domingo, 29 de julho de 2018

WALDIR SERRÃO, O DJ QUE LANÇOU RAUL SEIXAS

Muito antes de conhecer Raul Seixas no final dos anos 1950, o comunicador baiano, recém falecido, era fortemente influenciado pelo rock and roll que estava em fase de gestação e mal sabia, na época, que a música se tornaria seu meio de vida, como também, sua ruína.



Esquecido pela mídia, um dos primeiros divulgadores do trabalho de Raul morreu na miséria. O mercado da música no Brasil é uma autêntica inversão de valores. Sabemos que quanto pior melhor. Basta checar o hit parade atual para constatar que quanto mais medíocre for o trabalho do artista melhor. "Ora, para que perder tempo filosofando?", questiona um produtor de funk de latrina que encontrei nos corredores de uma grande gravadora (recuso a fazer, aqui, propaganda de tal gravadora). "Pois bem" - respondi em tom de ironia. "Isso que chamam que "funk" e não o é custa centenas de vezes para ser produzido que um intérprete de renome da MPB. Alguém como Raul Seixas na industria fonográfica brasileira dos dias de hoje seria considerado investimento de risco". Questiono, agora, nessas emergenciais linhas. E onde entra Waldir Serrão nisso tudo? Em quase nada, exceto por ser lembrado em todas os jornais e sites do Brasil que ele foi um dos comunicadores pioneiros do rock no Brasil (já perdemos muita gente desta época em curto prazo de tempo, restam apenas Antonio Aguillar e Miguel Vaccaro Neto, dois nomes que ainda sustentam a memória das gerações que pavimentaram a música jovem brasileira, em outras palavras, a jovem guarda). Waldir Serrão foi o primeiro DJ de rock and roll puro na Bahia. Antes dele não existia ninguém e, com justiça, pode ser comparado aos demais que, assim como Carlos Imperial, foi importante para a disseminação do ritmo musical mais democrático de todo o planeta. Imperial iniciou um movimento de divulgar o rock and roll na segunda metade da década de 1950, no Rio de Janeiro, juntamente com outros nomes célebres como Jair de Taumaturgo e posteriormente José Messias. Chacrinha também incentivaria o ritmo, mas bem depois, por assim dizer, tinha inventado aquela campanha contra o ritmo, por volta de 1960, amplamente documentada pela Revista do Rádio. Em São Paulo, havia Miguel Vaccaro Neto (co-fundador do Selo Young, que lançou bandas de rock nos idos de 1950) que teria seu programa de rádio divulgando rockabillies e baladas doo wop e lançando nomes que, comparado aos dias de hoje, soaria como o underground da época: as bandas The Avalons, The Rebels, The Teenagers, The Young's, The Scarletts, entre outras. E os intérpretes: Demétrius (que ficaria super popular na próxima gravadora que seria contratado, a Continental), Hamilton Do Giorgio (além de cantor também versionista), Dori Angionella (posteriormente Dori Edson), Marcos Roberto (o futuro ídolo da jovem guarda), Carlos David e o guitarrista Gato. Isso só para ilustrar os mais vistosos do período que soavam underground e batiam de frente com o então mainstream, afinal, entre 1959 e 1960, os nomes quentes eram Tony Campello, Sérgio Murilo, Celly Campello, Sonia Delfino, Carlos Gonzaga, George Freedman, Ronnie Cord, entre tantos, variando de pedigree e de gravadora. Enquanto isso, na Bahia, no desenrolar de 1957, surgia, Waldir Serrão e seus Cometas, considerada, segundo ele próprio, a primeira banda de rock da região. Dois anos mais tarde, Serrão, tão garoto franzino que era, já liderava o programa Só Para Brotos, na Rádio Cultura. Eram tempos em o rock de raiz fazia a cabeça da juventude transviada, que se manisfestava através do visual topete com brilhantina, jaqueta de couro e calças jeans: Bill Haley e seus Cometas, Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Gene Vincent, Buddy Holly, Fats Domino, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Eddie Cochran, Johnny Burnette e mais uma grande constelação deixaria esse parágrafo muito sobrecarregado. Pouco antes disso, Waldir Serrão havia criado o Elvis Presley Rock Club em parceria com um menino de 12 anos chamado Raul Seixas. E ninguém podia prever o que viria pela frente a partir deste encontro. Eram as duas únicas figuras que entendiam de rock na Bahia.

Da esquerda para a direita: Waldir Serrão e Raul Seixas.


Em entrevista a Debora Alcantara ao jornal on line O Rebate, Serrão, certa ocasião, abriu o jogo: "Eu comecei tudo. Fui eu quem levou Raulzito para esse mundo, mesmo contra a vontade de Dona Maria Eugênia, a mãe dele. Mas ele morreu roqueiro". Certamente a culpa não seria de ninguém de Raul ter morrido devido a vida turbulenta que o rock and roll participou como trilha sonora. Certamente, se não fosse pela boca de Waldir Serrão haveria qualquer outro tipo de influência. Raul era rato de discos importados e conseguia comprá-los na alfandega, que era algo parecido com a pirataria de camelôs de hoje, porém, os discos adquiridos (contrabandeados) eram originais e não cópias. Serrão e Seixas eram bem abastecidos de cultura estrangeira e consequentemente podiam comandar a juventude local. Waldir saiu em vantagem porque começou tudo como DJ num programa de rádio. Já Raul ainda não tinha montado sua primeira banda Os Relâmpagos do Rock, porém, partia para as mimicas, o que era comum entre os calouros que frequentavam os programas de rádio da época.


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