segunda-feira, 11 de agosto de 2014

RAUL SEIXAS - 25 ANOS APÓS A MORTE DO MALUCO BELEZA

TEXTO: Emerson Links.



   Considerado o roqueiro mais completo da história, o cantor e compositor baiano, músico e produtor (por forças desconhecidas da natureza), atravessou toda a adolescência sonhando ser tão relevante quanto os ícones do rock que reverenciava, os principais de sua geração, Elvis Presley, Bob Dylan e Os Beatles (isso só pra simplificar), incluindo os brasileiros Celly Campello, Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, Demétrius, Ronnie Cord, Tony Campello e assim por diante. Basicamente seguindo esse mandamento musical, o mandamento do rock, Raulzito foi o pioneiro do rock em Salvador, Bahia, a partir de seus 12 anos de idade, ao lado do amigo Waldir Serrão, idealizou o Elvis Rock Clube, mas logo em seguida veio a primeira banda Os Relâmpagos do Rock. Posteriormente, The Panthers, Raulzito e Os Panteras (depois Raulzito e Seus Panteras), na gravação do primeiro álbum, lançado pela gravadora Odeon durante o carnaval de 1968. Esse lançamento foi um fracasso de vendas. Reza a lenda que a gravadora apenas constituía um catálogo de lançamentos nacionais para cumprir uma exigência e somente assim podia seguir investindo forte nos artistas gringos. O primeiro e único álbum de Raulzito e Os Panteras virou um adereço cult de colecionadores e amantes do cantor que faria sucesso primeiro como produtor de discos do então famoso ídolo da jovem guarda Jerry Adriani e posteriormente de nomes como Renato e seus Blue Caps, Leno, entre outros. Na ausência do diretor da gravadora, Raul Seixas produziu seu primeiro trabalho transgressor, "A Sociedade Gran Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez", em parceria com Sérgio Sampaio, Edy Star e Mirim Batucada. Samba, MPB e outros gêneros tudo num só caldeirão efervescente. Era quase um disco tropicalista. O próprio Sérgio Sampaio que Raul Seixas ajudou em início de carreira seria seu principal incentivador na questão de assumir finalmente seu lado de cantor e compositor, que sempre falou mais alto, desde Raulzito e Os Panteras. 
No Brasil, seu país de origem mas não de coração (pois queria ter nascido nos Estados Unidos), Raul Seixas se tornou tão importante quanto os ilustres citados o foram em suas pátrias idolatradas. De roqueiro tradicional, Raulzito, como era carinhosamente chamado por amigos, músicos e fãs, converteu-se nos anos 1970 em um alquimista do rock, o primeiro e único da história. Revolucionou o rock e a MPB, explorou poesia e filosofia em suas canções, uma boa parte em parceria com o escritor Paulo Coelho e outras com compositor Claudio Roberto, fundou uma utopia chamada Sociedade Alternativa, fez muito sucesso como artista musical, ganhou e perdeu muito dinheiro, e sobretudo, morreu jovem - para os padrões atuais - com nada menos que 44 anos. Para alguns morria apenas um cantor talentoso, para outros nascia a maior lenda do rock brasileiro.
   Raul Seixas, mesmo morto há 25 anos, continua sendo uma unanimidade quando o assunto é música. Tanto bandas de rock quanto artistas da MPB de todas as épocas fazem dele uma referência e isso sempre rende inevitáveis tributos. Talvez o maior equivoco de toda a idolatria dos fã seja a falta de uma pesquisa profunda e raciocínio lógico: Raul Seixas é o Rei do Rock Brasileiro mas Pai do Rock certamente que não porque para isso teria de ser o pioneiro e antes de Raulzito existiram outros nomes que ele próprio idolatrava. Frequentemente jornalistas de plantão e blogueiros amadores insistem chamar Raul Seixas de Pai do Rock Brasileiro (quem inventou essa expressão, poucos sabem), o que ninguém lembra é que sensato seria lembrar de quem criou o primeiro rock genuinamente brasileiro para ser considerado "o pai do ritmo". Nesse caso, a paternidade do rock brasileiro, do pai da criança reside na polêmica de quem gravou a primeira composição original. No caso, por volta de 1957, Cauby Peixoto gravou "Rock and Roll em Copacabana" e Betinho e seus Conjunto lançou "Enrolando o Rock". Ainda se discute essa paternidade, mas é certo que esses foram os primeiros, portanto, cabe chamá-los de pioneiro, de pais do rock brasileiro. Até o próprio Raul Seixas admitia isso em vida, sempre citava seus antecessores e até gravou um disco com versões deles: Celly Campello, Sérgio Murilo, Ronnie Cord (tudo bem esses, em grande parte regravaram versões em sua carreira), mas ainda havia Eduardo Araújo (com canções próprias) e, sem dúvida, existiu Roberto Carlos e Erasmo com a jovem guarda. Se esses dois últimos também foram pioneiros e lançaram canções originais (letra e música) porque ainda tem gente que insiste na ideia de Raul Seixas ser chamado de Pai do Rock Brasileiro? Não seria mais sensato ele ser aclamado como o Rei do Rock? Trata-se de uma pergunta que não quer calar e que merece melhor reflexão. Mesmo o mais fervoroso fã de Raul Seixas, conheci alguns, chegaram a essa linha de raciocínio. Imparcialidade e sensatez é para os raros.
   Eu poderia recontar toda a história do grande ícone nesse espaço, mas seria apenas mais uma matéria escrita entre milhares que se perderam, se perdem e se perderão nos tabloides e revistas. Livros nem se fala. Possivelmente Raul Seixas é o artista brasileiro que mais foi contemplado com biografias lançadas em livros e revistas. Em disco, Raul Seixas foi o maior baú de raridades (Sylvio Passos, filho espiritual e de criação de Raul, que o diga!). Infelizmente apenas no cinema Raul Seixas não recebeu o devido respeito em um longa-metragem que fosse capaz de ser um estudo profundo de sua obra musical. No decepcionante "Raul - O Início, o Fim e o Meio", a vida do maluco beleza é tratada como um "making off" cujos prolongados bate-bolas e depoimentos mal conduzidos soterram uma cronologia musical de supra importância para as novas gerações. Exercita-se a idolatria e a música e filosofia do artista nega-se a transcendência de sua obra. "Raul - O Início, o Fim e O Meio", no entanto, abre um leque para novas produções de qualidade que se proponham a desvendar ou, ao menos, biografar com rigor o artista Raul Seixas. Não foi desta vez, senhores, que os fãs puderam desfrutar de um grande inventário de um ícone do rock. Se qualidade técnica dos documentários brasileiros melhoraram 90%, por outro lado, retrocederam devido a falta de "roteiristas-autores" e não "roteiristas-pau-pagos". Contudo, como passa-tempo, "Raul - O Início, O Fim e O Meio", distrai, desinforma, mas oferece uma maravilhosa fotografia de Walter Carvalho e competente produção de Denis Feijão. Quando documentários no cinema brasileiro deixarem de ter cara de "making off", a evolução audio-visual tomará seu rumo.
   Retomando o "X" do problema e discussão ainda adormecida no circuito do rock -  frente a negligência de maiores esclarecimentos, retomo debatermos com sensatez a titularidade de "Pai do Rock" e "Rei do Rock" no Brasil. Tem muita gente na fila, incluindo vivos e mortos: Betinho e seu Conjunto, Celly Campello, Sérgio Murilo, Tony Campello, Eduardo Araújo, Roberto Carlos, Eduardo Araújo, Erasmo Carlos, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, entre outros que iniciaram antes. A grande questão é separar o emocional do racional. Não é preciso ser doutorado em rock and roll para reconhecer que Raul Seixas foi o ícone que melhor apresentou qualidades para ser eleito "O Rei do Rock Brasileiro". Agora, paternidade é outra história... Ciente de uma lucidez emergencial nos meios acadêmicos e informais, reabro a discussão, meus caros amigos.









































ATENÇÃO: Matéria sendo escrita em tempo real. Aguarde a finalização da mesma.


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