segunda-feira, 28 de outubro de 2019

MORRE PEDRO BALDANZA, MÚSICO FUNDADOR DO GRUPO SETENTISTA, SOM NOSSO DE CADA DIA

Símbolo do rock progressivo e da MPB alternativa, Baldanza é mais uma vítima do "Ano Assassino", que ceifou talentos que farão muita falta na cena nacional.


"Pedrão", que fazia bom uso deste nome carinhoso, adotado durante sua jornada na música nacional (nas funções de baixista, guitarrista e compositor) engrossava uma extensa lista de artistas injustiçados" - graças a uma mídia subdesenvolvida que sempre consagrou (e ainda consagra) ídolos descartáveis de uma industria fonográfica engolida pelo universo on line. Torna-se redundante cair na vala comum e afirmar que se músicos como ele estivessem no Primeiro Mundo, teria acumulado ao longo de uma carreira um sucesso sem igual. Haja vista que a banda que protagonizou, O Som Nosso de Cada Dia, representava uma geração que virava as costas para o consumo excessivo de bens descartáveis e valores estéticos superficiais. Basta dizer que o movimento hippie surgido, por volta de 1967, em todo o globo terrestre, ganhou uma sobrevida nos anos 1970. Depois da jovem guarda e da bandas psicodélicas dos anos 1960, Baldanza fez parte da geração de artistas que se consagraram através da crítica musical. Conviviam na mesma cena musical da década de 1970, grupos tais como Made in Brazil, O Terço, Casa das Máquinas, Bixo da Seda, A Barca do Sol, Vímana e tantos outros que, inclusive, mantiveram-se anexados a nomes artistas solos consagrados, como foi o caso do Tutti Frutti que ficou conectado a Rita Lee, então aclamada como a Rainha do Rock. Também havia A Bolha, Terreno Baldio e outros nomes singulares. Não é todo mundo que gostava de ser taxado de rock progressivo. Ainda lembro que nesses últimos dias recebi meu primeiro "não" de um senhor que foi músico do Som Imaginário, argumentando se tratar de um grupo de MPB, como se o rock fosse uma grande doença que deva ser evitada. Por outro lado, os Mutantes e seus colaboradores "satélites" não tiveram problema algum em sua transição estilística. Arnaldo Baptista e Sérgio Dias seguiram sem Rita Lee e gravaram um dos cem melhores álbuns da história do rock brasileiro, "Lóki" (1974) juntamente com "Snegs", do Som Nosso de Cada Dia (gravado na mesma época). "A vida tem dessas coisas", diria Ritchie, outro sobrevivente desta geração, via Vímana e que, posteriormente, faria sucesso nos anos 1980, como cantor de sucesso no mainstream. A vida tem dessas coisas, sim, mas a vida passa em branco se você não enfrentá-la com sutileza, sempre reinventando seu cotidiano. E essa era uma das coisas que Pedrão exteriorizava como ninguém.

Os músicos da formação clássica do Som Nosso de Cada Dia.



 Vou me limitar a escrever a biografia do artista aqui que, prudentemente, entrevistei no dia 20 de setembro do ano corrente. Cabe informar que Pedrão não se limitava ao rock, trilhava rumo a outras direções. Não por acaso, acompanhou ícones renomados como Elis Regina, Ney Matogrosso, Raul Seixas, Sá & Guarabyra, Zizi Possi, Marina Lima, Lobão e outros menos cotados. Conforme o combinado a entrevista seria usada tanto para o livro e o filme em curso quanto para o programa de rádio web que eu lancei esse ano em meu canal informalmente a fim de saciar a curiosidades daqueles que me acompanham durante anos. É notório o fato de que passei um tempo off line a fim de me dedicar a parte executiva de A BÍBLIA DO ROCK. Foram muitos anos de captações audiovisuais envolvendo os grandes nomes que fizeram história, dos anos 1950 até o tempo presente, sem preconceitos e adoção de rótulos privilegiando este ou aquele nome. Famosos ou não todos se tornaram iguais perante as Leis Sagradas da Nação Roqueira. Entre as atividades que retomei foram os depoimentos gravados em formato personalizado para a Bíblia do Rock. Entretanto, as mortes constantes de alguns nomes familiares da cena artística impediram maiores avanços, fomentando um indesejável obituário.
  Pedro Augusto Baldanza, partiu nesta segunda-feira, dia 28 de outubro, em Belo Horizonte, aos 66 anos de idade, de acordo com informativos do perfil do músico nas redes sociais. Sua última aparição pública foi no dia 13, no Centro Cultural de São Paulo, no show que apresentou canções ineditas do novo disco "Mais Um Dia", que virou uma celebração dos 45 anos de estrada do Som Nosso de Cada Dia. No passado glorioso, chegou a abrir em 1973, a turnê de Alice Cooper pelo Brasil.  (...) E a vida tem dessas coisas. Ficaram as marcas do que se foi... Para além da eternidade.