quarta-feira, 23 de setembro de 2020

PRINI LOREZ É OUTRO PIONEIRO DO ROCK QUE PARTIU HOJE

Cantor afinadíssimo e sintonizado com o público de sua época, ficará marcado para sempre como o cover de Trini Lopez e não como o artista pioneiro da jovem guarda. Texto: Emerson Links.
A mídia esqueceu-o completamente. Até o horário de postagem desta matéria não vi nenhuma publicação nos grandes veículos digitais (ou não), muito menos nos blogs dito saudosistas. Fiquei sabendo da morte do cantor através de um dos meus peris da rede social facebook, lendo uma postagem-tributo do músico Mauricio Camargo Britto, que além de ser autor de um dos melhores livros sobre a carreira de Elvis Presley, acompanhou Prini Lorez em algumas apresentações musicais em eventos variados. A última vez que conversei com Prini foi em 2015, quando eu estava em SP, hospedado na residência da amiga e atriz, Silvana Farina (que trabalhou no longa "O Diário de Um Exorcista"), retomando as gravações com alguns pioneiros do início do rock and roll (pendentes). Eu, neste dia, final de tarde, estava prestes a me encontrar com Miguel Vaccaro Netto (na residência deste), exatamente às 19 hs (o comunicador era metódico e cronometrava o tempo para sempre encaixar compromissos). Mas lembro que, em tal data, numa ligação telefônica (via telefone celular) foi ele (Prini) que levantou meu astral dizendo que eu poderia falar com ele a qualquer hora, perguntando qualquer coisa, que estava realmente disposto a trazer novas informações paraa BÍBLIA DO ROCK. Eu tinha contato com ele desde 2003, quando me aliei a um estúdio de gravação para produzir um revival de rock and roll. Entre algumas regravações com pitadas de ineditismo sugeri "My Bonnie", versão gravada pelos Beatles. Prini detestou a sugestão imaginando que essa música fosse na versão infantil gravada pela cantora Regina Cordovil. Lógico que bastou ele ouvir a releitura dos Beatles para mudar de ideia (nos anos 1960 ele gravou uma clássica do quarteto, "I Want to Hold Your Hand" e a cover "Twist and Shout"). Infelizmente, entre idas e vindas, gravações de shows e depoimentos com artistas e bandas de diversas épocas distintas, o projeto com Prini Lorez foi ficando em segundo, terceiro e até quarto plano (sem previsão de retomada). Obviamente que assumo toda a culpa e sofro pela minha própria negligência. Mas fiz aquilo que estava ao meu alcance, pois, no Brasil, pouco produtores independentes possuem interesse em resgatar a nossa memória discográfica. Em tempo: Prini Lorez gravaria acompanhado da banda gaúcha Barba Ruiva e Os Corsários.Em compensação, gravamos com Ed Wilson e demais nomes do rock, mas isso é outra história. José Galiardi Jr., nasceu em 8 de maio de 1942, em São Paulo. Aos 17 anos, influenciado pela nascente cultura do rock and roll, mergulhou no gênero, até então, visto como definidor da essência juvenil. Não demorou para ele integrar os grupos The Avalons (ver ilustração abaixo) e The Rebels, que gravaram compactos pelo Selo Young (do já mencionado Miguel Vaccaro Neto), porém, sua carreira solo se desenvoveria brevemente como Gally Junior ("Baby", confira a gravação no final desta matéria) e posteriormente na pele de Prini Lorez (identificado por parte do público leigo como cover de Trini Lopez). Apesar da comparação inevitável, o rótulo parecia não incomodar o cantor e compositor que ganharia muito dinheiro na década de 1960, principalmente graças ao apogeu da jovem guarda. Décadas depois, no documentário "A História Secreta do Pop Brasileiro", de André Barcinski e sob a direção musical de Helio Costa Manso, Prini receberia elogios do próprio Trini Lopez, em depoimento gravado nos EUA (este, por sua vez, apesar de grande intérprete, foi o principal caroneiro de "La Bamba", sucesso de Ritchie Vallens em 1958).Detalhe:Trini Lopez morreu em agosto passado no dia 11, em Palms Springs, California. O fato inquietante é que a maioria das gravações de Prini Lorez eram versões de hit internacionais, mas acusavam vida própria ou, na pior da hipóteses, confundiam o grande público com o intérprete desbravador da canção lançada em determinado período. Lamenta-se que inexistam registro audiovisuais das performances de Prini em programas de TV, durante a década de 1960, onde gozava dos benefícios da juventude. Por ironia do destino, um dos seus principais caça-talentos ainda está vivo, o quase imortal Antônio Aguillar e do sobrevivente Luiz Aguiar. Entretanto, Lorez chegou a participar de algumas entrevistas no programa de Miguel Vaccaro Neto, produzido de forma independente e, consequentemente, postado no you tube, a fim de manter uma ponte com os seguidores nostálgicos. Miguel Vaccaro Neto, por infelicidade, faleceu nesta mesma semana terça-feira, dia 22 de semtembro, sem causa da morte divulgada, aos 87 anos de idade, em São Paulo. Pior faleceu sem ser noticiado pela emissora que o apoiou em início de carreira, a TV Record. Coisas de Brasil. Nos tempos atuais é caminho comum ser esquecido pela mídia, mas pior que ser pouco lembrado (apenas por alguns e poucos veículos independentes) é ser engolido por uma avalanche de notícias que se misturam umas a outras, em sua maioria, nas plataformas digitais.
Havia muito que fazer ainda, porém, ninguém seria capaz de imaginar uma tragedia em curso. Hoje mesmo, perdemos outro nome que iniciou no rock, Gérson King Combo, que imitava Little Richard, nos programas de Jair de Taumaurgo, mas que logo desenvolveu sua identidade musical tornando-se o Rei da Black Music Brasileira, a partir de 1972. Nos anos 1970, Prini Lorez reduziu seu campo de atuação, retornando em 1995 na edição comemorativa dos 30 Anos de Jovem Guarda, um empreendimento do Márcio, dos Vips, reunindo um grande elenco musical com regravações de clássicos em vários Cds. Enfim, Prini partiu desta dimensão, nesta quarta-feira, dia 23 de setembro, aos 78 anos de idade, após duas paradas cardíacas, segundo o citado Mauricio Camargo Britto. Tal acontecimento ainda carece de outras fontes e esperamos que logo tenhamos maiores informações. Enfim, vivemos um triste crepúsculo de uma geração que inaugurou o purismo juvenil e a rebeldia de natureza emocional. ... E as pedras continuarão rolando... até o último apagar a luz, certo?
Na foto acima (da esquerda para a direita): Antonio Aguillar, Prini Lorez e Nenê (Os Incríveis). PARA VOCÊ SABER MAIS, ASSISTA: