sexta-feira, 29 de novembro de 2019

RAUL SEIXAS - ANÁLISES SOBRE INVERDADES




Olá, pessoal! Convido a todos a assistir no you tube o meu bate-papo com o Sylvio Passos, o escolhido de Raul Seixas, um discípulo do rock que atravessou décadas espalhando a cultura juvenil pelo país através do não menos Raul Rock Club, na condição de divulgador da obra do Maluco Beleza, produtor de discos e entertainer. Atualmente, Sylvio é integrante da Putos Brothers Band. Assista no you tube clicando no link acima.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

MORRE PEDRO BALDANZA, MÚSICO FUNDADOR DO GRUPO SETENTISTA, SOM NOSSO DE CADA DIA

Símbolo do rock progressivo e da MPB alternativa, Baldanza é mais uma vítima do "Ano Assassino", que ceifou talentos que farão muita falta na cena nacional.


"Pedrão", que fazia bom uso deste nome carinhoso, adotado durante sua jornada na música nacional (nas funções de baixista, guitarrista e compositor) engrossava uma extensa lista de artistas injustiçados" - graças a uma mídia subdesenvolvida que sempre consagrou (e ainda consagra) ídolos descartáveis de uma industria fonográfica engolida pelo universo on line. Torna-se redundante cair na vala comum e afirmar que se músicos como ele estivessem no Primeiro Mundo, teria acumulado ao longo de uma carreira um sucesso sem igual. Haja vista que a banda que protagonizou, O Som Nosso de Cada Dia, representava uma geração que virava as costas para o consumo excessivo de bens descartáveis e valores estéticos superficiais. Basta dizer que o movimento hippie surgido, por volta de 1967, em todo o globo terrestre, ganhou uma sobrevida nos anos 1970. Depois da jovem guarda e da bandas psicodélicas dos anos 1960, Baldanza fez parte da geração de artistas que se consagraram através da crítica musical. Conviviam na mesma cena musical da década de 1970, grupos tais como Made in Brazil, O Terço, Casa das Máquinas, Bixo da Seda, A Barca do Sol, Vímana e tantos outros que, inclusive, mantiveram-se anexados a nomes artistas solos consagrados, como foi o caso do Tutti Frutti que ficou conectado a Rita Lee, então aclamada como a Rainha do Rock. Também havia A Bolha, Terreno Baldio e outros nomes singulares. Não é todo mundo que gostava de ser taxado de rock progressivo. Ainda lembro que nesses últimos dias recebi meu primeiro "não" de um senhor que foi músico do Som Imaginário, argumentando se tratar de um grupo de MPB, como se o rock fosse uma grande doença que deva ser evitada. Por outro lado, os Mutantes e seus colaboradores "satélites" não tiveram problema algum em sua transição estilística. Arnaldo Baptista e Sérgio Dias seguiram sem Rita Lee e gravaram um dos cem melhores álbuns da história do rock brasileiro, "Lóki" (1974) juntamente com "Snegs", do Som Nosso de Cada Dia (gravado na mesma época). "A vida tem dessas coisas", diria Ritchie, outro sobrevivente desta geração, via Vímana e que, posteriormente, faria sucesso nos anos 1980, como cantor de sucesso no mainstream. A vida tem dessas coisas, sim, mas a vida passa em branco se você não enfrentá-la com sutileza, sempre reinventando seu cotidiano. E essa era uma das coisas que Pedrão exteriorizava como ninguém.

Os músicos da formação clássica do Som Nosso de Cada Dia.



 Vou me limitar a escrever a biografia do artista aqui que, prudentemente, entrevistei no dia 20 de setembro do ano corrente. Cabe informar que Pedrão não se limitava ao rock, trilhava rumo a outras direções. Não por acaso, acompanhou ícones renomados como Elis Regina, Ney Matogrosso, Raul Seixas, Sá & Guarabyra, Zizi Possi, Marina Lima, Lobão e outros menos cotados. Conforme o combinado a entrevista seria usada tanto para o livro e o filme em curso quanto para o programa de rádio web que eu lancei esse ano em meu canal informalmente a fim de saciar a curiosidades daqueles que me acompanham durante anos. É notório o fato de que passei um tempo off line a fim de me dedicar a parte executiva de A BÍBLIA DO ROCK. Foram muitos anos de captações audiovisuais envolvendo os grandes nomes que fizeram história, dos anos 1950 até o tempo presente, sem preconceitos e adoção de rótulos privilegiando este ou aquele nome. Famosos ou não todos se tornaram iguais perante as Leis Sagradas da Nação Roqueira. Entre as atividades que retomei foram os depoimentos gravados em formato personalizado para a Bíblia do Rock. Entretanto, as mortes constantes de alguns nomes familiares da cena artística impediram maiores avanços, fomentando um indesejável obituário.
  Pedro Augusto Baldanza, partiu nesta segunda-feira, dia 28 de outubro, em Belo Horizonte, aos 66 anos de idade, de acordo com informativos do perfil do músico nas redes sociais. Sua última aparição pública foi no dia 13, no Centro Cultural de São Paulo, no show que apresentou canções ineditas do novo disco "Mais Um Dia", que virou uma celebração dos 45 anos de estrada do Som Nosso de Cada Dia. No passado glorioso, chegou a abrir em 1973, a turnê de Alice Cooper pelo Brasil.  (...) E a vida tem dessas coisas. Ficaram as marcas do que se foi... Para além da eternidade.





segunda-feira, 30 de setembro de 2019

ENTREVISTA COM LUIZ CARLOS SIQUEIRA - THE YOUNGSTERS

Siqueira nos tempos atuais.

Luiz é o segundo da esquerda para a direita na capa deste disco, lançado em 1969.


Matéria sendo escrita em tempo real. Aguarde a publicação para breve.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O CINQUENTENÁRIO DO FESTIVAL DE WOODSTOCK



O maior festival da história do rock completa 50 anos.

O festival rendeu um álbum triplo e também um longa-metragem nos cinemas exibido no ano de 1970.

A grande estrela do blues, Janis Joplin, morreria um ano depois do evento, aos 27 anos de idade, assim como o mestre Jimi Hendrix, também presente no festival.

Considerado um guitarrista revolucionário, o homem que reinventou o rock quando todo mundo acreditava que o gênero poderia entrar na curva da decadência. Assim como os grandes gênios que tiveram uma curta existência no planeta Terra, Jimi Hendrix deixou sua marca registrada que pode ser encontrada em várias bandas de rock que sobrevivem no século XXI.

AGUARDE A POSTAGEM DA MATÉRIA QUE ESTÁ SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL.

sábado, 24 de agosto de 2019

MORRE ANYRES RODRIGUES, DOS BRASAS


Anyres é o segundo da esquerda para a direita.

O Ano Assassino continua fazendo jus a sua fama, depois de retirar de cena uma extensa lista de nomes relevantes da música em geral, desta vez foi a vez de subtrair a vida do músico gaúcho Anyres Rodrigues, também conhecido como Alemão dos Brasas. O nome em questão integrou o movimento jovem guarda, durante seu apogeu, em São Paulo, logo após uma carreira promissora na capital gaúcha, tempos que o rock and roll dava seus primeiros passos. Primeiramente como The Jetsons e posteriormente assinando como Os Brasas, gravou seu primeiro álbum em 1968, pela gravadora Musicolor, no centro do país. Além de Anyres, o grupo era composto por Luís Vagner (vocal e guitarra), Edson Aymay (bateria) e Franco Scornavacca (baixo). Este último, por sinal, faleceu em 15 de setembro de 2018. Depois de se dedicar a carreira de músico, Franco virou produtor e era empresário do trio KLB, composto por seus filhos, Kiko, Leandro e Bruno e que fez um imenso sucesso a partir da década de 2000. Dos sobreviventes dos Brasas resta apenas Luís Vagner. Considerando que Vagner, apesar dos problemas de saúde nos últimos tempos, continua na ativa em carreira solo e gravou depoimentos para a BÍBLIA DO ROCK em abril deste ano. 


Os Brasas recortado da Revista Melodias. 


Nos anos 1960, Anyres Rodrigues, o primeiro da esquerda para a direita. 


Segundo informações que constam no blog Durango 95 (Fonte Zero Hora / Luís Bissigo), depois da fama na jovem guarda, Anyres, após morar no Rio de Janeiro fixou residência em São Paulo e lá inaugurou o Bar Barracão de Zinco, onde comandava um grupo focado no set list dos Beatles, porém, em ritmo de samba. Desde o final dos anos 1970, dividia-se nas atividades de produtor, compositor e músico de estúdio.
  Para que possa constar como bônus, Anyres Rodrigues é autor da canção que se tornou tema da novela mexicana "Carrossel", lançada no Brasil no começo da década de 1990. O músico gaúcho já viveu no Japão e também conseguiu gravar seu álbum solo, décadas depois, na segunda década do século XXI. Dos tempos da jovem guarda, guardava com muito carinho as lembranças de sua carreira na banda Os Brasas. Infelizmente, com o seu desaparecimento no plano físico, as pedras jamais voltarão a rolar. Esperamos que se ele estiver no paraíso isso seja possível. 


terça-feira, 6 de agosto de 2019

RISONHO, GUITARRISTA DOS GRUPOS THE CLEVERS E OS INCRÍVEIS, É MAIS UMA BAIXA DESTE "ANO ASSASSINO"

Pioneiro do rock brasileiro e músico muito popular nos anos dourados da jovem guarda, Risonho tinha o "sorriso" como marca registrada, coisa que o próprio codinome sempre cumpriu com a função de destacá-lo na mídia sessentista.


  Elogiado por 10 entre "dez" músicos dos primórdios do rock brasileiro (leia-se a primeira ninhada dos anos 1950 e, também, da segunda, a geração jovem guarda, da década 1960), Waldemar Mozena (1943-2019) foi descoberto em 1962, pelo DJ Antônio Aguillar, enquanto atuava como guitarrista da banda The Clevers. Em depoimento para a "Bíblia do Rock", anos atrás, o radialista se orgulhava de ser um descobridor de talentos musicais. Em 2009, Aguillar me contou que necessitava de um grupo instrumental fixo para acompanhar os cantores que compareciam ao seu programa de rádio e TV, o Ritmos para a Juventude, no início dos anos 1960. Daí veio a ideia de fundar o The Clevers, grupo que prestaria serviços tocando ao vivo durante os programas periódicos da emissora (no caso a Radio Nacional, atual Radio Globo), e que simultaneamente seguia carreira própria com os seguintes músicos: Manito, Mingo, Neno e Netinho. Teria sido Neno quem apresentou Waldemar a Antonio Aguillar, mas, como sempre, existem várias versões sobre "quem apresentou quem", então decidi publicar apenas esta, deixando caminho livre para os demais artistas da época entrarem no blog para esclarecimentos adicionais sobre o ingresso de Risonho na formação original do grupo. Claro que possuo outros depoimentos falando do lendário guitarrista solo, mas prefiro guardar a sete chaves, até um possível lançamento comercial da "obra", combinado?


Nas poucas conversas que tive com Risonho, ele dizia que não tinha noção de que um dia o grupo faria muito sucesso e ainda viajaria pela Europa (The Clevers, como todo mundo sabe, transformou-se em Os Incríveis, mas essa história fica para outro dia). Um tanto ressentido com o mercado musical atual e a mídia que o esqueceu, Waldemar não tinha mais interesse em participar de qualquer coisa relacionada a música. Creio que somado a isso havia problemas de saúde em curso que limitaria, de fato, sua performance nos palcos. Obvio que vão aparecer aqui, de repente, aqueles que irão opinar de forma contrária (pra variar), mas seguir carreira artística (mesmo nos moldes de outrora) é necessário determinado nível de vitalidade, coisa que o avançar da idade vai tirando do ser humano pouco a pouco. Risonho tinha consciência disso. Não posso dizer o que ele pensava sobre a nova formação dos Incríveis sem sua presença porque (ele próprio) não se sentia mais à vontade para opinar sobre o assunto (conforme fora divulgado na mídia segmentada, Netinho, o baterista, era o único integrante da formação original da banda em atividade). Acredito que se fosse para colocar seus solos em algum disco de alguma banda ou músico da época da jovem guarda, ele teria cedido e participado de algum projeto, conforme Edison Della Monica, teria se manisfestado nas redes sociais sobre alguma possibilidade de atuar em alguma música ao lado de Risonho. É redundante afirmar que se fosse em um país de de Primeiro Mundo, o músico seria constantemente valorizado pela mídia. Vale dizer que quando tomei conta de seu falecimento não li nenhum artigo publicado por algum jornal ou revista da grande mídia que prefere, como de costume, viver apenas de fofocas sobre celebridades fugazes. Risonho, até onde onde se sabe, morreu de infarto neste último domingo, 4 de agosto, no interior de São Paulo. Por outro lado, ele continuará vivo na memória de fãs e admiradores que amam o clássico rock and roll e pop juvenil.
  Sobre o chamado "Ano Assassino", aproveito o comentário do amigo Osvaldo Machado Neto, pois, realmente, na contabilidade, os artistas que faleceram nos últimos sete meses se valem pela variedade de suas respectivas personalidades e obras. Aqui, como o assunto é rock and roll, mas, lembrando que um gênero sempre faz companhia ao outro mesmo numa situação de antagonismo, cabe citar (em ordem alfabética) as perdas irreparáveis de André Matos, da banda Angra (rock), André Midani, produtor (rock e MPB) Andy Anderson, baterista do The Cure (pop rock), Daryl Dragon (pop rock), Demétrius, o cantor (rock, jovem guarda e música romântica), Dick Dale (surf rock/rock instrumental), Dina, cantora (música popular portuguesa), Emílio Russo, do The Lions, The Sparks e The Jet Black's (rock e jovem guarda), Euclides de Paula, dos grupos Renatos e seus Blue Caps, Luizinho e seus Dinamites e The Pop's (rock e jovem guarda), João Gilberto (bossa nova),  Johnny Hutchinson, baterista que pertenceu aos Beatles (rock and roll), Keith Flint, do The Prodigy (música eletrônica), Marcelo Yuka (pop rock), Marciano, o cantor (música brega de raiz), Mark Hollis, cantor e compositor inglês (pop), P. A., do RPM (pop rock), Pedro Bento, da dupla Pedro Bento & Zé da Estrada (música sertaneja original), Peter Hurford (música clássica), Sérgio de Carvalho (produtor de música popular brasileira), Serguei (rock and roll), Scott Walker, cantor e compositor (pop rock), Tavito (música popular brasileira) e muitos outros.

 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

SERGUEI, DESCANSE EM PAZ NA MORADA ETERNA



  Falar em morte já se tornou uma constante neste blog, pior ainda ter que falar de uma persona que convivi diretamente por um determinado período substancial de minha vida. Pois bem... Essa pedra eu já cantei e pedras que rolam não criam musgos. No artigo que escrevi semanas atrás, eu contei um pouco da trajetória da ex-lenda viva do rock. Tudo o que eu tinha que dizer sobre Serguei, antes de publicar o livro eu já disse. Entrem neste link e leiam a matéria: https://bbliadorock.blogspot.com/2019/05/o-crepusculo-de-serguei.html

  É importante observar que apresentei um ponto de vista pouco usual, antes de qualquer babaca da mídia falar besteira tal qual falaram, hoje, na Globo (G1), como no caso da mal informada Christiane Pelajo que afirmou que Serguei era uma figura muito popular no Rio de Janeiro. Pombas!!! Só no Rio de Janeiro??? Eu viajei pelo país por quase todo o país com ele. Era tão popular que, mesmo dentro de um carro, as pessoas reconheciam sua figura porque era, de fato, inconfundível. Serguei podia ser irregular em sua discografia, porém, era a própria personificação do rock and roll. Na estética era o cara mais original que já conheci num limitada lista de dez nomes que respeito. Hoje, aqui, estou expressando, pela primeira vez, uma opinião pessoal e não profissional. Enfim, antes de vocês entrarem no link acima, onde escrevi a matéria exorcizando meu tempo de convivência com o "Anjo Maldito". Claro que não abordo tudo, afinal já escrevi outros artigos sobre ele neste blog, o qual passarei outro link na sequência (não gosto de me repetir, certo?). Se for de interesse, peço aos leitores interessados que entrem em ambos. Sem mais, evitei ouvir programas de rádio e TV porque já sei que o conhecimento da imprensa atual sobre a trajetória de Serguei é praticamente nulo, não desce ("Todo mundo lembra dele quando o assunto é Janis Joplin" ou mesmo sobre sua participação no Rock in Rio II") .

A primeira matéria está, aqui, neste outro link: https://bbliadorock.blogspot.com/2013/11/serguei-o-roqueiro-mais-velho-do-brasil.html

Serguei e Carlos Loffler, ator, roqueiro e herdeiro de Serguei.

Serguei ao lado de Janis Joplin, nos Estados Unidos, anos 1960.

Uma das muitas capas de Segundo Caderno dos jornais sulistas que aparecemos para divulgar A BÍBLIA DO ROCK.



  Enfim, para quem está chegando agora, informo que sou o cineasta Emerson Links, que atravessei anos captando imagens dos pioneiros do rock e de bandas atuais, foram momentos inesquecíveis com vários nomes do underground e mainstream, que fizeram história. Serguei foi uma personagem atípica, como outras, também que foram além de uma mera entrevista. Convivi com ele um determinado período em Saquarema ("o cara" me emprestou um dos quartos de sua antiga casa de praia) cerca de 20 anos atrás (imaginem), época da entressafra, quando ele estava meio apagado da mídia. Em 2000, quando finalmente entrevistei o saudoso comunicador José Messias, pude ampliar e retribuir servindo de relações públicas de Serguei. Em 2002, depois de dois shows na capital gaúcha, a mídia se voltou para ele, contatei emissoras de TV e rádio (a mídia na internet era devagar), depois no ano seguinte, Luiz Calanca se interessou mais pela história da "lenda" e lançou uma antologia. Serguei entrou para o catálogo da Baratos Afins. Ele, também, teve boa exposição no Festival de 25 Anos da Baratos Afins. O bom é que tudo foi devidamente documentado e permanece inedito. Fiquei passado com alguns pseudocumentários oportunistas e biograficamente superficiais que fizeram dele. Queria que surgisse alguém que tivesse um perfil de jornalista investigativo, além de mim, que lançasse algo melhor sobre ele. Embora o meu acervo sobre Serguei seja rico em várias fases, inclusive com material que ganhei de terceiros pretendo apresentá-lo apenas no contexto do projeto "A Bíblia do Rock". Mas, enfim, não sou eu que estarei no protagonismo e na mídia para falar sobre tanta coisa curiosa que vivenciei com o amigo Serguei e sim pessoas que tiveram amizades apenas por algumas horas ou em bastidores de shows. Outras personas, também, darão entrevistas em meu lugar como se vivessem anos a fio documentando tudo. As celebridades que, hoje, estão no rádio falando de sua morte, passaram apenas momentos efêmeros e posso dizer que os poucos amigos foram onipresentes estão de fora da lista das preferências midiáticas. Lembro de cada natal e final de ano que ninguém dava importância a ele. Eu ligava para o Serguei regularmente, ano a ano, exceto um período recente de pausa, quando fiquei bastante ocupado com outros nomes do rock e, considerando ainda, que o artista já estava em boas mãos (no caso, o já citado Carlos Loffler, citado no artigo anterior deste blog). Então, minha queixa não é a de ter que compartilhar um amigo com outro, mas sim de ter que reconhecer somente quem não o procurava por folclore ou como um trampolim para a grande mídia. Algumas outras figuras eram amigos de jornada, mas estou afastado destes por não suportar tamanha demagogia que acabaram, por fim,  temperando seus depoimentos em programas de rádio e TV, e quando me obrigo a fazer um balanço geral a coisa piora cada vez mais. Não tenho a vaidade que muitos possuem, de aparecer com frequencia falando sobre isso ou aquilo na mídia, mas faço por necessidade de divulgar meu projeto que infelizmente demorei muito a lançá-lo. Se existir outro plano, quem sabe, Serguei possa divulgar essa experiência multifacetada que foi o rock e que, mesmo sem ele, possa ainda render muitos frutos, por sinal, profetizados pelo próprio decano.


EMERSON LINKS, cineasta e jornalista, criador do projeto A BÍBLIA DO ROCK.                   





Para saber mais sobre SERGUEI, assista no you tube clicando nos links abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=UAA4k6HbV-w&list=UU8df7jccp9_NSFOnEyyyyvw&index=12

https://www.youtube.com/watch?v=44Wd8pgZYz0&fbclid=IwAR1MUsarFH44twgVCy6NobyfFTslX2X9j_4PCyxs0sXcWYVhblTsZCWVwbM

https://www.youtube.com/watch?v=Upo4rg9Onu8&list=RDomPk3mzDwPA&index=2

https://www.youtube.com/watch?v=tIXKvhqHW2U&list=RDomPk3mzDwPA&index=6

https://www.youtube.com/watch?v=V5kPdruaFRY&list=RDomPk3mzDwPA&index=9

https://www.youtube.com/watch?v=Jh4q6kh2BSg&list=RDomPk3mzDwPA&index=14

sexta-feira, 17 de maio de 2019

O CREPÚSCULO DE SERGUEI



   Entrando direto na ferida ... Desde 1999, quando fui para a casa dele (a então lenda viva do rock), em Saquarema, no Rio, algum tipo de "limitação" já rondava seu cérebro marcada por um coagulo (sofrera um acidente de moto anos antes). Óbvio que eu não podia esperar outra coisa. Ele tinha momentos de "apagão" graças a uma amnésia crônica que comprometia, entre outras coisas, possíveis intercâmbios culturais. Era comum, desde o período acima mencionado: troca de nomes de músicos (os quais acompanhavam-no no vocal principal, em diferentes épocas), ataques de estrelismo (inclusive diante de circunstanciais patrocinadores), inferno astral de bastidores (leia-se solidão camuflada por ego inflado), e etc, etc e etc. Eu sei que tem muito artista da história que só passou bons momentos com Sérgio Augusto Bustamante e não pode ir fundo numa análise e, assim sendo, irá defendê-lo até o fim (afinal, poucos compreenderão a real essência de sua trajetória quando trago à tona a realidade dos fatos). São situações as quais fui testemunha ocular presencial.
  Apesar de Serguei ser mais uma vítima de um Brasil ainda subdesenvolvido, que pouco oferecia oportunidades a estrelas de "determinado" carisma, porém, decadentes, isso não isentava da preguiça de entrar no estúdio para gravar. Serguei teria mais valor se, por exemplo, tivesse gravado material autoral tal como o não menos decadente rocker, Iggy Pop), . Em tempo: o termo "decadente" aplicado ao ídolo internacional refere-se a algo positivamente heroico realizado na trincheira do rock. Detalhe: Em entrevista concedida em 2011, o roqueiro gaúcho Edu K. chamou Serguei de Iggy Pop brasileiro. Se tem uma coisa que Serguei nunca se espelhou foi nesta lenda vida citada. Serguei, a bem da verdade, foi a personificação moderna de Dom Quixote no mundo pop juvenil. Com poucos acertos e muitos erros. E olha que, hoje, em solidariedade ao velho amigo, estou sendo "chapa branca".
  Pois bem... Cabe ressaltar que a parte nociva, para que conste nos autos, é que, de fato, saíram dois livros sobre o folclórico amigo e ambos sem cronologia (pra variar). O primeiro bem intencionado encomendado por João Henrique Schiller, que contratou um ghost writer para fazer o trabalho. O segundo (que prefiro não fazer propaganda) omite personagens fundamentais e bandas que foram decisivas em vários momentos da irregular carreira de Serguei, tais como The Youngsters, The Cougars, Boca Roxa Blue Band, Makina Du Tempo, Metamorphose, Bruxa de Pano, Pandemonium, entre tantas outras muito relevantes. E, por último, o livro omite suas passagens com os fundadores da banda Made in Brazil e sua "quase" frutífera amizade com Carlos Loffler, misto de ator e roqueiro (para alguns, apenas o neto do Oscarito). Recentemente, coisa de dois anos atrás, Serguei declarou, aos quatro ventos, que Carlos Loffler era seu possível sucessor (!) ao trono (?). Na categoria hippie, o então jovem (Loffler) absorveu o rock ainda nos anos 1970 (mas essa história fica para outro dia). Nos anos 1980, trabalhou num musical em longa-metragem, "Trop Clip", ao lado de Marcos Frota e grande elenco, além do filme de Roberto Gervitz, "Feliz Ano Velho", porém, sua carreira, no sentido de difundir o rock sempre ficou limitada ao teatro ("Isto é Rock and Roll"). Assim como Serguei, Carlos Loffler descobriu o charme de ser "underground" e herdou a mesma face quixotesca do "ídolo" em questão. O insucesso de um artista numa área pode variar de acordo com a óptica. O que é conquista para uns é nada mais que retrocesso para outros. Em suma, o êxito de Serguei é justamente ter se tornado uma figura cultuada pelas tribos independentes do rock após ser recusado pelo mainstream. E, muitas vezes, o folclore predominou e superou o perfil de "mito".
  Retomando  a cronologia pessoal da "Bíblia do Rock"... Pois bem. Embora eu estivesse documentando e colhendo material da maioria dos pioneiros do rock (sem excluir nenhum nome), presenciei muitos oportunistas e sicofantas tirando proveito da sua inigualável figura. É de conhecimento público que Serguei, em sua busca incansável pelo sucesso nas paradas, pelo menos de 1966 até meados de 2010, nunca soube ser seletivo em suas parcerias. Pior... Deu abertura, no meu entender, para gente que não merecia nem um aperto de mão. Olha só... Um livro (recente) que se vende na praça como "a biografia definitiva de Serguei" (longe disso) é prova de que nunca soube trabalhar bem sua imagem como artista (mesmo se tratando de uma personagem que sempre soube circular desenvoltura tanto no underground quanto no mainstream, no caso o Rock in Rio III, em 1990). Para quem se interessa pela personagem não se deixem em enganar por biografias tipo caça níquéis, que são escritas por fofoqueiros de plantão que só entendem mesmo de telenovelas ou sites de rock da moda. (Pra começar, Janis Joplin morreu em 1970 e não em 1971, ok, Jornal Zero Hora?). E, por fim, vamos parar com essa mania de incentivar esses livros picaretas com entrevistas transcritos, exceto que os mesmos alternem texto narrativo com depoimentos. Lançar somente um livro gravado em uma única entrevista revela acomodamento sistemático em nível jornalistico. E rock é tudo menos "sistema", concordam?



