segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014



TONY CAMPELLO, AO LADO DA IRMÃ CELLY, FOI O PRIMEIRO GRANDE ÍDOLO JUVENIL DO ROCK AND ROLL DOS ANOS 1950



   Ele faz aniversário no mesmo dia que, hoje, 24 de fevereiro de 2014, George Harrison estaria fazendo (caso ainda estivesse vivo), e surgiu numa época em que os jovens ainda não tinham sua própria música, na década de 1950. Tony Campello pertence a uma geração anterior que a do ilustre beatle, que abriu fronteiras para a modernização da música no mundo ocidental. Pois bem... Até meados de 1955, pelo menos, no Brasil, a garotada ainda só tinha como opção ouvir música no rádio endereçada aos mais velhos. Tirando uma sobrevida do som das swing bands que embalou os jovens dos anos 1930 e 1940, restavam apenas samba-canção, bolero e marchinhas carnavalescas. Eis que, no meio de tanta ações da ditadura do mundo adulto, alguns jovens do interior dos EUA, emergiram do anonimato como cantores de rhythm and blues. Da gravadora Sun Records, surgiu Elvis Presley e juntamente com ele outros tantos que conhecemos como Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Roy Orbison, Johnny Cash, etc. Do outro lado da pista, Fats Domino, Lloyd Price e mais uma leva afroamericanos super talentosos. Isso é só para citar os mais ouvidos dessa geração. Em 1954, Bill Haley já havia lançado "Rock Around The Clock", mas a música só ganhou vez quando virou abertura do fime, "Blackboard Jungle / Sementes da Violência", de Richard Brooks, já nos idos de 1955. Simultaneamente, Chuck Berry e Little Richard estavam com compactos gravados sendo lançados por importantes selos. Ao mesmo tempo havia a febre do woop com The Platers, The Flamingos, entre outros. Ah, Gene Vincent só marcaria presença em 1956 e, mais adiante, teríamos Buddy Holly, Eddie Cochran, Ritchie Vallens, Johnny Burnette e, claro, o maior rival do então aclamado Rei do Rock  Elvis Presley, o senhor Jerry Lee Lewis. Muitos destes ganharam destaque em todo o planeta em revistas e programas de TV. O rock and roll começa a se tornar o primeiro grito de guerra da juventude mundial.
   E no Brasil?... Bem... Nora Ney havia feito uma versão do sucesso de Bill Haley, que logo em seguida ganhou uma versão em português gravada por Heleninha Silveira. Em 1956, Carlos Gonzaga, um cantor de boleros e guarânia, é convidado para gravar uma balada de rock, "Passeando pela Chuva", uma versão de um sucesso de Johnny Ray. Seria Carlos Gonzaga o nosso primeiro cantor de rock mesmo tendo gravado uma balada?... Ah, mas aí um pouco antes, Betinho e seu Conjunto, gravou "Neurastênico", em 1954, que não chega a ser considerado um rock and roll, mas que brevemente, em 1957, gravaria o primeiro rock de composição brasileira com uso de guitarras. No mesmo período, quase simultaneamente, Cauby Peixoto gravou "Rock and Roll em Copacabana", considerado o primeiro rock genuinamente brasileiro, em matéria de composição e letra. De qualquer forma, Cauby Peixoto não era um nome do rock brasileiro e sim um grande intérprete da MPB da época, um grande rival de Francisco Carlos. Quem realmente apareceria na grande mídia da época como pioneiro do rock e primeiro ídolo juvenil seria Tony Campello, natural de São Paulo, mas que morava com os pais em Taubaté. Sua história começou no conjunto de baiele Ritmos OK em 1955, mas o primeiro disco, "Forgive Me" só aconteceria em 1958, pela gravadora Odeon. Do outro lado do disco não registrou nenhuma outra faixa porque a proposta é que tal canção escolhida, "Handsome Boy", fosse gravada por uma cantora jovem. A eleita foi sua própria irmã, que substituiu Celeste Novaes, para o alívio de todos os envolvidos. Segundo relatos de sobreviventes da época, o compacto com Celly e Tony Campello não vendeu tanto como se imaginava. Uma das queixas era que as músicas lançadas, mesmo sendo composições brasileiras, tinham letras em inglês. Era necessário algo mais para o público jovem se identificar e entender o que seus jovens interpretes estavam cantando. Como a maioria da população brasileira não falava fluentemente o inglês seria difícil manter a atenção dos consumidores para astros que nem eram estrangeiros. Os primeiros ídolos juvenis brasileiros Celly e Tony Campello seguiram gravando em discos separados. Quis o destino que Celly Campello fosse eleita posteriormente a "Rainha do Rock Brasileiro". Já Tony Campello continuou firme apostando na carreira com sue vocal privilegiado por Deus gravando compactos que ainda hoje merecem muitas audições. Um dos seus sucessos mais lembrados de Tony Campello levou o nome de "Boogie do Bebê", que ganhou as rádios e as lojas em 1963, um ano depois de Celly Campello renunciar a sua promissora carreira. Entretanto, ainda no final dos anos 1950, Tony encontrou fortes rivais como Sérgio Murilo, George Freedman, Ronnie Cord e Demétrius. Os menores sempre comia poeira como Danny Dallas e Nick Savoia. Até Prini Lores posteriormente tinha condições de ficar no topo, mas Tony Campello era Tony Campello. Seus discos eram retratos fiéis de sua potência vocal e o pioneirismo conquistado ninguém tinha condições de negá-lo. E olha que ainda tivemos Eduardo Araújo em sua fase rockabilly arrebentando as cadeiras da cena carioca. Alguém já ouviu "O Garoto do Rock"?
   Com fortes raízes no rock clássico dos anos 1950, Tony abriu mão de seguir a onda da beatlemania lançada com a chegada do fab four à América em fevereiro de 1964. Tempos depois, participaria apenas do primeiro programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos. Tony nunca foi de ceder a esquematismos, ainda mais se tratando de televisão, coisa que já havia experimentado ao lado de Celly Campello no Crush in Hi-Fi. Com "Pertinho do Mar" (1965), ele inicia um novo ciclo do rock brasileiro, mas o provável desgaste com a vida na estrada colocaram-no dentro do estúdio. Tony Campello virou um excelente produtor de discos. Segundo ele próprio, uma decisão sem arrependimentos. Em 1968, produziu a volta de Celly em um compacto e novamente apareceu ao lado dela no documentário "Ritmo Alucinante" (1975). Quando a novela "Estupido Cupido" fez sucesso em todo o Brasil em 1976, Tony ganhou uma faixa no álbum, justamente seu antigo sucesso "Boogie do Bebê". Nos anos seguintes, retornaria apenas em festas revivals. Numa delas, em 1989, cantou ao lado da irmã e também em companhia de Carlos Gonzaga e Sérgio Murilo. Perto dessa época trabalhou ao lado de Albert Pavão na seleção de músicas para o vinil "Rock Anos 60", onde marcou presença com duas faixas dos seus antigos sucessos. Em 1995, regravou "Baby Rock" para a caixa de Cds dos "30 Anos da Jovem Guarda".

TONY CAMPELLO AINDA COM TODO O GÁS NO SÉCULO XXI

   Em 2001, Tony Campello participou da festa de 50 anos de Marcelo Nova dividindo o palco com alguns ícones do rock e bandas novas deste ano como a Bideoubalde. Antes do final da primeira década de 2000, também subiu as palcos para acompanhar uma banda de rockabilly de talento da nova geração conhecida como Ready Teds. Graças ao circuito jovem de rockabilly do eixo RIO-SP, os pioneiros puderam transitar com suas performances nos mais variados points. Fora isso, a banda pioneira do rock dos anos 1970,  a Made in Brazil, sempre se lembra de convidar Tony Campello para uma aparição surpresa como num vídeo selecionado por mim logo abaixo. De mais interessante sobre a trajetória e pioneirismo de Tony Campello como primeiro ídolo juvenil do rock brasileiro poderá ser conferida no documentário "Brotos Legais", dirigido por Dimas Junior, e no longa-metragem "Bíblia do Rock". Fora o material selecionado abaixo e os filmes que ele participou como "Jeca Tatu" e "Zé do Periquito", só existem videos postados por amadores no you tube. Um deles, como se sabe, faz questão de desinformar o público dizendo que o rock brasileiro completou 50 anos este ano quando qualquer estudioso que não faltou a aula de matemática sabe que foram 60 anos de Rock no Brasil. Essa é a maior mancada do ano, difícil de perdoar.
   Caro leitor, demonstre bom gosto e assista apenas videos produzidos por profissionais da área, exceto quando for algum flagra histórico de cinegrafista amador competente. Ultimamente tem muito músico de banda e pesquisador de discos por aí resolvendo brincar de cineasta. "50 Anos de Rock Brasileiro"????.... Faça-me o favor... Se alguém quiser fazer um documentário de verdade que vá fazer um curso de cinema e que não seja com menos de 100 horas ou faça melhor: curse uma Universidade. Além de talento é necessário possuir qualificações. Afinal de contas, os espectadores merecem respeito e não um "abacaxi audio-visual".
   Enfim... Por enquanto, na dependência das autorizações das gravadoras, o negócio é esperar e ter paciência com tanta burocracia nos privando da celebração da cultura musical brasileira que será feita com "Brotos Legais" e "Bíblia do Rock". Onde quer que você esteja agora ... FELIZ ANIVERSÁRIO, TONY CAMPELLO!!!






TONY CAMPELLO gravando entrevista com Emerson Links, nos estúdio do SESC IPIRANGA em São Paulo. 




Para ouvir o som de Tony Campello - ASSISTA no You Tube:







    










sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

HÁ QUASE MEIO SÉCULO OS BEATLES DESEMBARCAVAM NOS EUA PARA A RETOMADA DO ROCK MUNDIAL

Texto: Emerson Links.





   Estados Unidos, 7 de fevereiro de 1964. A primeira geração do rock and roll estava praticamente banida das grandes rádios. No lugar de Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins, Gene Vincent, Eddie Cochran, os "novos adolescentes" ouviam resquícios de Paul Anka, Neil Sedaka e Fabian ou entravam na onda do twist liderada por Chubby Checker. Tinha também a opção de ouvir os artistas negros da Montown. Nada tão mal assim, mas a coisa podia piorar quando a entresafra começasse a exigir novidades em termos de força rebelde. Na realidade, todos os artistas, com exceção dos Beach Boys e Jan and Dean, eram adultos casados e cheio de responsabilidades familiares. A juventude estava se sentindo pouco representada no rock and roll. Eis que de repente, a reação veio do outro lado do oceano Atlântico.
   -BEATLES!!!! Sim, essa era a palavra mágica que deixava todo mundo curioso. Era uma banda que estava fazendo o novo rock and roll, mas que, por razões óbvias, só alcançava sucesso na Europa. Não havia internet e as novidades levavam dias para sair nos jornais, rádios e TV. Assim, somente uma turnê de shows ao vivo faria a grande novidade do rock acontecer na maior vitrine do planeta: Nova York. Uma vez os Beatles haviam declarado que só visitariam os Estados Unidos quando tivessem uma música no primeiro lugar das paradas deste país. Antes de ser uma declaração arrogante, era um posicionamento consciente de um grupo que não desejava se tornar prodígio de um sucesso só e cair logo no esquecimento. E essa data finalmente chegou. Os Beatles, trajando seus terninhos e usando franjas e penteados estilo romanos, desembarcaram em Nova York em 7 de fevereiro de 1964. Em apenas 48 horas, mesmo sem existir internet e outras mídias velozes de hoje, o quarteto de cabeludos ficou famoso em toda a América. Afinal, o programa de TV Ed Sullivan Show, pela rede CBS, tinha sido assistido por cerca de 73 milhões de espectadores em 9 de fevereiro de 1964, o que iniciaria a retomada de bandas de rock na TV fazendo uma nova revolução estilística. Abaixo apresento a cronologia dos melhores momentos do início da Beatlemania:

a) os rapazes de Liverpool desembarcam às 13 h 20 min de 7 de fevereiro de 1964, no aeroporto John Fitzgerald Kennedy, de Nova York, no vôo 101 da PanAm. Pouco menos de um trimestre, o último presidente americano perdera a vida quando desfilou dentro de seu carro em Dallas, quando um suposto atirador chamado Lee Oswald lhe alvejara à sangue frio. Milhares de pessoas, não apenas jovens, mas 200 jornalistas e mais de 100 policiais aguardavam ansiosamente a grande novidade musical que lhes faria esquecer tal pesadelo americano. Também haviam Os Beatles era o maior nome das ilhas britânicas e sua chegada era muito aguardada. Apesar da propaganda não se tão explicita - tudo era mais visto em jornais e revistas e outro tanto vindos das rádios - um milhão de cartazes - sob a supervisão do empresário Brian Epstein - foram distribuídos entre os jovens com a seguinte mensagem: "Eles vêm aí". Juntamente com os Beatles também desembarcaram do avião, Brian Epstein, Neill Aspinall, Mal Evans, Brian Sommerville (relações públicas), Phil Spector (produtor) e Chynthia (a primeira mulher de John Lennon). Não muito longe dali, o escritor Tom Wolf, que estava cobrindo a chegada para o jornal New York Herald Tribune, descreveu o seguinte: "algumas das meninas tentaram saltar por cima de um muro de contenção". Apesar do inverno relativamente impiedoso, os Beatles foram muito bem recepcionados pelos fãs, fato que impulsionou sua rápida ascensão.
b) a coletiva com a imprensa não poderia ter sido mais alto astral. Todos os músicos bem humorados, irreverentes e charmosos. Era um tipo de grupo que fazia falta na cena não somente por causa da música - reciclagem do velho rock and roll com novas tendências - como também pelo carisma durante suas performances ao vivo. A entrevista coletiva concedida a 200 repórteres no saguão do aeroporto rendeu bons frutos, com exceção da revista Newsweek, que havia declaro depois que os Beatles visualmente eram um pesadelo enfiados no seus ternos eduardinos e cabelos em forma de tigela, e do New York Daily News, que não ficou muito longe disso, "bombardeada com problemas ao redor do mundo, a população voltou seus olhos para quatro jovens britânicos com cabelos rídiculos. Em um mês, a América os terá esquecido e vai ter que preocupar novamente com Fidel Castro e Nikita Krushev".
c) o programa de TV Ed Sullivan Show realmente foi decisivo para construção de um mito mundial. Em 1956, Elvis Presley virou sensação logo depois de sua estreia no programa. Com os Beatles não foi diferente. Os quatro rapazes reuniam todas as qualidades singulares encontradas no Rei do Rock e por isso encontraram o mesmo nível de consagração. Modernos demais para os padrões de 1964. Logo em seguida que Sullivan anunciou o nome do grupo, John, Paul, George e Ringo, conquistaram o público com "All My Loving". Um pequeno detalhe que ninguém esperava é que o estado civil de John foi revelado com uma legenda na parte inferior da tela de quem assistia em casa pela TV: "Ele é casado, meninas". Encerrando "All My Loving", os Beatles avançaram mais confiantes com "Till There Was You", "She Loves You", "I Saw Her Standing There" e "I Want To Hold Your Hand". Tratava-se de um pacote de músicas que era eficiente para um momento em que ninguém tinha ideia para onde as coisas poderiam ir. Depois do Beatles, somente Bob Dylan, naquele momento, sinalizava para algo realmente "inédito", mas Dylan não era inglês e nada tinha a ver com a invasão britânica que estava começando a tomar forma
d) no dia 11 de fevereiro de 1964, os Beatles chegaram de trem à capital americana, onde se apresentaram pela primeira vez em um show ao vivo nos EUA, que na visão de alguns experts foi um ensaio para a estreia no Carnegie Hall de Nova York no dia seguinte;
e) considerando que John Lennon era um homem casado, o mais cobiçado para a função de galã era mesmo Paul McCartney, que tinha traços faciais mais suaves e sorriso simpático. Ele passaria a ser o preferido de muitas mulheres.  

   Essa primeira visita dos Beatles foi um incentivo para outras bandas inglesas, e até mesmo americanas, redescobrirem o rock and roll como forma de expressão máxima da juventude. Na Inglaterra, a segunda banda mais preparada para o sucesso na América e no resto do mundo era a Rolling Stones, que faria em seguida uma tour pela América um tanto repleta de tropeços e críticas negativas, aos olhos da imprensa. Somente na segunda vez, os Stones encontrariam o sucesso e a solidificação da chamada Invasão Inglesa. O impacto deste movimento foi tão intenso que se refletiu no Brasil através da jovem guarda. As bandas mais sintonizadas com a Beatlemania era Renato e seus Blue Caps, Brazilian Bittles e The Clevers (depois Os Incríveis). Consequentemente, surgiram Os Canibais, The Bubbles, Os Brasas e uma enxurrada de nomes com o mesmo teor musical. Até mesmo os Mutantes eram fãs fervorosos dos Beatles e haviam feito suas primeiras aparições na TV interpretando alguns sucessos dos quatro cabeludos. Outro grande nome da época que absorveu a beatlemania foi Ronnie Von, que gravou uma versão de "Girl", que virou "Meu Bem". Ronnie Von era os quatro beatles em um só pessoa e subiu aos palcos pela primeira vez graças a Brazilian Bitles. Mas essa história fica para a outra oportunidade. Hoje é dia de lembrarmos o início do fenômeno Beatles na América.


          


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