sexta-feira, 6 de março de 2020

CARGÊ, DA BANDA CASA DAS MÁQUINAS, DEIXA NOSSA DIMENSÃO

  Após lutar bravamente contra um câncer no pâncreas, necessitando, inclusive driblar dificuldades financeiras, Carlinhos não resistiu e morreu nesta sexta-feira, dia 6 de março, em Caxias do Sul, interior do Rio Grande do Sul.


  Cada vez que entro, aqui, infelizmente, é para noticiar a partida de alguma lenda viva do rock. Afinal, este espaço (no caso, o blogger) cumpre apenas a finalidade de eu atualizar o projeto eternamente em desenvolvimento (livro, filme e postagens de conteúdo audiovisual em alguns hemisférios on line), com alguma coisa já lançada). Ano passado, depois de muita estrada, tive meu primeiro contato com Carlos Geraldo da Silva, de nome artístico Cargê, que entre muitas coisas, integrou a banda de rock setentista Casa das Máquinas, ao lado de outros ícones como o baterista Luiz Franco Thomaz, o Netinho (The Clevers e Os Incríveis, até hoje em atividade), José Aroldo Bina (ex-Som Beat) e o organista Pisca, codinome de Carlos Alberto Piazzoli (ex-integrante do conjunto musical que acompanhava Roberto Carlos). Em resumo, a trajetória de Cargê é lembrada por fãs de várias gerações, por causa deste protagonismo na Casa das Máquinas.


  Baixista, cantor, compositor e maestro, iniciou carreira nos anos 1960, quando constatou que a cena gaúcha era limitada em termos de artistas e bandas gravadas em disco e isso ficaria comprovado, ou seja, apenas menos de meia dúzia de grupos que migraram para o eixo Rio-SP, alcançaram projeção nacional, tais como Os Brasas e Os Cleans. A banda Liverpool, por exemplo, só gravaria um álbum, em 1969, o lendário "Por Favor Sucesso", no Rio de Janeiro. Pouco antes, nos tempos que a jovem guarda estava em fase de gestação, Carlinhos me contou que fez parte do trio Os Wandecos, por volta de 1964, que por razões evidentes tinha a função de acompanhar (instrumentalmente) a cantora Wanderléa em vários shows, em São Paulo. Logo, Cargê entraria para a segunda formação do grupo Som Beat, que tinha como integrantes José Aroldo Bina (que seria seu colega na futura Casa das Máquinas), Vicente Ferrer Juan (o Fafá) e Norival (este assumindo as baquetas e que posteriormente tocaria com Os Beatniks, Sunday e, enfim, acompanharia Roberto Carlos). Em contrapartida, nesse momento, as bandas em escala mundial já assimilavam a onda psicodélica, porém, o Som Beat ainda sofria influência dos Yardbirds, grupo coadjuvante da chamada Invasão Britânica. Mas isso já era o máximo para Cargê, em outras palavras, era conveniente fazer parte de uma banda desvinculada da jovem guarda. O Som Beat gravou o único compacto simples em 1967 para a RCA Victor, com uma releitura de "My Generation" (do então aclamado The Who) e "Listen People" (do assíduo Herman's Hermits, que inclusive fez uma temporada de shows no Brasil, neste época). Sem um empresário com mentalidade aberta para com o público juvenil, o Som Beat não fez sucesso explosivo e, aos poucos, caiu no esquecimento do público. Mesmo com o apoio do radialista Carlos Alberto Lopes (O Sossego, falecido recentemente), grupos como este estavam com os dias contados. Gargê, ainda no Som Beat, encerrou essa fase em grande estilo acompanhando a cantora Gal Costa, que havia absorvido a atmosfera hippie e fazia experiências com a música psicodélica. Outra banda muito especial que ele integrou foi Os Corsos, encabeçada pelo super guitarrista Sergio Vigilato, o canhoto (ex-Jet Black's). Tal história aconteceu por volta de 1967. Detalhe: Prometo mais adiante escrever sobre essa fase do artista com mais propriedade e fontes confiáveis.

Cargê integrando o grupo Os Wandecos.

Com Gal Costa e os demais membros do Som Beat, em Porto Alegre, no final dos anos 1970.


A carreira de Cargê daria um salto maior que o esperado, a partir da formação da banda Casa das Máquinas, que se tornaria um dos grandes pilares do rock brasileiro dos anos 1970. No início, os integrantes eram chamados de "Os Novos Incríveis" por causa do repertório retrô que essencialmente era mais adequado para animar os bailes. Assim como o Made in Brazil, no início, optaram pelo recurso cênico e muita maquiagem. Com a explosão do hard rock, os músicos perceberam que esse era o caminho a ser seguido. Cargê era o baixista e segundo vocalista da Casa das Máquinas, participando, de tal forma, dos anos gloriosos da banda, e gravando os dois primeiros álbuns lançados: o primeiro levou o nome do grupo, "Casa das Máquinas" e saiu pela gravadora Som Livre (1974), e o segundo foi batizado de "Lar das Maravilhas" (1975). Apesar da credibilidade artística, Carlinhos tomaria outro rumo logo em seguida, em 1976, e a banda renovaria sua composição antes de seguir frente (com as novas "presenças" de Catalau e Simbas), até ser extinta em 1978. E neste período, a onda da discotheque varria o rock das paradas, momentaneamente. Cargê, por razões de mercado continuou acompanhando outros artistas da MPB: Elis Regina, Tim Maia. Roberto Carlos,entre muitos. Não lançou nenhum trabalho autoral, porém, manteve-se próximo daquilo que mais adorava fazer, ou seja, viver de música. Na medida do possível, é claro. 

Capa do álbum de estreia da banda Casa das Máquinas.

Uma apresentação do grupo em 1974. 

Segundo álbum da Casa das Máquinas.

A Casa das Máquinas em um bom momento de descontração.



  A notícia morte de Carlos Geraldo Cargê chegou através dos seus perfis nas redes sociais, em especial, o facebook. Muito antes, músicos e admiradores de diversos segmentos do rock e da MPB postaram mensagens lamentando ocorrido.
  No momento, pretendo parar por aqui, devido aos compromissos, mas atualizarei essa matéria no decorrer das próximas horas, incluindo as devidas correções. E... sou grato pela presença dos fiéis, aqui, sempre bem-vindos. Também bem-vindos são os depoimentos sobre o artista que aceitarei, de bom grado, a fim de enriquecermos esse espaço-homenagem.
  Aleluia rock and roll e até a próxima.






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