Ficou ciente que o rock tinha futuro e era o melhor caminho para sua carreira. Tão fascinada mesmo que se tornou a primeira DJ de rock, numa época em que somente os homens davam às cartas em programas de rádio e TV e que as demais cantoras rivais não ousavam se aventurar além dos palcos. Isso tudo ocorreu, por volta, de 1960, período que a cantora mineira gravou o compacto duplo de 78 rpm, com os seguintes rocks: "Conversa ao Telefone" e "Trem do Amor", ambos sucessos americanos com versões escritas por Fred Jorge. Mesmo sendo atrevida para os padrões da época (pois Celly Campello fazia mais o tipo boa moça de família) e mesmo cantando músicas com letras bastante sugestivas como "Striptease Rock", Célia não decolou carreira tanto quanto merecia.
  Sua história passou praticamente em branco em livros, programas de rádio em forma de tributo, etc, e jamais foi uma personalidade lembrada em documentários sobre a história do rock no Brasil. Sempre se fala naquelas cantoras que tiveram uma suprema exposição, tais como Celly Campello, Rita Lee e assim por diante, mas nunca um historiador ou produtor de programa de TV trouxe um assunto como esse à tona, com tanta verdade como o projeto A BÍBLIA DO ROCK pretende trazer. Seu último álbum foi lançado em 1964, um ano antes do surgimento do programa Jovem Guarda e de casar com o músico Carlos Becker. A união estável (e sagrada para a época) ocorreu em 30 de setembro de 1965 (e foi documentada em uma reportagem escrita pela Revista do Rádio), sendo que logo em seguida, ela ainda se apresentaria com o marido e o The Angels na TV. A pressão pelos compromissos de ordem doméstica pesaram mais e também valendo pelo fato de novas cantoras rivais ofuscarem sua visibilidade na mídia, tais como Wanderléa, Rosemary, Meire Pavão e Cleide Alves. Nessa época, Celly Campello, a rainha do rock, e também Sônia Delfino, já tinham saído das paradas de sucesso. Celly tinha casado com o contador da Petrobrás, Eduardo Chacon, em 1962, enquanto isso, Sonia focava sua carreira bem mais na MPB e Bossa Nova. O rock and roll já não era tão Elvis Presley e, para resumir, estava mais para as bandas inglesas Beatles e Rolling Stones. E a americana teen Brenda Lee fora substituída pela cantora italiana Rita Pavone, no gosto popular da juventude brasileira.



   
  Ela saiu de cena e nunca mais voltou. Durante décadas, após o encerramento da carreira levou a vida como uma cidadã comum. Jamais aceitou dar uma entrevista falando do seu passado e pioneirismo no rock and roll. Calou-se para sempre e morreu sem reconhecimento algum (em 1º de janeiro de 2005). Em contrapartida, Célia Vilela ainda é lembrada por uma pequena porém carinhosa parcela de colecionadores e fãs remanescentes. Espero conseguir fazer justiça com o futuro longa-metragem e também a série. Ela e muitos outros esquecidos merecem!


        

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

SERGUEI FALANDO SOBRE EMERSON LINKS E NOMES DO ROCK AND ROLL

Serguei em 2000. Copyright by Emerson Links.

Em Saquarema-RJ. Divulgando o projeto em 2000.

Gravação da entrevista na época.


Visite meu canal no you tube e assista um trecho da entrevista que Serguei gravou para a BÍBLIA DO ROCK. (Clique em cima da foto de Janis Joplin para entrar no video)



PARA SABER MAIS SOBRE O ROQUEIRO MAIS VELHO DO BRASIL, LEIA A MATÉRIA QUE ESCREVI NO BLOG E BASTA ENTRAR NESTE LINK LOGO ABAIXO. COLE O LINK EM SEU NAVEGADOR PARA ABRIR A VISUALIZAÇÃO E EFETUAR A LEITURA:

https://bbliadorock.blogspot.com/2013/11/serguei-o-roqueiro-mais-velho-do-brasil.html




sábado, 8 de setembro de 2018

POP ROCK (X) SERTANEJO UNIVERSITÁRIO : LAVAGEM CEREBRAL DA MÍDIA?


  Sejamos racionais. Não se trata de preconceito ou somente acreditar que a música da geração de ídolos é apenas muito barulhenta, constituída de lixo sonoro não reciclável. De fato, o que ocorre é que tais "artistas" (sic) são completamente desprovidos de talento. Ao contrário dos pioneiros do rock e do pop, estes jovens do segmento brega universitário e adeptos da trash music (nome original do funk carioca), que frequentam as paradas de sucesso, pecam pela falta de originalidade. Mesmo alguns nomes de outros segmentos com baixa formação escolar, agonizando em esferas inferiores, são capazes de apresentar trabalhos autorais de qualidade, porém, a banda podre que tomou conta da mídia impede maior exposição e alcance de público legítimo (parcela da população que antes consumia mais e representava o padrão de qualidade vigente nos anos 1960 a 1990). Reparem que, na medida que os produtores medíocres foram assumindo o poder, a MPB foi perdendo o caráter de inovação estilística. Pra não falar do rock, aqui, objeto de culto e estudo contínuo. Pelo menos, em termos de Brasil, a identidade entrou em cheque rimando com os políticos corruptos que esse mesmo público consumidor ajudou a colocar no poder.




  Agora, vamos direto a ferida contracultural, ainda aberta, que incomoda a todo consumidor que preza pela ética e pelo bom gosto: a crise de consciência da evolução do mundo pop brasileiro. Daí, vem alguém no meio da multidão ou mesmo um DJ carioca (que me deparei numa postagem do facebook) gerando polêmica como se tudo não passasse de perseguição. Ledo engano. Na época que o rock and roll sofria preconceito era diferente, pois qualquer cantor tinha talento, voz e atitude (exemplos: Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Gene Vincent, Jerry Lee Lewis, James Brown, Beatles, Stones, etc), mas, hoje, "não". Não mesmo!!! Eu protesto contra esse protecionismo sistemático que alguns DJs saudosistas colocam na "roda". Os jovens intérpretes do pop emergente que frequentam as paradas não possuem voz afinada (ou quando possuem expõem com muita deficiência), nem defendem um estilo digno de mérito (pois quando algo realmente é bom todos falam bem, sem críticas maquiadas). Portanto, realmente é muito diferente dos artistas do passado (leia-se Jovem Guarda, Tropicália e Hard Rock) que eram assessorados por profissionais que vinham de dentro do próprio mercado musical e por isso acreditavam acreditavam que tudo, mesmo soando "superficial" devia ter um selo de garantia (hoje inexistente). Os jovens bregas, funkeiros e sertanejos universitários, em sua maioria, são ídolos fabricados que não realizam uma pesquisa musical com profundidade, sequer passam uma mensagem coerente capaz de deixar marcas em seus seguidores nos anos vindouros. Os menos instruídos e endinheirados vão argumentar que estão no caminho certo devido a riqueza material acumulada. Daí, solto a pergunta que não quer calar? Não seria mais facil voltar a trabalhar como antes? Se música de boa qualidade e perfeito acabamento (popular) vendia, então, por que os produtores não abrem mão do repertório medíocre e priorizam, daqui para frente, apenas aquilo que possa contribuir para a evolução do gosto popular?




  Quem viajar por todo o país ou deixar a preguiça de lado e fazer uma pesquisa em blogs confiáveis vai descobrir que existe, sim, rock e pop de qualidade autoral. Entretanto, para a surpresa dos leigos, estes artistas e bandas não entram na grande mídia. Lógico que a culpa não é apenas do comboio podre de jornalistas que vendem suas almas (para sobreviver) divulgando a tão decantada música jovem brega, a culpa, claro, é também da "mão invisível" de agentes do poder econômico, de uma elite rastaquera que não deseja que os pobres tenham acesso a obras culturais de qualidade através do rádio ou mesmo via industria fonográfica digital (mas, em contrapartida, quantos brasileiros ainda não têm acesso a internet?). Portanto se existe algum preconceito contra os bregas de hoje é simplesmente porque estes não possuem a qualidade merecida dentro do próprio universo que transitam.
  Assim sendo, existe uma "minoria silenciosa de artistas" que almeja cantar para uma "maioria barulhenta de ouvintes", que sequer consegue sonhar com dias melhores, devido ao próprio subdesenvolvimento cultural autossustentável que escraviza a todos. A verdadeira música brasileira (incluindo o rock e o pop) existe, sim. e habita o underground das grandes capitais. Essa nova música, ainda revestida de nudez parcial, bem que merecia melhor atenção dos produtores e formadores de opinião.
(EMERSON LINKS, o autor de A BÍBLIA DO ROCK, futuro longa-metragem e livro).






PARA SABER MAIS, ASSISTA NO YOU TUBE:












quinta-feira, 30 de agosto de 2018

TRIBUTO AO GRILO FALANTE




Lá se vão 10 anos de ausência desta personagem folclórica e rock and roll do underground gaúcho dos anos 1960-1970, que passou a fazer parte da Turma do Parquão nas décadas seguintes, até surgir em crônicas de um livro de Humberto Machado, filmes udigrudi e nos quadrinhos do Almanaque da T. P., distribuído no eixo-Rio-SP em 1991. Um dos últimos hippies, depois de Serguei e Fughetti Luz (Liverpool e Bixo da Seda), a manter o status de figura cult do início ao fim. Quaisquer palavras, aqui, seriam insuficientes para descrever quem realmente foi o Professor Valter Waichel. "Em breve", como ele mesmo dizia, "outra missiva". Finalizando, "concluo e envio". (...) Saudades dos momentos etílicos em que ele sabia (como ninguém) animar o astral de todos os amigos (mesmo os mais jovens que ele) e fãs (como o músico Plato Divorak, que chegou a gravar uma música em sua homenagem). Assim sendo, espero que a palavra "ressurreição" não seja apenas uma utopia e que exista "o outro lado" da vida. (EMERSON LINKS).


Capa do álbum lançado no circuito underground gaúcho.