   Pois bem... Sobre a tal doença, declaro (sem alto e bom som, pois aqui é um texto destinado ao blog) que Serguei está em estágio inicial de doença degenerativa há muito tempo. O tempo que o roqueiro e amigo se hospedou na minha casa na capital gaúcha já ocorriam esses momentos de anemia, desnutrição por indisciplina e pane de memória. O problema é que, decisivamente, a idade avançou ainda mais. Outra questão que envolve a saúde de Serguei é que todas as pessoas contratadas para cuidar dele (pagas ou gratuitas) não duravam muito. Só sabe disso quem conheceu Serguei na intimidade, pois tivemos uma amizade duradoura (sem malícias), tour de shows pelo sul do país, exposição em vários programas de TV e rádio da mídia oficial, etc. No caso, por causa da BÍBLIA DO ROCK, como todos que me conhecem, sabem que fiquei anos documentando a história de Serguei, colhendo material audiovisual raro em vão para logo em seguida ele fazer um pacto com uns picaretas que se adiantaram e lançaram um documentário com erros de datas, locais e fatos sem fontes confiáveis. Quem tem pressa come crú e o documentário não repercutiu apesar das personalidades interessantes terem apoiado. Serguei merecia muito mais, mas não soube esperar.



   Todos nós determinamos nossas trajetórias de acordo com nossas ações. O corpo e a mente devem ser tratados de forma sagrada, a arte de se expressar tem seus limites quando a saúde pede para ficar em primeiro plano. Contudo, SERGUEI nunca se meteu com drogas pesadas ou álcool. Seu maior vício era cultivar amizades com garotos (na promessa de um dia isso virar outra coisa.) De tudo que pude acompanhar pessoalmente, até 2000, essa bobagem de afirmar que era adepto da PANSEXUALIDADE nem marcava ponto na mídia (surgiu de um improviso durante uma entrevista no programa Jô Soares). Lembro do show que fizemos com ele em Limeira, interior de São Paulo, onde o alto astral verbal dava mais espaço que essas frases de efeito para chamar atenção da mídia. Se a partir desse momento, seu nome chegou a integrar até um ensaio sensual na TRIP foi graças a divulgação que fiz via BÍBLIA DO ROCK no eixo Rio-SP. Eram tempos sem a força que a internet possui hoje. E vejam só... Muitas histórias eu teria para contar num livro sobre os bastidores da música jovem, tais como os pioneiros que conheci - dos anos 1950 para cá - tais como Celly Campello, Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, Tony Campello, Demétrius, George Freedman, Bobby Di Carlo, Baby Santiago, Hamilton Di Giorgio, Renato e seus Blue Caps, Albert Pavão, Jerry Adriani, entre muitos, inclusive bandas, produtores, comunicadores. musas e groupies. Porém, era certo que, neste pacote todo, acabaria entrando o Serguei. (imagine só... Tudo documentado no plano audiovisual disponível para virar filme). Se fosse nos EUA, o projeto já estaria pronto, decolando nas paradas de sucesso.



   Enfim... Pois então... para finalizar... Espero que, apesar dos pesares pesando, SERGUEI se recupere, claro, porém, somos reféns da deterioração biológica. Receio que num futuro próximo teremos que nos preparar para uma má notícia. E... Uma coisa para descontrair: Nos anos 2000, tempo que a BIBLIA DO ROCK teve uma boa exposição na mídia pré-internet, lembro que, ao contrário do que fofocavam em 1999, eu nunca comi o Serguei (eu, heterossexual convicto, saía com algumas adolescentes que moravam no centro de Saquarema) e se ele comeu ou não a Janis Joplin posso dizer apenas o que eu ouvi através de depoimentos de terceiros, como por exemplo, o do baterista que tocava na boate do Leme em 1970 e viu a cantora (Joplin) adentrar o local como uma ilustre desconhecida. Sem mais é isso, por enquanto. Qualquer duvida leiam a matéria anterior que publiquei no blog. Desejo vida eterna a todos que acreditam no outro plano (o espiritual). O verdadeiro sentido da vida é acreditar que a vida faz sentido.




(EMERSON LINKS para a BÍBLIA DO ROCK).


PARA SABER MAIS ASSISTA NO YOU TUBE:


terça-feira, 16 de abril de 2019

MORTES DO MÊS


A mídia brasileira não noticiou, eu dou a notícia. MORREU no último dia 13 (abril), o baterista Johnny Hutchinson, que ficou popular apenas por ter recusado os Beatles na época de sua formação. Ao menos, Pete Best foi um pouquinho mais longe que ele sendo substituído apenas por Ringo Star, pouco antes do grupo estrear em disco por uma grande gravadora (EMI-Odeon), via Parlaphone.



Dia 16 de abril foi a vez de Joe Terry, do grupo Danny & The Juniors (o segundo da esquerda para direita), pouco depois de Dave White (o terceiro, que morreu em março), sobrando somente Frankie Maffei (o ultimo à direita). Joe e Frankie continuavam mantendo o grupo em atividade, porém, desta vez, chegou ao ponto final.
Descansem em paz, Joe Terry & Dave White.





Tempos duros para os pioneiros do rock and roll. Mês passado, tivemos três grandes perdas: Demétrius (pioneiro do rock brasileiro e cantor popular da jovem guarda), Emílio Russo (ex-integrante do The Lions e The Jet Black's) e, no circuito internacional, ficamos órfãos do Rei do Rock Instrumental, Dick Dale.


