sábado, 19 de abril de 2014

ROBERTO CARLOS COMEMORA MAIS UM ANO DE ANIVERSÁRIO SEM APRESENTAR NOVIDADES EM SUA CARREIRA


Texto: Emerson Links.












   Muito já se falou sobre o cantor e compositor mais popular do Brasil, tanto que, qualquer informação de sua carreira aqui pode soar redundante. Do início do rock em 1957, passando pelo apogeu da jovem guarda até se tornar um ídolo dos adultos no final da década de 1970. Roberto Carlos trilhou um árduo caminho até chegar onde chegou. Entre muitos depoimentos de personalidades que conviveram com ele fiquei estupefato sobre parte de sua vida pessoal e isso explica sua personalidade por demais excêntrica. Como não faço parte do grupo que depende da Lei de liberação das biografias, fico "relax". O meu interesse aqui e em todas as modalidades da "Bíblia do Rock" é somente retratar o personagem "rock and roll" e todos os profissionais que vivenciaram suas décadas de existência atuando no gênero. Obviamente, entre todos os nomes que se iniciaram no rock consta o ícone "Roberto Carlos".
   Como já cansei de repetir em cada matéria associada a gênese do rock, antes de existir o grande ídolo da jovem guarda, existia uma leva de nomes que foram os autênticos pioneiros da música jovem no Brasil - Celly Campello, Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, George Freedman, Ronnie Cord, Demétrius, Sônia Delfino, Célia Vilela, Cleide Alves, Reinaldo Rayol e Eduardo Araújo, o Garoto do Rock - isso só para citar os nomes que faziam sucesso no rádio. Bandas idem: Betinho e seu Conjunto, The Blue Jeans Rockers, The Jordans, The Clevers, The Jet Black's, Renato e seus Blue Caps, além de grupos vocais como Os Golden Boys e The Playings. Todos esses nomes citados antecedem Roberto Carlos, ao menos quando o assunto é o primeiro disco gravado de rock and roll.
   O pioneirismo em termos de registro discográfico é o que acaba fazendo a diferença no futuro. Entretanto, é de conhecimento público, dos fãs que viveram os anos dourados, que o cantor Roberto Carlos ficou apaixonado pelo rock and roll pouco antes de 1957, mas seu ideal musical, nessa época, era mesmo a MPB. Carlos Imperial que o diga... queria lançar Roberto Carlos como "o novo Elvis Presley", mas o futuro brasa sempre ficava atrás dos cantores jovens já lançados e o jeito foi investir na segunda paixão, a bossa nova. Imperial cavou em seus contatos alguém que aceitasse lançar Roberto Carlos como um novo nome da bossa nova. Até que saiu o primeiro compacto de Roberto Carlos, trazendo duas faixas, "João e Maria" e "Fora do Tom", lançado pela Polydor, em 1959. Sempre disposto a ouvir novidades naquela época, o grande comunicador José Messias disse: "Roberto Carlos é bom imitador de João Gilberto. Para que precisamos de um imitador se já temos "o original" cantando em rádio e em disco? João Gilberto só existe um". Não tinha jeito e nem espaço para Roberto. E foi o próprio José Messias que deu a ideia antes deixada de lado. "Está faltando gente no rock. Existe espaço para isso. Temos cantores de rock como Celly Campello e Sérgio Murilo, mas eles só cantam versões. Está faltando alguém que escreva canções originais de rock e seja intérpretes da mesma". Era a injeção de estímulo que faltava. Se Roberto Carlos tivesse insistido na bossa nova seria mais um "João Gilberto", mas no rock and roll podia ser, como se dizia na época, "o maioral". E, de fato, foi isso que aconteceu depois de Roberto gravar o primeiro long-play, "Louco Por Você", produzido por Carlos Imperial e lançado em .... Neste disco de 12 faixas, Roberto continuaria sendo criticado por imitar João Gilberto e não é pra menos que esse trabalho foi excluído de sua discografia oficial. Apenas colecionadores reconheceriam tal álbum como o início de uma grande carreira para o cantor. Por mais que disfarce, Roberto nunca se recuperou deste deslize e por coincidência nem a sua foto aparece na capa do disco.
   Com apoio do Chacrinha, José Messias, Jair de Taumaturgo e Carlos Imperial, ainda no Clube do Rock, Roberto Carlos iniciou uma nova via crucis deixando ser testado em cada gravadora, cantando rock and roll. Ainda era 1962, Sérgio Murilo havia sido eleito "O Rei do Rock" no Brasil através de uma eleição promovida pela Revista do Rock, e Roberto continuava tentando e tentando. Foi a saída de cena do próprio Sérgio Murilo do cast da gravadora CBS que favoreceu o ingresso de Roberto Carlos como a nova promessa do rock and roll. Havia comentários de que o todo poderoso Evandro Ribeiro não gostava de concorrência dentro própria gravadora, mas quem já ouviu falar da vida particular de Sérgio Murilo nos bastidores sabia muito bem qual era o real motivo de sua saída. Além do mais, comenta-se que Sérgio Murilo afrontou Evandro e questionou números de vendagens e isso custou o seu reinado. Com um espertalhão a tira colo como Carlos Imperial, Roberto Carlos   construiu rapidamente os primeiros degraus da escada que o levaria para o sucesso. Entretanto, Erasmo Carlos era o personagem mais importante desta escalada e vinha perseguindo o estrelato tanto quanto Roberto desde 1957. Graças a Erasmo Carlos, o brasa fincou os pilares de suas primeiras composições de rock and roll. Erasmo Carlos era um bom letrista, antes de ser um compositor eficiente. Ambos chegaram a compor canções para o álbum de Cleide Alves, ainda em ínicio de carreira. Em 1963, Erasmo Carlos era crooner do Renato e seus Blue Caps, após a defecção de Ed Wilson que havia optado pela carreira solo. No mesmo ano que Erasmo foi lançado em um LP com Renato e seus Blue Caps, Roberto Carlos estreou finalmente em grande estilo com uma versão de um sucesso de Bobby Darin, "Splish Splash" em um compacto simples, que tocou nas rádios até a exaustão. O inevitável primeiro álbum oficial lançado pela CBS trouxe composições originais de rock inaugurando a parceria vitalícia Roberto Carlos-Erasmo. A canção carro-chefe dessa estreia de Roberto Carlos como cantor de rock e compositor foi "Parei na Contramão". Era uma época onde a juventude prezava pela alta velocidade e pelas transgressões no trânsito. Desafiar as autoridades era estar em dia com a rebeldia. No mesmo ano em que os Beatles estouravam na Inglaterra, Roberto Carlos aparecia no Brasil como uma grande promessa. Sem Sérgio Murilo na concorrência, os demais rivais suariam a camiseta para alcançá-lo. Todos os álbuns de Roberto Carlos que seriam lançados na sequência trariam poucas versões e mais canções originais. Era o rock brasileiro construindo sua identidade mais em dia com o universo urbano juvenil. De todos, Demétrius ainda tinha algumas composições originais que gravou de autores como Baby Santiago como "Rock do Sacy", mas no geral, ainda bebia na fonte das versões de sucessos internacionais. Entre outras coisas, Demétrius se manteve no topo graças ao seu indiscutível talento vocal e carisma (pra não falar da pinta de galã) e sobretudo por causa de sua amizade com Roberto Carlos. Ambos tinham em comum o gosto pela pescaria. Isso incluía também o amigo de todas as horas, Erasmo Carlos, que acompanhava os amigos em longas jornadas. E preciso dizer qual foi o nome do primeiro álbum de estreia dele? "A Pescaria".
   Foi com a estreia de um programa de TV, Jovem Guarda, em 1965 que Roberto Carlos dominou geral, conquistou seu reinado, desbancando todos os ídolos do passado. Juntamente com ele estavam Erasmo Carlos e Wanderléa (nova estrela que ocupou o vazio deixado por Celly Campello), que emocionaria o público com as jovens tardes de domingo. O programa trazia muitas atrações convidadas. Havia espaço para o novo rock brasileiro (também chamado de jovem guarda) e para a música jovem romântica, primordialmente protagonizada por Jerry Adriani e Wanderley Cardoso. Evidentemente, outros programas de TV comandados por jovens cantores e bandas entrariam no ar tentando desbancar "o Rei". Diga-se de passagem que o apelido de "Rei" nada tinha a ver com Rei da MPB e sim tratava-se de "Rei da Juventude", título concedido por Chacrinha a Roberto Carlos em 1966. Essa confusão persiste até hoje, o que faz o público da TV Globo crer na chamada dos especiais de fim de ano de Roberto Carlos consagrando-o como o genuíno Rei a MPB. Daí, pergunto: por acaso Cauby Peixoto morreu? Quem tem mais voz? Roberto Carlos ou Cauby Peixoto? A polêmica deixo para o público resolver.