Abaixo a Cronologia da personagem em um tributo em video postado no you tube:

 

OBS. Matéria sendo escrita em tempo real. Aguarde a conclusão para que a leitura seja realizada. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

RENATO E SEUS BLUE CAPS - ENTREVISTA COM RENATO BARROS

 

  Como parte do acervo de entrevistas reservado a este blogger e ao meu projeto em curso, apresento a vocês uma entrevista que fiz com o fundador da banda de pop rock mais antiga do Brasil (em atividade), Desde 1959, Renato faz parte da banda que carrega seu nome e que fez sucesso nos anos dourados e na jovem guarda.
  Confira agora minha participação na Rádio Capital AM em Santa Cruz do Sul, onde pude interagir com uma das maiores lendas vivas do rock clássico brasileiro:


domingo, 29 de julho de 2018

WALDIR SERRÃO, O DJ QUE LANÇOU RAUL SEIXAS

Muito antes de conhecer Raul Seixas no final dos anos 1950, o comunicador baiano, recém falecido, era fortemente influenciado pelo rock and roll que estava em fase de gestação e mal sabia, na época, que a música se tornaria seu meio de vida, como também, sua ruína.



Esquecido pela mídia, um dos primeiros divulgadores do trabalho de Raul morreu na miséria. O mercado da música no Brasil é uma autêntica inversão de valores. Sabemos que quanto pior melhor. Basta checar o hit parade atual para constatar que quanto mais medíocre for o trabalho do artista melhor. "Ora, para que perder tempo filosofando?", questiona um produtor de funk de latrina que encontrei nos corredores de uma grande gravadora (recuso a fazer, aqui, propaganda de tal gravadora). "Pois bem" - respondi em tom de ironia. "Isso que chamam que "funk" e não o é custa centenas de vezes para ser produzido que um intérprete de renome da MPB. Alguém como Raul Seixas na industria fonográfica brasileira dos dias de hoje seria considerado investimento de risco". Questiono, agora, nessas emergenciais linhas. E onde entra Waldir Serrão nisso tudo? Em quase nada, exceto por ser lembrado em todas os jornais e sites do Brasil que ele foi um dos comunicadores pioneiros do rock no Brasil (já perdemos muita gente desta época em curto prazo de tempo, restam apenas Antonio Aguillar e Miguel Vaccaro Neto, dois nomes que ainda sustentam a memória das gerações que pavimentaram a música jovem brasileira, em outras palavras, a jovem guarda). Waldir Serrão foi o primeiro DJ de rock and roll puro na Bahia. Antes dele não existia ninguém e, com justiça, pode ser comparado aos demais que, assim como Carlos Imperial, foi importante para a disseminação do ritmo musical mais democrático de todo o planeta. Imperial iniciou um movimento de divulgar o rock and roll na segunda metade da década de 1950, no Rio de Janeiro, juntamente com outros nomes célebres como Jair de Taumaturgo e posteriormente José Messias. Chacrinha também incentivaria o ritmo, mas bem depois, por assim dizer, tinha inventado aquela campanha contra o ritmo, por volta de 1960, amplamente documentada pela Revista do Rádio. Em São Paulo, havia Miguel Vaccaro Neto (co-fundador do Selo Young, que lançou bandas de rock nos idos de 1950) que teria seu programa de rádio divulgando rockabillies e baladas doo wop e lançando nomes que, comparado aos dias de hoje, soaria como o underground da época: as bandas The Avalons, The Rebels, The Teenagers, The Young's, The Scarletts, entre outras. E os intérpretes: Demétrius (que ficaria super popular na próxima gravadora que seria contratado, a Continental), Hamilton Do Giorgio (além de cantor também versionista), Dori Angionella (posteriormente Dori Edson), Marcos Roberto (o futuro ídolo da jovem guarda), Carlos David e o guitarrista Gato. Isso só para ilustrar os mais vistosos do período que soavam underground e batiam de frente com o então mainstream, afinal, entre 1959 e 1960, os nomes quentes eram Tony Campello, Sérgio Murilo, Celly Campello, Sonia Delfino, Carlos Gonzaga, George Freedman, Ronnie Cord, entre tantos, variando de pedigree e de gravadora. Enquanto isso, na Bahia, no desenrolar de 1957, surgia, Waldir Serrão e seus Cometas, considerada, segundo ele próprio, a primeira banda de rock da região. Dois anos mais tarde, Serrão, tão garoto franzino que era, já liderava o programa Só Para Brotos, na Rádio Cultura. Eram tempos em o rock de raiz fazia a cabeça da juventude transviada, que se manisfestava através do visual topete com brilhantina, jaqueta de couro e calças jeans: Bill Haley e seus Cometas, Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Gene Vincent, Buddy Holly, Fats Domino, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Eddie Cochran, Johnny Burnette e mais uma grande constelação deixaria esse parágrafo muito sobrecarregado. Pouco antes disso, Waldir Serrão havia criado o Elvis Presley Rock Club em parceria com um menino de 12 anos chamado Raul Seixas. E ninguém podia prever o que viria pela frente a partir deste encontro. Eram as duas únicas figuras que entendiam de rock na Bahia.

Da esquerda para a direita: Waldir Serrão e Raul Seixas.


Em entrevista a Debora Alcantara ao jornal on line O Rebate, Serrão, certa ocasião, abriu o jogo: "Eu comecei tudo. Fui eu quem levou Raulzito para esse mundo, mesmo contra a vontade de Dona Maria Eugênia, a mãe dele. Mas ele morreu roqueiro". Certamente a culpa não seria de ninguém de Raul ter morrido devido a vida turbulenta que o rock and roll participou como trilha sonora. Certamente, se não fosse pela boca de Waldir Serrão haveria qualquer outro tipo de influência. Raul era rato de discos importados e conseguia comprá-los na alfandega, que era algo parecido com a pirataria de camelôs de hoje, porém, os discos adquiridos (contrabandeados) eram originais e não cópias. Serrão e Seixas eram bem abastecidos de cultura estrangeira e consequentemente podiam comandar a juventude local. Waldir saiu em vantagem porque começou tudo como DJ num programa de rádio. Já Raul ainda não tinha montado sua primeira banda Os Relâmpagos do Rock, porém, partia para as mimicas, o que era comum entre os calouros que frequentavam os programas de rádio da época.