Demétrius, morto mês passado, atesta que todos somos reféns da ordem biológica.



Lamento que meu blog esteja se tornando um obituário, não em razão apenas das mortes dos pioneiros, mas, igualmente, pela falta de renovação estilística no ritmo que transformou a juventude do século XX. Seria redundante dizer que teremos mais notícias de morte ainda este ano e que espantaria apenas em caso da ciência descobrir vida após a morte. Isso, sim, seria um grande evento.


terça-feira, 26 de março de 2019

MORRE EMÍLIO RUSSO, MÚSICO PIONEIRO DO GRUPO THE JET BLACK'S E OUTRAS BANDAS DE ROCK SESSENTISTA

Nascido em 30 de abril de 1945, em São Paulo, Emílio Russo era um músico com performances marcantes. Na função de guitarrista solo arrancou de seus colegas de geração admiração e respeito. Integrou o The Jet Black's. um dos grupos pioneiros do rock brasileiro dos anos 1960, mas sua primeira banda se chamava The Freedmans, pouco antes. Também tocou em vários outros grupos de rock instrumental, entre eles, Os Lions. Décadas depois, regressou a última formação do The Jet Black's, com Edison Della Monica (The Sparks), que passou a ser dono da marca (nome da banda). Na última conversa que tive com Emílio Russo, ele dizia que se sentia injustiçado pelos serviços que prestou ao rock. Realmente, injustiça é o que não falta por aí.
  A causa da morte do músico remanescente ainda não foi divulgada.


Peço aos amigos para passar seus depoimentos sobre Emílio Russo via e-mail que publicarei aqui com todo o prazer: bibliadorock@bol.com.br

AGUARDE O TÉRMINO DA MATÉRIA QUE ESTÁ SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL. 


segunda-feira, 18 de março de 2019

DICK DALE FOI UMA DAS MAIORES DIVINDADES DA SURF MUSIC E SUA MORTE EMPOBRECE AINDA MAIS A MÚSICA JOVEM

NÃO LEIA AINDA. MATÉRIA SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL. AGUARDE O TÉRMINO.


O músico norte-americano renovou a cena jovem no início dos anos 1960, num período que o rock  sofria sua primeira crise de identidade. Com o declínio da primeira geração, encabeçada por artistas como Bill Halley e seus Cometas, Chuck Berry, Little Richard, entre outros que morreram precocemente, tais como Buddy Holly, Ritchie Vallens, Eddie Cochran, e a saturação de nomes do pop branco, tipo Frankie Avalon & Cia, as bandas de guitarra assumiram o comando dos bailes e programas de TV, em tempos que o twist predominava soberano nas paradas de sucesso do mundo ocidental.  



  Eu bem avisei que não seria um ano fácil, assim como em 2017, teríamos falecimentos semanais de artistas relevantes. Não sou nenhum médium e muito menos mestre em estatística, mas, assim, como todo o ser humano que habita este planeta possuo algumas faculdades desenvolvidas que me permitem antever situações especiais e/ ou episódios isolados. Não tenho religião (exceto o rock and roll), mas me considero um sujeito que segue em busca de uma evolução espiritual. Segundo o saudoso produtor Carlos Miranda, as religiões foram feitas para seus líderes ganharem dinheiro. Eu não penso exatamente de ta forma, porém, sou obrigado a concordar parcialmente. Existem coisas interessantes no budismo, kardecismo e até mesmo  em fragmentos da igreja católica é possível detectar sinais de bondade humana. O que não admito e vejo constantemente dentro e fora do universo on line, em pleno século XXI, é a "burrice congênita em nível coletivo", de uma maioria que prefere consumir gêneros musicais de qualidade duvidosa. Esta tendência de consumir "música barata" certamente está matando a "música original" que se fazia no planeta Terra. Não apenas por uma questão de ordem biológica, como também, de desgosto existencial (depois explico) perdemos essa semana Dick Dale, não apenas um dos maiores guitarristas da história do pop rock, como também, alguém que salvou muitos seres humanos da depressão em festinhas pós-moderninhas que acompanhei em 1994, após o renascimento de sua música devido ao sucesso do filme "Pulp Fiction", do diretor cult Quentin Tarantino. Mas provavelmente a opinião que realmente será levada em conta será mesmo a de Brian May, o guitarrista da lendária banda Queen. Veja o que ele disse ao saber da morte de Dick Dale: "RIP Dick Dale - Pai da guitarra surf. Nós todos devemos a você. Rock On." 







segunda-feira, 11 de março de 2019

MORRE DEMÉTRIUS, UM DOS EXPOENTES DO INÍCIO DO ROCK BRASILEIRO E JOVEM GUARDA

Aos olhos do grande público, ele ficou marcado como ídolo da jovem guarda, mas sua carreira iniciou bem antes, entre o final dos anos 1950 e início da década 1960, segundo ele próprio em entrevista concedida a mim, durante o inverno de 1999. Embora tenha encabeçado a lista dos chamados "Elvis Presley" brasileiros, assunto divulgado em muitas revistas no desenrolar dos anos dourados, Demétrius se reconhecia mais como um cantor romântico.


Coletânea lançada duas décadas atrás que reunia as músicas marcantes da carreira do cantor.



DEMÉTRIUS, UM DOS PIONEIROS DO ROCK, E AS POUCAS VERDADES NÃO DITAS

  Em respeito ao triste episódio, vou me limitar hoje ao status de jornalista "chapa branca". Os 20 anos de reconstituição de época que me dediquei. praticamente convivendo com os pioneiros do rock and roll poderiam derivar outras obras. Histórias cabeludas de bastidores, as glórias e os insucessos, através de relatos genuínos jamais realizados (ou registrados) em território nacional. Prova disso são a maioria dos projetos lançados, até o presente momento, cujas pesquisas não vão além dos dois anos de edição de tags, frente a um imediatismo e egos nutridos por seus realizadores.
Durante esses anos que resgatei a vida de nossos pioneiros e os acompanhei em vários eventos atualizando entrevistas, depoimentos exclusivos, shows e canjas particulares, nunca havia testemunhado tamanha generosidade na figura de um cantor, compositor e músico. Quando oficialmente iniciei o projeto, "A Bíblia do Rock", camuflado com o nome de "Ritmo Rebelde", a fim de proteger o promissor título de obra deste, em 1999, ano em que conheci o sobrevivente do rock, Demétrius, vivíamos um momento em que a internet não tinha a força comunicativa que tem hoje. Nesse período eu lembro (e posso provar respondendo a quem quer que seja nos comentários) não tinha nenhum escritor ou jornalista (com exceção de Albert Pavão que é músico) preocupado em resgatar o passado do rock brasileiro. Tinha dois autores começando a falar sobre jovem guarda, tais como Marcelo Fróes, Ricardo Pugialli e um pesquisador gaúcho conhecido como Senhor F (Fernando Rosa). Havia, por outro lado, aqueles que eram independentes demais para ir a um programa de TV e contar aquilo que estavam fazendo em matéria de pesquisa profunda sobre a gestação do rock. Eu não queria ficar só nas publicações, queria ir muito além disso. Aliás foi o próprio Demétrius que reconheceu isso em mim e os depoimentos gravados (primeiramente em áudio) não deixam mentir. Não querendo desmerecer os demais projetos que surgiram posteriormente, uma boa parte sempre omitindo nomes ou datas e eventos, a "Bíblia do Rock", criada por mim, não ficaria restrita ao universo literário e sim navegaria pelas águas do audiovisual. Afinal, para quem ainda não sabe e está chegando agora, sou cineasta, dramaturgo e uma peça que escrevi e dirige em 1992, "Hippies Nunca Mais", antecipava, nas semanas que esteve em cartaz, toda a atmosfera que eu queria retratar a respeito do mundo do rock. Mas o espetáculo não retrocedia no tempo. Era como o próprio título comunica sobre a segunda geração do rock, tempos da contracultura, liberação sexual, quebras de tabus morais e evolução musical. E tudo isso relatei ao cantor Demétrius que viveu não apenas a fase inicial do rock and roll dos anos 1950, como também, engrenou na carreira de cantor a partir de 1960, considerando, nesta instância, seu primeiro compacto lançado pelo selo Young e que trazia as músicas "Young and in Love" (lado A) e "Hold me So Tight" (lado B). Esta última realmente era um rock (composto por Hamilton DiGiórgio) trazia o cantor com um timbre de voz à la Elvis Presley. E Demétrius, em especial, foi acompanhado pela banda The Devils, o que só prova, também em outros documentos sonoros lançados, que existiram dúzias de bandas de rock and roll antes da jovem guarda. A começar por Betinho e seu Conjunto, em meados dos anos 1950, certo? Obviamente, surgiram tantas outras bandas em São Paulo, através do selo Young (um catálogo variado de nomes), além das futuramente consagradas The Jordans, The Jet Black's, The Clevers, etc, e também no Rio, tais como The Blue Jeans Rockers, Renato e seus Blue Caps, The Sputniks (a gênese de onde saiu Roberto Carlos, Erasmo, Tim Maia e outros menos cotados). Tudo isso antes da jovem guarda ao contrário do que a mídia oficial prega. 


Ironicamente, justamente quando venho tentando corrigir a todos numa pesquisa (que chamo de reconstituição de época, porque vai além do texto e ocasionalmente do audiovisual) surgem "os senhores da verdade", que nunca ouvi falar, tentando me corrigir e se não fossem os documentos já apresentados todos tentariam me retirar a legitimidade de estar a frente de corrigi-los. Várias reportagens de página inteira já publicadas nos principais jornais do sul do país me deram essa credibilidade, além, claro, dos próprios pioneiros entrevistados (exceto quando a falta de memória de um destes me comprometa). Vejamos um exemplo mundano. Fui criticado por uma minoria no que concerne a matéria que escrevi desconstruindo a feitura do longa-metragem "Minha Fama de Mau" e pelo teor dos raros comentários de baixo calão (um deles foi de um figurante do filme) percebi que poucas vozes que, de fato, viveram os anos 1960, discordaram das minhas palavras. Claro que não sou "o senhor da verdade", mas mereço o respeito por buscar a veracidade em todas as obras lançadas ou, caso contrário, eu não estaria honrando a "Bíblia do Rock".  E o longa "Minha Fama de Mau", infelizmente, em aspectos periféricos relevantes, decepciona por falta de pesquisa de época, erra nos figurinos e modelo de penteados sempre em descompasso para com os períodos retratados. O problema maior consiste na escolha dos atores que sequer possuem semelhança física para com as personalidades reais (não pela falta de talento e sim por falha de caracterização estética). Apesar de Chay Suede e o elenco se esforçarem dignamente na composição das cenas musicais, o filme se mostrou apenas como um rascunho daquilo que poderia ter sido. Um erro que possivelmente o longa-metragem sobre Roberto Carlos não irá cometer que outros pouco cometeram, como é o caso de "Velho Guerreiro", o filme sobre Chacrinha (onde atores, pelo menos, estão melhores caracterizados). Em caso de dúvida, leiam o artigo que escrevi mês passado no blog "A Bíblia do Cinema": https://abibliadocinema.blogspot.com/2019/02/filme-minha-fama-de-mau-sobre-erasmo.html E abaixo, uma antiga matéria reflete o meu compromisso com a informação na primeira frase do texto escrito pelo jornalista. Existem outros que poderei postar, mas escolhi este. Confiram clicando na foto abaixo para ampliar.  
    
Capa do segundo caderno do jornal Gazeta do Sul.

No jornal Correio do Povo.

Eu, capa do segundo caderno do jornal Zero Hora. 

Apesar de eu ter dito que a fonte do próprio artista é segura, ocorreram inúmeras vezes que me senti no dever de corrigir (apresentando documentos) a realizadores de outras obras que, por orgulho pessoal, preferiram publicar os episódios com as datas incorretas mesmo. Pode parecer indelicado corrigir um entrevistado que, durante seu depoimento, troque uma data por outra e assim por diante. Mas creio que quando um idealizador de projeto deixa isso passar e ainda posta tal declaração no you tube comete a pior das vaidades, ou seja, prefere mostrar aquilo que captou do artista que a própria verdade em si. Infelizmente, o próprio Demétrius, por algum tipo de amnesia momentânea, afirmou no video postado por Sérgio Baldassarini Junior, que começou a carreira cantando músicas de Elvis Presley em 1967. Macacos me mordam!!! Como alguém deixa isso ir ao ar no you tube? Todo mundo que conhece o mínimo de história sabe (e o próprio Demétrius me contou isso em 1999) que ele iniciou carreira profissional de cantor em 1960, a partir do disco gravado e mencionado no parágrafo acima. Baldassarini, videoasta que lançou "Jovem aos 50", permite que o depoimento de Demétrius permaneça como se fosse "oficial". E se alguém ainda não acredita nisso, perguntem ao próprio cantor Albert Pavão que viveu a época e lançou livro que ele confirma que Demétrius se lançou em 1960 e não em 1967. Afinal, seria impossível (para um pioneiro do rock) ter iniciado carreira em 1967, levando em consideração que o artista já havia lançado seu maior sucesso "Ritmo da Chuva" em 1964 e, também, gravado todos o rocks de autoria de Tony Chaves e Baby Santiago a partir de 1960. Então, insisto. Que história é essa dele (Demétrius) ter começado em 1967? Já chega o próprio Serguei, outra lenda viva do rock, gravar em entrevistas afirmando que Janis Joplin morreu em 1971 (vide jornal Zero Hora e outros videos de entrevistas postados no you tube). O mundo do rock está careca de saber que Janis Joplin morreu em 1970, meses depois de ter passado o carnaval no Brasil, inclusive com o próprio Serguei e outros "privilegiados". O que dizer de alguém achar normal publicar um fato com data errada? Isso se chama desonestidade jornalistica? Sinal dos tempos do jeitinho politicamente correto em seu tom de vale tudo mesmo que seja algo postado? Não creio. Creio que seja um mero desleixo do imediatismo midiático da atual geração. Certo mesmo seria o realizador de cada trabalho respeitar a verdade tal como fazem os jornalistas  e produtores de conteúdo do Primeiro Mundo. 


Não estou aqui hoje, apesar da temática pertinente, para contar a história da carreira de Demétrius, pois isso, como todo mundo que acompanha o blog "A Bíblia do Rock", terá em mãos quando o livro a ser lançado. Estou aqui apenas para fazer um rápido balanço sobre o artista, porém, bem mais contundente que as fugazes matérias publicadas sobre sua morte. São sempre textos / releases, uns parecidos com as outros, que nada acrescentam e confundem a maioria silenciosa. Um exemplo disso é resumir Demétrius ao sucesso de "Ritmo da Chuva", em 1964, um ano antes do surgimento do programa Jovem Guarda. Falha grotesca dos jornalistas que só querem dar uma noticia rápida e passar a próxima, sem nunca conferir a veracidade da informação. Ao cumulo de eu ver pessoas dizendo que o cantor era o criador de "Ritmo da Chuva". Que nada! A música citada era uma releitura de um sucesso da banda The Cascades, lançada em 1963, originalmente com o título "Rhythm of The Rain" (disponível no you tube para audição). A confusão é generalizada quando internautas saudosistas, que sequer estiveram entrevistando o cantor, insistem em dizer que Demétrius lançou o compacto no mesmo ano que o grupo The Cascades. E outro Zé Mané chegou a postar com a data errada de 1968. Nunca. Jamais!!! "Ritmo da Chuva", na voz de Demétrius, foi um disco lançado em 1964 (e quem quiser provar que tenha sido em outra data então apresente o vinil distribuído pela gravadora, na época). Eu sei que o forte dos leigos não é pesquisar, mas sim fuxicar. Se você desconfia que alguém (you tuber ou blogueiro) quer realmente desinformar o público evite postagens duvidosas. Simples.



E, por fim, cabe dizer que se, por obra do acaso ou destino, Demétrius não ganhou uma biografia detalhada foi por culpa dele próprio sintetizar demais os fatos nas dezenas de entrevistas que deu limitadas a TV e ao rádio. Ele nunca gostou de se prolongar nos detalhes sutis. Material de época sobre sua juventude, como por exemplo, uma cena em alguma programa de TV dos anos 1960 simplesmente não existe. O que se encontra em sites sobre o cantor são apenas reproduções de matérias publicadas pela Revista do Rádio, Revista do Rock, entre outras, hoje em dia, esquecidas e vendidas em sebos e leilões virtuais. Apesar da sua generosidade e gentileza onipresente em seu semblante, ele nunca ousou ultrapassar a fronteira, detalhar episódios básicos de sua carreira, reproduzir memórias pessoais (mas de cunho musical). No entanto, no inesquecível encontro que tive com ele em 1999 e mais recentemente em 2015, na "Festa dos 50 Anos da Jovem Guarda", onde extraí o máximo que podia de sua personalidade. O homem que eu conheci de perto e troquei vários telefonemas, apresentou um cansaço físico-existencial e uma ambiguidade comportamental. Entretanto nada que possa desaboná-lo como grande intérprete, apenas o que constatei que o ser humano sugestivamente feliz (assistam a reportagem da Record) era, na verdade, um artista insatisfeito para com as transformações que o tempo lhe impôs: perda contínua da vitalidade e beleza física, indiferença dos grandes empresários e gravadoras e a redução substancial de público parecem ter sido fatores decisivos em tal mudança de astral pessoal. Essa foi a impressão que ele me passou "in loco". Alguém pode até discordar, mas minha opinião deve ser respeitada, pois tive acesso a ele, também, em alguns novos contatos nada promissores. Foi o que as últimas ligações telefônicas deixaram claro, sem falar, enfim, na minha observação ao vê-lo pessoalmente.


Demétrius (Demétrio Zahra Neto) nasceu em 28 de março de 1942, no Rio de Janeiro. Era carioca e não paulista (como muitos já anunciaram). Segundo os jornais com textos apressados citando a persona de Claudio Fontana, o cantor teria morrido em sua residência, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, em 11 de março de 2019, em circunstâncias intransparentes. Tais informações sobre sua morte e últimos momentos de vida carecem de fontes confiáveis (pelo menos em respeito aos fãs) e por isso, fora o que possuo sobre ele (em entrevistas) sobre seu passado, renego, até que se prove o contrário o pouco que a imprensa noticiou. Sendo assim, fico no aguardo de colegas e pesquisadores de confiança em discutir novas fontes. Sem mais, o meu apreço a todos que valorizam histórias de personalidades que marcaram a existência da grande música jovem do século XX.      
                
Meu primeiro encontro e entrevista com Demétrius. E com direito a canja no violão.

Demétrius, em casa, em um apartamento próximo da Avenida Paulista, na capital, 1999. Crédito fotográfico: Euler Paixão. Acervo pessoal: Emerson Links.

PARA QUEM NÃO CONHECE DEMÉTRIUS, ASSISTA NO YOU TUBE:

COMPACTO DEMÉTRIUS CANTA PARA A MOCIDADE.


RITMO DA CHUVA (1964)

A BRUXA (1964)