   O rock brasileiro entraria em um novo ciclo com o início da Tropicália, que também ganhou um programa de TV com Caetano Veloso, Gilberto Gil & amigos. Fora isso, durante o apogeu de Ronnie Von, um forte e suposto rival de Roberto Carlos, uma banda conhecida como Os Mutantes começou a balançar as estruturas, onde se apresentava. Esse foi o momento que o fantasma do velho sonho de ser um ídolo da MPB começou a assombrar Roberto Carlos. Ele tão pouco já não era tão jovem assim. A beatlemania havia acabado juntamente com toda a invasão britânica nos Estados Unidos. O movimento hippie trouxe novas transformações estéticas. No circuito internacional, Jimi Hendrix, Janis Joplin e bandas como The Doors ameaçavam tudo aquilo que acreditava-se que fosse "novo". Era hora de mudar. Roberto Carlos saiu do programa de TV, abandonando de vez a jovem guarda e partindo de mala e cuia para o Festival de Música San Remo. De lá, o cantor começou a sua transição para o mundo adulto. Para os críticos, a qualidade de suas composições foi melhorando a cada disco, mas para os curtidores de rock tradicional foi o fim de um ícone de uma geração. Erasmo Carlos faria quase o mesmo, mas continuaria, pelo menos, eventualmente interessado em gravar algum rock.
   O canto do cisne viria com um filme "Roberto Carlos a 300 Km por Hora", dirigido por Roberto Farias e estrelado por Roberto e Erasmo Carlos. Além de Roberto praticamente não interpretar nenhuma canção em cena pela simples razão de levar à sério a carreira de ator, nenhum rock de sua autoria aparece na película, exceto o tema de abertura, se é que dá para chamar tal música de rock... Lançado em 1971 nos cinemas, "Roberto Carlos a 300 KM por Hora" foi um sucesso de bilheteria. Tudo levava a crer que Roberto Carlos, tomando gosto pela coisa, iria atuar em mais um filme (sabe-se que existe um contrato até hoje não cumprido para o cantor estrelar o último filme em parceria com o cineasta). Porém, o sonho de ser o ídolo máximo da MPB falou mais alto. Roberto Carlos, seguindo os passos de Elvis Presley (que reclamava que seus filmes atrapalhavam as turnês), abriu mão do prestígio que havia conquistado nas telas e nunca mais participou de nenhuma produção. Outra coisa que Roberto se assemelhava com Presley, fora a fase romântica, era o gosto pelo soul muito em alta na década de 1970.
   Definitivamente Roberto Carlos saiu do eixo. Em matéria de rock também não dava para competir com novas bandas como a Made in Brazil, O Terço, A Bolha,  Bixo da Seda, Casa das Máquinas, entre muitas. Além do mais, o rock brasileiro já tinha uma nova rainha, a senhorita Rita Lee Jones, que tinha saído dos Mutantes para seguir carreira solo. Logo, Rita Lee se aliou ao Tutti Frutti. Não demorou muito também para Raul Seixas fazer sucesso sabendo misturar com maestria rock and roll e os mais variados gêneros. Em todo esse contexto onde Roberto Carlos se encaixaria fazendo rock?..
   ... E foi assim, ano a ano, as capas trariam sempre o nome do cantor na capa. A maioria das canções, com o passar dos anos, normalmente encantando um público de meia-idade e idosos, passou por um colapso de criatividade e arranjos cada vez mais repetitivos. Críticas nunca atrapalharam as vendas dos discos. Mesmo em pleno século XXI, com a internet incomodando a indústria fonográfica, Roberto Carlos manteve seu reinado. Seu último grito de nostalgia ficou registrado no Acústico MTV, que gravou para a emissora que mais sabia conversar com o público jovem. Pela primeira vez, ele realizou um trabalho diferente passando por cima do seu contrato exclusivo com a Rede Globo. Mas a polêmica parou por aí e para os amantes do velho rock de Roberto Carlos só resta olhar para trás. E sem parar na contramão.

Para saber mais assista no you tube:




   




















Um comentário:

  1. bahh que excelente explanação sobre o ídolo , REI . robertão.. aguardo!!!

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