Para saber mais, assista no you tube:





AGUARDE PUBLICAÇÃO DE TODA REPORTAGEM ESCRITA EM TEMPO REAL.    
 

sábado, 7 de julho de 2018

EVANDRO MESQUITA - ENTREVISTA PARA A BÍBLIA DO ROCK

  Cantor, ator e compositor carioca, lenda viva do rock brasileiro dos anos 1980, que dispensa maiores apresentações. Mesmo assim, vou desenhar aqui, para alguns leigos, que muitas vezes sequer conhecem o ABC made in Brazil. Pois bem... Evandro Nahid de Mesquita, iniciou sua carreira artística no grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone na década de 1970, porém, em 1982, quando era vocalista da banda Blitz, conheceu o sucesso nacional e, nesse mesmo ano, também despontou como ator em nada menos que três filmes, tais como "Menino do Rio", "O Segredo da Múmia" e "Rio Babilônia". Patrícia Travassos, atriz e roteirista, era casado com ele, nesta época. Também, seguiu carreira solo gravando vários discos e como ator, dotado de grande veia cômica, entrou em destaque atuando em muitas novelas ("Cambalacho", "Fera Radical", "Top Model", "Vamp", entre outras) e seriados de TV ("Armação Ilimitada", "Malhação", "Os Normais" e "A Grande Família"). Invariavelmente, Evandro ficou marcado como o protótipo do malandro praieiro boa-pinta , simpático e sedutor, porém, graças ao seu estilo descontraído comprometido com a vida na estrada a la pop rock, conseguiu se manter no topo, sem nunca perder o bom humor (lembrando que ele chegou a personificar Chacrinha no programa "Por Toda a Minha Vida", em 2008). Dois anos antes, no final de 2006, no Canecão, voltou com sua banda de pop rock, desta vez, para seu primeiro registro em DVD oficial, "Blitz ao Vivo e a Cores", lançado posteriormente pela EMI-Odeon. Finalmente, em 2010, saiu "Eskut Blitz", o primeiro CD de músicas ineditas, que serviu de estímulo para lançar o segundo DVD da banda. Nos anos seguintes, Evandro Mesquita, seguiu alternando funções, sem nunca sair da mídia. Em 2017, integrou o elenco da novela "Rock Story", da TV Globo, no papel de Almir Regis, porém, um dos seus últimos longas-metragens de grande importância foi "Brasília 18%", dirigido pelo mestre Nelson Pereira dos Santos, em 2006. Também marcou presença em "California", de Marina Person, durante o desenrolar de 2015.
  Enfim, Evandro Mesquita possui a carreira mais pop que já se teve notícia, o que, por outro lado, coleciona as maiores críticas dos roqueiros radicais e tribos metaleiras (que alimentam o referencial que "roqueiro que é roqueiro tem que ficar no underground"). Afinal de contas, o sucesso faz mal? Num mundo onde opiniões se chocam a cada segundo, via internet, nada mais natural que entrar na chuva para se molhar. E, pelo visto, Evandro Mesquita, sempre se molhou com o maior prazer.



A ENTREVISTA


EMERSON LINKS

O que o rock representa para você?

EVANDRO MESQUITA

Rock é pedra! É contestação, transgressão, rebeldia, alegria. É manifestação primal, atitude e etc e etc.

EMERSON LINKS

O que o rock representou para a história da sociedade, através dos tempos?

EVANDRO MESQUITA

O rock deu voz e grito a juventude do planeta... O importante não era ter voz, e sim ter vez! Falar do lado claro e escuro do fundo da nossa alma e da superfície da nossa pele. Quebrou tabus sexuais, balançou estruturas e questionou o sistema além de assustar os caretas.

Com o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone (da esquerda para a direita: Perfeito Fortuna, Regina Casé, Evandro Mesquita, Patrícia Travassos e Luiz Fernando Guimarães).


EMERSON LINKS

Quando, onde  e como você ouviu o rock and roll pela primeira vez?

EVANDRO MESQUITA

Acho que com Chuck Berry, Little Richard, os filmes de Elvis. Mas o primeiro compacto de vinil de rock foi dos Beatles, "Os Reis do Iê-Iê-Iê". Eu nem sabia quem eram aqueles quatro. Comprei pela atitude da foto da capa, com os quatro cabeludos pulando. E um mundo novo se abria.

EMERSON LINKS

Quais foram suas influências nacionais no que diz respeito a intérprete e bandas?

EVANDRO MESQUITA

Roberto e Erasmo, Celly Campello, Mutantes, Novos Baianos, Raul Seixas.

Celly Campello, conforme citado acima, uma das muitas influências de Evandro Mesquita.


Roberto Carlos, outro nome, no início da formação musical do vocalista da Blitz.

O genial Raul Seixas, outra grande influência.


The Beatles, influência internacional, que Evandro Mesquita agradece.



EMERSON LINKS

Qual foi sua primeira experiência amadora e profissional?

EVANDRO MESQUITA

Tinha uma banda com um primo e amigos. E o meu primeiro show foi atrás de uma igreja, numa quermesse. Tocávamos Beatles, jovem guarda, Stones e tínhamos duas composições próprias.

EMERSON LINKS

A sua família era conservadora?

EVANDRO MESQUITA

Não. Minha mãe era professora e sempre foi maravilhosa. Meu pai não queria que eu comprasse o compacto dos Beatles, mas ele tocava violão clássico e faleceu antes de me ver fazendo música profissionalmente.

EMERSON LINKS

Faça um relato. Conte um pouco de suas memórias musicais.

EVANDRO MESQUITA

Me lembro muito da expectativa dos novos discos dos Beatles, dos Stones, dos Mutantes. Devorava a capa e os discos (eram uma viagem), ficava imaginando as bandas tocando, tentava traduzir as letras e aí vieram as outras descobertas: Dylan, Pink Floyd, Led Zeppelin, Hendrix, Janis Jopplin, etc.




EMERSON LINKS

Fale, também, do contato com seu primeiro instrumento musical.

EVANDRO MESQUITA

Ganhei um violão Di Giorgio de nylon que eu troquei por cordas de aço. Depois ganhei uma guitarra Rei e um amplificador Mustang.

EMERSON LINKS

Você acha que o movimento hippie foi importante para o rock nacional?

EVANDRO MESQUITA

O movimento hippie foi importante para o mundo. Os festivais (paz, amor e loucura) aguçaram nossa curiosidade e criatividade. Tivemos um mini-Woodstock, aqui (Rio de Janeiro), com direito a mergulho de cabeça na plateia (Tony Tornado, no estilo Sly and Family Stone).

EMERSON LINKS

Você acha que o movimento punk revigorou a cena roqueira nacional?

EVANDRO MESQUITA

É. Deu voz a quem não tinha nem boca e surgiram bandas boas e importantes. E muita merda tambem.

EMERSON LINKS

Você acredita que o movimento new wave ajudou a estimular o rock nacional dos anos 1980?

EVANDRO MESQUITA

Um pouco e, depois, ajudou a desestimular, também.

EMERSON LINKS

No papel de compositor, quando foi que você atingiu seu auge?

EVANDRO MESQUITA

Meu auge foram os três primeiros discos da Blitz.

No início de tudo: Evandro Mesquita (guitarra e voz), Fernanda Abreu (backing vocal), Marcia Bulcão (backing vocal), Ricardo Barreto (guitarra), Antonio Pedro Fortuna (baixo) William "Billy" Forghieri (teclados). Lobão (bateria) não consta nesta foto (que seria substituído por Juba). Ou reza a lenda que ele saiu da banda para seguir carreira solo.



EMERSON LINKS

Houve uma realização artística ou financeira?

EVANDRO MESQUITA

A Blitz meteu o pé na porta e foi a banda mais importante da nova música contemporânea. Com o sucesso da Blitz, todas as outras gravadoras abriram as portas para tentarem descobrir outras "Blitz", o que possibilitou muita gente gravar. As duas bandas que abriram os caminhos e os trabalhos foram Blitz e Barão Vermelho. E o resto veio depois... Paralamas, Legião, Kid Vinil, etc...


EMERSON LINKS

Descreva os intérpretes e bandas que você considera mais importante na história do rock (nacional e mundial).

EVANDRO MESQUITA

Nacional: Caetano, Gil, Rita, Blitz, Lobão, Barão, Chico Science, Raimundos, Paralamas, Pato Fu, etc. Internacional: Bob Marley, na veia, até hoje! Beatles, Stones, Dylan, Led Zeppelin, Hendrix, The Who, Pink Floyd, Prince, Sly and milhões de outros.



EMERSON LINKS

Em termos de mercado de trabalho e filosoficamente falando, voce considera o mainstream tão importante quanto o circuito underground?

EVANDRO MESQUITA

Acho fundamental ter raízes no underground e conquistar espaço no mainstream. Acho muito limitado quem só toca pra um público específico que pensa e consome coisas iguais. Gosto de entradas e bandeiras. Descobrir o mundo. A boa música fala todas as línguas e entra em todos os lugares.



EMERSON LINKS

Você acredita que o rock modernizou a MPB, acrescentando as guitarras elétricas nas canções, que antes eram proibidas pelos tradicionalistas?

EVANDRO MESQUITA

Sem dúvida. Caetano ("É Proibido Proibir"), Gil e os Mutantes numa "Procissão" que fez a "Banda" sair em "Disparada". E depois daquele festival da Record, a MPB nunca mais foi a mesma.

EMERSON LINKS

Você concorda com essa super valorização que a mídia faz em cima do rock dos anos 1980?

EVANDRO MESQUITA

Concordo. Sou suspeito para falar pois era um dos que seguravam essa bandeira na época. E Cazuza foi o melhor poeta e intérprete da minha geração. E a Blitz com sua poesia de rua arregaçou a poesia "universiotária e inteligentosa" da época.


EMERSON LINKS

Até que ponto as drogas exerceram um influente papel no trabalho musical dos roqueiros? Exemplo: Os Beatles usaram LSD, em uma determinada fase de suas vidas, nos anos 1960, para gravar alguns discos.

EVANDRO MESQUITA

Fazia parte da época. E ajudou a mergulhos mais profundos... Uns deram em experiências musicais sensacionais e outras deram em bad trip. E deu merda.

EMERSON LINKS

O romantismo perdeu sua essência frente a uma geração que não produz mais música para dançar (no que diz respeito ao rock and roll e não a música brega). Por que não há mais espaço para o romantismo como havia no rock dos anos 50 e 60?

EVANDRO MESQUITA

Porque devemos transformar as coisas já escutadas e colocar a cara atual. Não se deve esquecer as boas referencias e influências, mas... Quem vive de passado é museu.

Blitz, com sua nova formação, no Domingão do Faustão.


EMERSON LINKS

Qual o fato musical mais relevante de toda a história do rock nacional?

EVANDRO MESQUITA

Sem duvida, anos 80.



EMERSON LINKS

Qual contribuição da música de Raul Seixas para contar a história do rock?

EVANDRO MESQUITA

Enorme.

EMERSON LINKS

Raul Seixas é o Rei do Rock brasileiro.

EVANDRO MESQUITA

Esse negócio de coroar é bom para Margaret Tatcher (?) Raul foi um grande guerreiro.

EMERSON LINKS

Estamos numa guerra e coroar faz parte. Aqui, todos que participam, adoram opinar sobre isso. A propósito. Rita Lee é a Rainha do Rock brasileiro?

EVANDRO MESQUITA

Rita Lee é e sempre foi fera. É atuante até hoje, formadora de opinião e esse negócio de Rei e Rainha é bom pra jogar baralho.



EMERSON LINKS

E por falar em baralho... a bossa nova  foi um movimento antagônico ao rock and roll?

EVANDRO MESQUITA

Não. Estilos diferentes e nasceu num Rio menos poluído onde passava um ônibus de meia em meia hora. Se fosse hoje, Vinicius e o Tom nem teriam visto a Garota de Ipanema passar com tanto camelô e trânsito na porta do Bar Veloso. Dava para escutar o violão do genial João Gilberto. Hoje para ser ouvido o VU tem que estar colado no vermelho.

EMERSON LINKS

Essencialmente o que difere o rock de norte ao sul?

EVANDRO MESQUITA

O sotaque e as influencias locais.

EMERSON LINKS

A música eletrônica poderá acabar com o rock and roll?

EVANDRO MESQUITA

Enquanto houver garagem ou quartinho da avó e uns três ou quatro adolescentes o rock rolará.


EMERSON LINKS

Por que o heavy metal brasileiro ou mesmo o internacional tem pouca penetração nas rádios oficiais?

EVANDRO MESQUITA

Porque é uma merda, salvo raríssimas exceções. Sepultura não morreu.

EMERSON LINKS

O disco mudou a sua vida economicamente ou foi apenas uma opção prazerosa?

EVANDRO MESQUITA

As duas coisas. Nada melhor que fazer o que você gosta e ser bem pago por isso.

EMERSON LINKS

Sobre a política do jabá explorando o artista, o que você tenha dizer. E sobre a internet acabando com as grandes gravadoras?

EVANDRO MESQUITA

Tomara. Que a maioria é de filhos da puta. Com exceções, também.

EMERSON LINKS

Deixe aqui, algumas palavras para o projeto multimídia "A Bíblia do Rock", que terá um longa-metragem e livro sobre a história do rock.

EVANDRO MESQUITA

É um ótimo resgate, já que o brasileiro consome e cospe. Acho importante gente contando histórias da música e bandas que fazem parte da trilha sonora de várias gerações. 

 
Evandro Mesquita se apresentando com a Blitz. Foto: Jovem Pan.


Discografia da Banda Blitz:


1982 – As Aventuras da BLITZ 1

1983 – Radio Atividade

1984 – BLITZ 3

1990 – Todas as Aventuras da BLITZ

1994 – BLITZ ao Vivo

1997 – Línguas

1999 – BLITZ 2000 Últimas Notícias

2006 – BLITZ – Com Vida

2008 – BLITZ – Ao Vivo e a Cores

2009 – Eskute Blitz

2010 – DVD Ao Vivo Eskute e Veja Blitz

2013 – Multishow Ao Vivo – Blitz 30 Anos



Evandro Mesquita em carreira solo (disco):

1986 - Evandro

1988 - Planos Aéreos

1989 - Procedimento Normal

1991 - Almanaque Sexual dos Eletrodomésticos e Outros Animais



Filmografia de Evandro Mesquita, segundo o wikipedia:



AnoTítuloPersonagemDireção de:
2017Meu Malvado Favorito 3Balthazar Bratt (dublagem)Pierre Coffin
2015Califórnia
Marina Person
2006Brasília 18%Paula NeyNelson Pereira dos Santos
2005Coisa de MulherMuriloEliana Fonseca
Um Lobisomem na AmazôniaJean-PierreIvan Cardoso
Deu Zebra!Ganso (dublagem)Frederik Du Chau
2004O Diabo a QuatroFúlvio FontesAlice de Andrade
5 Criaturas e a CoisaA Coisa (dublagem)John Stephenson
2003Os Normais - O FilmeSérgioJosé Alvarenga Jr.
1999GêmeasOsmarAndrucha Waddington
Xuxa RequebraDJTizuka Yamasaki
1998Como Ser SolteiroLuísRosane Svartman
1994Dente por Dente (curta-metragem)dentista-poetaAlice de Andrade
1991Não Quero Falar Sobre Isso AgoraDaniel O'NeilMauro Farias
1985The Emerald ForestGuerreiro da Tribo InvisívelJohn Boorman
1982O Segredo da MúmiaÉverton SoaresIvan Cardoso
Menino do RioPaulinhoAntônio Calmon
Rio Babilônia(participação especial)Neville de A






sábado, 16 de junho de 2018

MORRE MUTUCA, UM DOS PIONEIROS DO ROCK GAÚCHO


Intérprete e músico do rock clássico, que cresceu durante a aurora do ritmo maior, morre sem alcançar sucesso nacional.



  Carlos Eduardo Weyrauch, prestes a completar 72 anos de vida no próximo dia 12 de agosto do ano vigente (nascido em 1946, no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre) não resistiu às pressões físico-existenciais. Ainda com muito vontade de seguir em frente naquilo que mais amava (o rock), o velho mestre foi pego de surpresa por um ataque cardíaco (perto da meia-noite do dia 12 de junho, em sua residência na cidade de Taquara-RS). Como todo sobrevivente de uma época marcada pelo pioneirismo, ele exercitava sua nostalgia atuando como DJ numa emissora de rádio. Mutuca (nome artístico que adotou após ser caçoado pelos colegas de escola no início dos anos 1960), manteve por décadas o Hot Club do Mutuca (que comandava desde 1991, na Ipanema FM, em Porto Alegre), tocando músicas e recebendo convidados dos mais variados tipos, ou seja, artistas veteranos e novos talentos. Atualmente, apresentava seu programa na Rádio Dinâmico FM, de propriedade do comunicador Claudio Cunha (também radialista da Ipanema). Em tempos que o rock deixou de ser música de referência para a juventude, ele mantinha seu público cativo, principalmente porque estava sempre na estrada com sua Mutuca & Banda.
  Além de ser um artista fiel às raízes, o músico gaúcho tinha excelentes qualidades humanas. Uma delas era a generosidade. Desde quando iniciei oficialmente a captação de imagens para o longa-metragem A BÍBLIA DO ROCK, bem no início de 1999, viajando por todo o país, Mutuca era o que mais colaborava concedendo entrevistas exclusivas em épocas distintas, ou seja, sempre atualizava alguma informação sobre si ou sobre o panorama mundial e local do rock. Não apenas entrevistas, como também, shows em variados espaços, bastidores de gravação de disco, etc. Diferentemente de alguns que não compreendiam a importância de acumular acervo para um projeto tão especifico, parecia que ele (Mutuca) sabia que todo esse material poderia ser usado em um futuro trabalho sobre sua própria carreira. Existe material sobre o músico em algumas emissoras de TV da capital gaúcha, mas registros produzidos de forma independente e com qualidade eu garanto que não. Tendo em vista isso... Sentindo a necessidade de constituir um acervo mais variado sobre o músico tratei de acompanhá-lo, na medida do possível, por nada menos 19 anos. Na função de documentarista, eu havia feito isso com outros pioneiros do rock brasileiro, tipo Serguei, mas com um artista gaúcho era algo que ninguém havia tomado conhecimento ainda, ou seja, essa iniciativa de constituir um acervo individual para cada artista utilizando uma câmera de alta definição "professional". Então... Juntamente com Mutuca, surgia a oportunidade de documentar esporadicamente Wander Wildner (Os Replicantes), Egisto Dal Santo (também outro grande artista e agitador cultural que possuo muito material e história para contar), Plato Divorak (simplesmente o alienígena do rock, outro grande personagem) e Júlio Reny (o poeta soturno do underground), mas o pioneiro dos pampas era o único que tinha um programa de rádio tradicional e que ganhou, inclusive, o único registro em tempo real da história, em uma das ocasiões que eu passava temporadas em Porto Alegre e visitava a Ipanema FM. Mutuca estava sempre e a disposição e eu realmente queria fazer um filme sobre as andanças e alguns flagrantes básicos da vida pessoal deste peculiar personagem do rock. Eu brincava com ele: "Tornei-me produtor e guardião de sua memória audiovisual". Volta e meia, um pensamento também invadia minha mente: "Mutuca pode um dia virar filme, sim, mas antes preciso arranjar dinheiro e concluir a BÍBLIA DO ROCK". Minha vida pessoal, muito corrida e nômade, sempre impediu que isso se tornasse realidade. Críticas não faltam, mas sobrevivo e sigo em frente. Ninguém está em minha pele para saber o quão é difícil ser independente no Brasil.

Mutuca em 1956 no grupo escolar Apelles, no quarto ano primário, na capital gaúcha.

Mutuca em julho de 1963, jamais imaginando o longo caminho que teria que percorrer, mas sempre em sintonia com o rock.

Em 1969, com a banda Succo, em Porto Alegre.


Mutuca, também, entrando em sintonia com a tropicália e a Era Hippie, no final da década de 1960 e início de 1970.




  Muitos vão questionar o fato de Mutuca nunca ter feito sucesso nacional com o aval de uma grande gravadora. Daí, respondo: "Uma das qualidades de um rocker é viver no underground, ser cultuado por um público seleto e não virar marca de alguma calça jeans". Os primeiros ídolos do Mutuca eram Chuck Berry, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis - mas para este último, por sinal, ele abriu o show realizado no Pepsi On Stage, em Porto Alegre em 2009. Qual pioneiro do rock conseguiu tal façanha? Embora tenha crescido ao som de Celly Campello, Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, George Freedman, Demétrius e Ronnie Cord, Mutuca aproveitou bem a chegada do rock britânico na capital e acabou fisgado na primeira audição. Bandas da jovem guarda (Renato e seus Blues Caps, por exemplo) eram ouvidas, mas sua influência vinha mesmo de Liverpool (The Beatles, Herman's Hermits), do rock americano (todas bandas sixties) e da fase do rock psicodélico brasileiro (Os Mutantes). Entretanto, toda vez que pensava em ser lançado em disco algo andava para trás. Valeu a pena esperar, pois seu dia chegou em 1999. Durante a juventude, Mutuca não gravou nenhuma música, mas se apresentava nos clubes e bailes com a Alphagroup (a partir de 1967, quando estreou em Caxias do Sul) e Succo (1969). Ele teve muitas bandas nas décadas seguintes, sendo que, Mutuca & Os Animais, foi a que ficou na mente de muitos seguidores. Músicos lendários também subiram no palco com ele em outras bandas que formou. Ei-los: Mitch Marini, Flávio Chaminé, Claudio Vera Cruz, Claudio Levitan, Giba-Giba, Bebeco Garcia, Léo Ferlauto, Edinho Galhardi, entre outros. Em sua família, havia alguém que seguia o exemplo regional mais prático de firmar uma carreira, em outras palavras, Carlinhos Hartlieb, artista renomado dos anos 1970, no Rio Grande do Sul. Hartlieb era primo de Mutuca. Ele tinha uma carreira musical bem diversificada em solo gaúcho, porém, morreu assassinado em 29 de janeiro de 1984, deixando um vasto material como músico, compositor e agitador cultural. A grande verdade é que havia um divisor de águas entre esses dois músicos que eram parentes, mas nada que pudesse incomodar plenamente um ao outro. Cada qual tinha sua reputação individual no meio artístico. Mutuca estava em outra esfera, nutria-se do circuito underground. Ao longo das décadas, até chegar ao século XXI, ele se tornou personagem cult de Porto Alegre, a capital gaúcha. Ensinou o rock original a várias gerações, tocava somente os melhores (Beatles, Stones, Steppenwolf, Hendrix), além de canções do seu repertório, digamos assim, mais pessoal ("Faxineira", "O Blues da Casa Torta" e "Entrei numa Fria"). Vale lembrar que a versão em português de "Jailhouse Rock", lançado no álbum, "Hot Club", gravado de 1999, era cem vezes melhor que aquela que Jerry Adriani gravou em 1994. Lançado pela Barulhinho, Mutuca havia se cercado de músicos como Paulinho Supekovia (guitarra solo), Sérgio Stock (teclados), Lúcio Vargas e Duda Guedes (ambos dividindo a bateria). O disco "Hot Club", chegou a render uma indicação ao Prêmio Açorianos. Ainda acho que o grande charme da história foi a própria trajetória de Mutuca, tocando ao vivo nos palcos, em busca de reconhecimento, sim, mas sem aquele glamour típico das grandes estrelas fabricadas pelas gravadoras majors. Mutz, como era carinhosamente chamado pelos amigos mais próximos era puramente "clássico" e "underground". Na fase final de sua carreira, cercou-se, também de músicos afiados, tais como como Fast James (guitarra), Eze Guarnieri (baixo) e Thavo de Los Santos (bateria), que resultou na gravação de um novo álbum que, por falta de verba para divulgação, não alcançou a cena indie nacional. Pois bem... Acho que nada serve de consolo em relação a essa perda, porém, sua memória será resgatada na memória de amigos e fãs.

Mutuca com Kim Jim (Os Garotos da Rua) e outros músicos lendários.

Os Fabulosos Irmãos Brothers.




  Espero que, no futuro, encontrando tempo, eu aproveite essas dezenas de horas de imagens do artista e realize um documentário de qualidade, independente dos possíveis tributos que algum produtor chapa branca decida lançar no Histórias Curtas, da RBS-TV ou coisa parecida.

  De resto, nós os sobreviventes, seguiremos nesta jornada misteriosa que é a vida.  (...) E as pedras continuarão rolando... rock and roll forever.

Mutuca abriu o show de Jerry Lee Lewis, em 2009, no Pepsi On Stage. Este cartaz, claro, é de outro evento...

O pioneiro em pleno exercício. 


Show de Mutuca e Jimi Joe, em 2016.

Anúncio do último show que acabaria não acontecendo.



  Em tempo: Em 31 de dezembro de 2017, reservei um espaço sobre a Festa de 50 Anos de carreira, postada no blogger e no you tube. Lá entre uma música que outra, o internauta poderá ouvir o depoimento derradeiro de Mutuca. Nota-se um certo ar de melancolia em sua face e cansaço de um artista que sempre lutou por dias melhores. Confira:





Para saber mais sobre Mutuca, assista no you tube:


FAXINEIRA.




O BLUES DA CASA TORTA.





NUMA DE HORROR.


ENTREI NUMA FRIA.


MUTUCA NO PROGRAMA RADAR - TVE - TV CULTURA.